BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma noite em 83


Era tarde de um domingo ensolarado de outono, 01 de junho de 1980, o Flamengo e Atlético-MG se encontravam para decidir o título do campeonato brasileiro daquele ano. Mesmo sendo torcedor do Palestra, minha torcida naquela final era para o Atlético, ou melhor, eu era ReinaldoFC. Reinaldo era meu ídolo, incontestável. Nas peladas de rua, eu sempre usava seu nome (em vão) para as minhas jogadas de mestre; imitando seu gesto a cada gol que marcava. “Rei” era o Tostão do Atlético e quando parava com o punho fechado para cima, não dava outra, o goleiro estava estirado na grama — era mais um gol de Reinaldo. Mais tarde, descobri que esse gesto comunista, era na verdade um protesto contra o regime militar, que o Brasil vivia seus últimos capítulos. O Atlético perdeu o título ou o Flamengo ganhou por 3 a 2, pouco importava, pois para mim, Reinaldo tinha dado seu show, até o árbitro tê-lo expulso de campo.

Três anos mais tarde, em 1983, o Flamengo decidia novamente o título, agora contra o Santos. A final foi dia 29 de maio e novamente vitória do Mengão de Zico e Cia. Nesse domingo, quiçá, fosse mais um dia de futebol, macarronada com frango, casa cheia e com as torcidas para os dois lados. Naquele dia, a movimentação à tarde em nossa casa, tinha outro motivo e sabor; tínhamos a missão de ensaiar a música para a final do festival, e compensar o fracasso da nossa torcida na primeira noite do V FECAP — Festival da Canção Peregrina. Mesmo intuindo, que os jurados ficaram comovidos com nossa música na sexta-feira, nossa torcida foi um fiasco; muito dispersa, um tanto atrapalhada e desorganizada para os moldes daquele festival, que premiava também a melhor torcida. A família, os amigos, todos se somavam na sala, no corredor a picar papéis e enchendo sacos de plástico – tudo para a noite da grande final. Havia uma sensação no ar que os deuses da música olhavam para aquela casa naquela tarde. Eu sentia isso.

Quando a noite chegou, seguimos para o ginásio, uns de carro, mas a maioria num ônibus fretado. Um tremor acometeu em meu peito — quase incontido. Atônito, aceitava todos os drinques que me ofereciam. Era preciso relaxar, para não errar nenhuma nota da flauta doce que introduzia a música. No sorteio, para ordem das apresentações, nossa música era a última das dez classificadas. Isso era bom sinal, já com o público aquecido e esfuziante. Em compensação, a espera era pungente.

Após assistir impaciente as nove concorrentes, chegava, por fim, nossa vez. De camisetas vermelhas com estampas brancas, subimos ao palco em dez para defendê-la. O Plantador da Paz (de Claudinho e Gajão) tinha uma letra com tema social: ”Fazer valer a força da paz, que eu pensei nunca ser capaz de alcançar/e refleti como se fosse um farol/ no seio do povo/como um brilho do sol”. Era uma música de festival, daquelas, cujo refrão, evocava o público a cantar junto. Contagiou o ginásio todo. Quando descemos do palco, tivemos a certeza que demos o melhor de nós; agora, isso se concretizaria em vitória? Era uma fantasia, não dependia de nossos esforços mais.

Com os jurados reunidos, ficamos apreensivos, imaginando que poderíamos ficar pelo menos entre as três primeiras, era justo. Quando, finalmente, as músicas começaram a ser anunciadas uma a uma, eu murmurava baixinho ao lado do palco: “agora somos nós”, e não era. Minha sofreguidão se desmilinguiu, quando o apresentador nos anunciou como vencedores daquela noite; aquele festival, onde entramos como meros coadjuvantes, sem intenção nenhuma em vencer. Foi a glória.

Saímos de lá consagrados e mais amigos do que nunca. Após os abraços da vitória, lembrei-me, naquele instante, de meu ídolo do futebol e repeti novamente o gesto de Reinaldo. Levantei o punho fechado para gritar aquele que seria o melhor gol da minha linda juventude. Foi um salto para o céu, daquela juventude que cantava e plantava a paz com suas músicas recheadas de amor e intimismo. Nossa linda juventude viveu naquela noite o seu êxtase. Para mim, o dia mais feliz daqueles vinte anos. Se comparada, uma sensação como as vividas, na década de 60, por Edu Lobo, Chico, Vandré e outros no palco do Teatro Paramount. Nossa canção não vinha de encontro aos padrões daquele festival, mas era, sim, a melhor.

