BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

2011...2012 - Balanço do Blog



Caros leitores (as),

O ano voou. Alguém teve este mesmo sentimento? Não sei se isso é bom ou ruim, mas o ano passou como um raio, um cisco. Não sou daqueles que fica colocando na balança os prós e contras. É a vida que temos que passar, não existe outra. Neste ano tive uma perda grandiosa, meu irmão partiu, viajou fora do combinado... A vida é assim mesmo: sempre recomeçando; sempre um novo ano para fazer nossas promessas e melhorias onde não andou bem. E as perdas estão por acontecer. Um dia seremos nós os perdidos.

Eu comecei o ano achando que não teria tanta inspiração para escrever. Às vezes achamos que a fonte secou, mas logo vêm fatos novos, ou lembranças, ou histórias que não resistem ficar tão somente na nossa memória. Precisam sair pelos poros.

Como já falei aqui (ou lá no Facebook?), tudo que escrevo é meu, pertence a mim até quando está na construção, na folha virtual do word, depois já não mais me pertence. Pertence ao leitor que lê, interpreta e assimila ou não aquilo para sua vida. Comigo só fica os direitos reservados da escrita.

Este ano recebi vários comentários – agradeço a todos! -, mas teve um que veio de uma pessoa anônima (Giulia Ramalho). Ela escreveu num e-mail para mim:

“Tenho 14 anos não me interesso muito por leitura já tentei ler aguns livros até consegui termina-los mais confesso que não tinha aquele prazer em lê-los , estava procurando algumas crônicas porque estou aprendendo sobre gêneros textuais . Até que acabei chegando em seu Blog , parabéns adorei suas postagens ,sobre sua infância sobre algumas experiências de vida que você passou, o jeito com que escreve é adimirável , tenho que dizer de todos livros que li nenhum se compara ao prazer que tive de ler suas postagens ,Parabéns e obrigada .

Fiquei mega feliz e compartilhei com alguns amigos. É isso, quando jogamos nossas conversas na rede, elas se espalham. Por isso, a responsabilidade se torna maior ainda. Não sabemos até onde e em quem aportarão.

As caminhadas, as conversas de bar, as notícias, as lembranças, as piadas no Facebook... Tudo virou fonte de inspiração para escrever. Quantas vezes, voltando de uma caminhada, eu já tinha quase o texto todo na cabeça. Ia pra frente do computador e escrevia, escrevia... Depois lembrava que tinha que tomar banho.

Houve aqueles textos que deram trabalho, demoraram. “O pecado mora ao lado” foi um desses. Comecei, fechei, larguei e mudei o rumo da prosa no meio. Tudo depois que li um livro sobre Marilyn Monroe.

Estou feliz com a produção do ano. Comecei o Blog em Abril de 2010, com 03 crônicas já escritas. Este ano, escrevi 12 crônicas a mais que 2010. Qual delas eu gostei mais? Todas! A importância que cada uma teve na sua construção me fez feliz naquele momento. Algumas eu resumi em poucas palavras; outras foram mais longas. Escrevi entre 600 a 1200 palavras cada uma - para não cansar o leitor.

Segue a lista, em ordem de postagem, para quem perdeu alguma. Clique e leia. Ainda dá tempo, o ano ainda não acabou e no próximo tem mais.

UM FELIZ ANO NOVO!

CRÔNICAS - 2011:

1 - Por você, faria isso mil vezes (escrita no apagar das luzes de 2010)

2 - Pão com manteiga






8 - O adesivo da família feliz (a mais lida. Por que será?)


10 - Pedras e diamantes (2ª mais lida)






16 - O pecado mora ao lado (a mais demorada para escrever)



19 - O avião azul (em memória de Tarcício de Oliveira)













© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / dezembro de 2011.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Natal sem crônica

Este ano não escrevi nenhuma crônica para o Natal; minto, escrevi “As luzes de Natal”, mas nem considero que foi um mergulho, foi um nado no raso... Explicarei adiante. Antes, uma história que fala de formação, de infância pobre e de superação.

Para quem não conhece – já citei algumas vezes aqui - Reinaldo Azevedo é um jornalista político; ele tem um Blog desde 2006, onde comenta especificamente sobre política, embora fale de outros assuntos também. O Blog é atualizado diariamente com seus textos. Chega a escrever um livro por semana. Há quem o odeie; mas há muito mais os que o amam - seus fiéis leitores. De fato, ninguém consegue ser unânime. Nem ele o será. Ainda mais com temas tão polêmicos.

São 120 mil visitas por dia no Blog. Creio que seja um Recorde, se comparado aos outros que tratam de assuntos análogos. Sou um desses, desde 2006. Empresários, políticos (até os que o odeiam), artistas, humoristas, cineastas, anônimos, todos consultam seus textos antes de formar opinião sobre qualquer assunto. Reinaldo já criou jargões, inventou palavras; é irônico, tem picardia, humor, mas por trás de tudo que fala tem esta coisa do compromisso com a verdade, com argumentação dos fatos; não deixa nada sem resposta do que publica. Como ele mesmo deixou claro, pode-se ter opinião contrária do que se diz, só não pode ter opinião sustentada na mentira. Esse é Reinaldo, ou Tio Rei, como gosta de ser chamado.

Outro dia uma pessoa me disse – numa forma de me inquirir - que sou um escravo de suas publicações. Não, eu o leio diariamente para ter lucidez (ou mais) sobre o que penso e que está nos noticiários por aí. Demais leitores do seu Blog fazem o mesmo. Leio também outros cronistas, em especial os que escrevem no jornal Folha de São Paulo: Pondé, Coutinho, Marcelo Coelho, Ruy Castro, Eliane Catanhêde, Danuza, Barbara Gancia e também leio Dora Kramer do “Estadão”. Mas, nenhum desses têm mais retidão, lucidez no que escreve do que Reinaldo Azevedo.

Bem recente, ou para ser preciso dia 24/11/2011, ele postou um texto que emocionou a mim e muitos dos seus leitores. Na última vez que fui conferir já ultrapassava os 1400 comentários.
Ao ser chamado por seus algozes, de reacionário, tucano e principalmente de representante da elite e burguesia, Reinaldo, tomou fôlego e escreveu nessa madrugada um texto comovente. Trouxe para todos a sua origem humilde, de quem foi pobre um dia, mas nunca se deixou vencer por essa fraqueza e estupidez latente de se apoiar na pobreza para se justificar e dizer: sou um herói! Recebendo aplausos, como fazem alguns políticos por aí. Não precisou disso. Estudou, lutou e venceu. Somente isso, ou tudo isso. O texto do “Ferrorama” você pode ler (Clique aqui). Depois que li pensei, como muitos dos seus leitores, nas nossas histórias de vida, que muitas pessoas não imaginam existir. Assim, nos rotulam disso e daquilo.

Voltei ao meu texto do ano passado sobre o Natal.

Este ano não escreverei nada sobre o Natal. Acho que tudo que tinha que dizer sobre as lembranças, sobre minha infância – o Natal tem gosto e cheiro de infância -, sobre os presentes, está na crônica que postei aqui o ano passado: "O presente de Natal". Quiçá, no próximo ano escreverei um conto de Natal, ou contarei uma história sobre o Natal de outras pessoas, mas a minha história está nessa crônica, não tem outra. Quem não leu ainda, convido à leitura (Clique aqui). Confesso, quando escrevi algumas lágrimas desceram. Depois passou. Assim como foi difícil para Reinaldo Azevedo aquele texto (Este será um texto difícil, leitores!), para mim também foi esse. Falar da infância tão longe, mas tão presente ao mesmo tempo em nossas lembranças; falar do presente de Natal que veio numa Kombi que estacionou no portão de casa, só com lágrimas nos olhos.

É chegado o Natal. Famílias cristãs do mundo inteiro se dão as mãos num abraço à manjedoura do Menino que vai nascer; numa corrente de união, oração, fé, esperança, luz, perdão, paz e amor. Podemos viver um Natal sem crônicas, sem histórias e contos; mas não podemos viver um Natal sem esses ingredientes. E as lembranças? Guardo todas, pois nenhum Natal será melhor como os que vivemos sem brinquedos. Eles nos trouxeram a compreensão e os grandes tesouros. De onde viemos tristes, eu sei, mas não morremos por isso; nem por não ter tido um mísero ferrorama.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / dezembro de 2011.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu queria poder voar


Na mitologia grega, foi Ícaro quem saiu de uma prisão voando com asas de cera. Mas, durante seu voo desobedeceu a seu pai Décalo. Ele recomendou que não chegasse próximo ao sol para não derreter as asas. Inebriado pela sensação de liberdade e poder, Ícaro subiu mais alto que podia até o sol derreter suas asas de cera e cair no mar.

São lendas e histórias que nossos antepassados nos trazem, mas na sutileza, com algum conteúdo para nossa vida. A liberdade alcançada, a desobediência e a queda. A carta de navegação que não se segue. Quanto nos vale a liberdade? A que altura podemos chegar? Qual o nosso limite? Afinal, seres humanos não voam. E se nos dessem asas próprias, teríamos essa sapiência dos pássaros?

Somos da terra, nascemos primatas, bípedes e para ter os dois pés fincados no chão. Voar é coisa para passarinho; esses voam, respeitando as leis e o sentido da liberdade conferida. Esses seres livres, aparecem como bons presságios da natureza, trazendo a boa nova, carregando esperanças em suas asas, que o sol não derreterá nunca. Aprendamos com os penados. Sem limites para nossos voos, mas com prudência e obediência a quem nos deu asas.