Formamos ali uma família, na música, na amizade e demos o nome de Clube da Esquina nº3. Passados 28 anos, ainda tenho aquele domingo guardado na minha memória, e uma frase que o meu irmão escreveu, parece ainda grafitada no muro da esquina da rua, onde nos encontrávamos para tocar violão: “Enquanto existir neste mundo qualquer tipo de violência, sempre haverá em qualquer esquina do mundo, uma juventude cantando todo tipo de paz”. Nunca me esquecerei da nossa linda juventude, agora marcada e grafitada para sempre no muro branco da minha alma. Daquela noite, ficou o registro de uma fotografia, que alguém cuidou em guardar, o resto são memórias de uma noite em 83.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / junho de 2011.

sábado, 21 de agosto de 2010

Teletema


Hoje acordei com esta música na cabeça. Ela é uma das jóias raras do final da década de 60. Fui me ater aos seus autores, Antônio Adolfo e o letrista Tibério Gaspar, descobri que andaram pelos festivais daquela época. Em 1969 colocaram a canção "Juliana" em segundo lugar no IV FIC - Festival Interancional da Canção, perdendo só para "Cantiga por Luciana" de Paulinho Tapajós e Edmundo Souto. No ano seguinte eles ganhariam o festival com BR-3. Eu só não entendo porque "Teletema" não tenha feito parte daqueles festivais. Depois a canção foi parar na trilha de uma novela. "Teletema" teve várias gravações na voz de Regininha, Evinha, Paula Toller, Luiza Possi e Ivo Pessoa.
Uma grande sacada da letra de Tibério está no fim de três frases musicais, onde ele interrompe a palavra - junto com a frase musical - para continuar na frase seguinte: Só + Corro = Socorro; Fim + Dando = Findando e; Além + Brando = Lembrando. Este recurso já foi utilizado por Caetano Veloso também. Genial!
Segundo os créditos do video abaixo, a voz é de Regininha e ao piano Marcos Valle.



Teletema
(Antônio Adolfo e Tibério Gaspar)

Rumo
Estrada turva
Sou despedida
Por entre
Lenços brancos
De partida
Em cada curva
Sem ter você
Vou mais só
Corro
Rompendo laços
Abraços, beijos
Em cada passo
É você quem vejo
No tele-espaço
Pousado
Em cores no além
Brando
Corpo celeste
Meta-metade
Meu santuário
Minha eternidade
Iluminando
O meu caminho
E findando a incerteza
Tão passageira
Nós viveremos
Uma vida inteira
Eternamente
Somente os dois
Mais ninguém
Eu vou de sol a sol
Desfeito em cor
Refeito em som
Perfeito em tanto amor

Postado por Antônio - Agosto/2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A noite que não terminou

Ao lado do grupo MPB-4, Chico Buarque defende "Roda Viva" na final do festival de 1967, exibido pela TV Record; a canção ficou em terceiro lugar

Estreia amanhã (30/07) em circuito nacional - menos nas cidades interioranas como a minha - o filme "Uma noite em 67". Reproduzo abaixo trecho da matéria que o jornal Folha de São Paulo trás hoje em seu Caderno Ilustrada, com comentários sobre o filme. De fato, é um filme para ver, rever e ter em DVD; para guardar como documentário. Vale a pena. Este Festival foi o divisor de águas e marcou o início de uma nova era na nossa música popular. De lá para cá não fizemos mais tantos artistas de alto nível assim. Uma pena.

(Folha de São Paulo 29/07/2010)
Longa refaz história da MPB a partir da grande final do festival de 1967; arquivos e entrevistas revelam bastidores e acertam contas com o passado.
ANA PAULA SOUSA
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

É impossível esquecer aquela noite. Ao mesmo tempo, como é difícil recordá-la.
A final do 3º Festival da Música Popular Brasileira, exibida pela Record em 21 de outubro de 1967, ficou congelada na memória do público como um momento único.
Para seus protagonistas, porém, se foi alegria, foi também perturbação. É isso que revela, quatro décadas mais tarde, "Uma Noite em 67", documentário de Renato Terra e Ricardo Calil, crítico de cinema da Folha.
Por meio dos arquivos da TV Record e de depoimentos de quem estava lá, o filme revê um momento que iria se provar fundamental para a forma que assumiria, a partir dali, a música brasileira.
Há Chico Buarque ("Roda Viva"), Caetano Veloso ("Alegria, Alegria"), Gilberto Gil ("Domingo no Parque") e Roberto Carlos ("Maria, Carnaval e Cinzas") a defender suas canções. E há todos eles a rememorar aquela noite.
"Eu era um fantasma no palco", diz Gil, que caiu de cama, em pânico, horas antes da apresentação.