Peter Pan era um menino que nunca precisou de asas para voar; ele pensava, desejava e voava; se jogava no espaço sem medo, depois dava rasantes pelo céu e dormia no ar - em colchão de nuvem. Nunca ninguém lhe dissesse que não poderia fazer aquilo. Mas seu lado maduro vivia a bater na janela de Wendy. Ela resistia ao menino e seus convites para voar. Ela queria crescer; ele voava porque não queria crescer. Se virasse adulto, iria parar de voar; iria parar de ver lugares, mundos e visitar terras do nunca; iria parar de imaginar coisas de criança. Homem que para de voar deixa de ser criança, deixa de sonhar.

Escritores, poetas, cineastas, pintores, arquitetos, heróis de desenho animado... São outros tantos que se permitem voar. Num voo, muitas vezes, solitário e calmo, sem alarde e transformações; livre das prisões, contestações e imposições dos limites; de ventos no rosto e olhares sobre a cidade, sobre a vida. Nas asas do imaginário. Que graça tem o avião? E o para-quedas, o helicóptero? O voo é do homem só, que parte do chão sozinho, sem nenhum apetrecho, sem asas; somente pelo sonho, que em si reservou, e tudo que o leva a cobrir montanhas e rios. Na alma leve, que eleva seu corpo nas alturas.

Um dia de manhã, sem inspiração, liguei o computador e a primeira frase que li foi: “Queria saber voar...”. Foi como uma oração, um mantra que desceu sobre mim. Passei o dia todo pensando naquela frase curta. Pensei que somente em mim havia aquela incompletude. Pensei se antes de saber, eu tinha que poder — ter asas — depois seguir o aprendizado do voo. Por fim, senti um alívio, havia alguém para compartilhar essa desilusão, que me segue pelos dias.

Uma vontade reprimida, que pensei somente eu guardar. Não li algo tão curto, bonito e prazeroso de sonhar: sentir o coração pulsar nas alturas — 10 mil pés. Quantos de nós já não tivemos este anseio, sair voando por aí, deixando tudo que nos aflige lá no chão. Assim como Ícaro, se libertar das correntes, das prisões que temos aqui dentro: “Romper a incabível prisão. Voar num limite improvável Tocar o inacessível chão”. Dar asas a si é poder se libertar e viver sem medo da queda livre. Por que quem se permite, não terá as asas quebradas, ou irá voar só com uma das asas. Voar nada mais é que o nosso pensamento. E sempre com esta certeza: o que importa não é a comida, a busca, a riqueza, mas o voo.

Por que voar é bom? Tira-nos da angústia cotidiana; tira-nos do lugar da dor e nos transporta longe, para o reino da alegria; faz-nos esquecer dos adultos que somos; faz-nos enxergar tudo de um ângulo onde temos mais clareza e compreensão; faz-nos viajar em nós; traz-nos de volta aos lugares de onde fomos felizes; faz-nos voltar no tempo para reparar e abreviar nossa dor; aproxima-nos das pessoas que amávamos à distância; faz-nos chegar mais perto de Deus. Por isso e muito mais que voar é bom.

Se outra vida, eu tiver por graça, quero ser um passeriforme, uma gaivota, uma águia; assim poderei voar; alimentando-me das sementes das folhas, ser feliz e livre com minhas asas que o sol não derreterá jamais.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / dezembro de 2011.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

As luzes de Natal


A esta hora da noite, alguém na janela vizinha instala suas luzes de Natal. A cada noite a vizinhança se ilumina. Mais e mais luzes aparecem. Apaguem a iluminação pública e deixe só as luzes piscantes das fachadas – andaremos por suas trilhas, sem medo. Há uma concorrência, ou uma referência: moro naquele apartamento com luzes azuis e vermelhas na janela, onde há um papai Noel subindo pelo gradil... Virou chamariz. Nesta época do ano, ficamos na torcida para que o dia voe e o sol desapareça logo no horizonte. Quero ver as luzes piscando e os enfeites de Natal das janelas.

A esta hora da noite, a Lagoa Rodrigues de Freitas deve estar clara como o dia. Parece que lá há competição, ou concurso para o melhor enfeite de Natal. Quem pisca mais, ou quem faz mais desenhos em multicores.  O conjunto dos prédios, que circundam a Lagoa, é como uma valsa sem música, num sincronismo de luzes e cores. Realmente é um cenário maravilhoso, com aquelas luzes todas cintilando no reflexo nas águas brandas da lagoa. A árvore de Natal gigante navega sem direção, pra lá e pra cá. Pousada sobre as águas. Um astronauta (ou papai Noel), lá de cima dirá: um disco voador pousou numa região do planeta terra, está piscando.

São somente luzes que vêm pela corrente da eletricidade, enchendo nossos olhos turísticos; vêm neste tempo do amor que perdoa. Depois elas passam e se apagam. A vida prossegue sem elas...

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / dezembro de 2011.