INTIMIDADE
É desses reencontros profundos com o passado que se constitui o filme. Fica claro que os diretores sabiam que muitos, como Caetano e Gil, tiveram suas falas sobre aquela noite banalizadas, tamanha a quantidade de entrevistas dadas a respeito.
Tinham também em mente que outros, como Chico e Roberto, dificilmente baixariam a guarda. "Era fundamental criar uma cumplicidade. Nós nos preparamos muitos e tentamos ser delicados, respeitosos", diz Calil.
Com isso, arrancaram de cada um momentos de graça, emoção e intimidade, como raras vezes se veem na tela.
"Ao ver o filme, assustei-me mais com suas revelações do que em me ver naquela agonia de não poder mostrar uma música", diz Sergio Ricardo que, impedido pelo público de cantar "Beto Bom de Bola", atirou a viola à plateia. O filme traz à luz a cena inteira, e não apenas a explosão. "Me sinto de alma lavada."
Há também um quê de acerto de contas no que sente Marília Medalha, que cantou, com Edu Lobo, "Ponteio", a grande vencedora da disputa de jovens gigantes.
"Fui espoliada após o festival, não só por pessoas da música, mas também por artistas do universo teatral", diz. "Com o AI-5 [1968], o negócio piorou muito. Num show com Vinicius [de Moraes], fui proibida de cantar "Ponteio". Não descobri se era por causa da música ou por saberem que tinha vínculos com presos políticos", diz.
A entrevista com Medalha, como dezenas de outras - entre elas as de Ferreira Gullar, Chico Anysio, Arnaldo Batista, Martinho da Vila-, ficou fora do corte final do filme. Estarão todos no DVD.
A opção de concentrar-se nas cinco primeiras classificadas faz com que cada canção seja vista de ponta a ponta. Por meio dessas imagens, o espectador não só conhece os maiores artistas da MPB quando jovens, como também visita os primórdios da TV. Ali, o cigarro em cena era tão natural quanto o jovem Chico, com 23 anos, apresentar-se de smoking.

Chico revela mágoa com fama de "velho"

Em depoimentos para o documentário "Uma Noite em 67", ícones da MPB revivem as marcas deixadas pelo festival
Edu Lobo liga Tropicália a "roupas diferentes"; Gil diz ter sido levado ao movimento por insistência de Caetano.
De imediato, o maior impacto do documentário "Uma Noite em 67" está nas imagens de acervo da TV Record -as sequências completas de Chico, Caetano, Gil, Mutantes, Roberto, Sérgio, Edu e Marília defendendo suas canções.
Mas, colocadas em contraponto ao material histórico, são as entrevistas feitas especialmente para o filme -recentes, portanto- as responsáveis pelas grandes revelações sobre os personagens.
"O tropicalismo foi a fase agônica da minha vida musical", conta Gil. Para fazer todos os rompimentos -musicais e até pessoais- necessários à criação do movimento precisou que Caetano o puxasse pelas mãos, ele diz.
Edu Lobo, por sua vez, deixa claro que, 43 anos depois, não mudou muito o modo como entende o tropicalismo. Para ele, toda a revolução liderada por Caetano e Gil a partir daquela noite "girou mais em torno da atitude no palco e das roupas diferentes do que da música".
As tais roupas que Edu cita, usadas sobretudo pelos Mutantes e pelos Beat Boys -as bandas de rock que acompanharam Gil e Caetano em seus números-, foram introduzidas nos festivais a partir daquele ano.
Era praxe, até ali, que artistas se apresentassem na TV vestindo smoking.
Revendo sua aparição naquela noite -de smoking-, Chico Buarque diz que, então, não sabia que aquelas mudanças nos figurinos aconteceriam. Ou melhor: sabia, mas tinha esquecido.
Entre risadas, conta que estava sob efeito de álcool quando Caetano lhe falara, tempos antes da primeira eliminatória, sobre a ideia das roupas. Por isso, não chegou a registrar a informação.
Mas o clima da entrevista sai da anedota quando o autor de "Roda Viva" revela ter se sentido "muito sozinho" naquele período.
Pelo contraste com a estética pop tropicalista, percebeu estar imediatamente identificado como "o velho", "o conservador" -tanto em música quanto em atitude.
"É duro ser chamado de velho, ainda mais quando você tem 23 anos", afirma Chico no filme.
Provocado pelos diretores, Caetano concorda. "Era natural que ele se sentisse assim." Até aquela noite, Chico mantinha o posto de unanimidade nacional e nunca havia encontrado qualquer restrição. Foi a primeira vez.
Na manhã do dia seguinte, nenhum deles seria o mesmo. Nem ele, nem o Brasil. (APS E MP)

Militante revê no filme sua "atuação" como fã

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"Quando as pessoas vaiavam, estavam vaiando a ditadura, e não as músicas."
A jornalista e militante Rose Nogueira, 65, explica isso enquanto assiste a "Uma Noite em 67" pela primeira vez. Quer dizer, pela segunda, já que ela estava presente no festival onde foi lançado o Tropicalismo, Chico cantou "Roda Viva" e Sérgio Ricardo quebrou um violão.
Ela era uma das moças "de tiara no cabelo, que já vinha com uma peruca" que adoravam Sérgio Ricardo e, claro, achavam Chico Buarque lindo. Rose tinha 20 anos na época. E continua achando Chico "lindo e com uma capacidade de construir poesia como ninguém".
Na tal noite de 67, ela ficou na parte de trás do auditório. E, ao ver o filme, relembra de tudo. "Olha o Sérgio Ricardo pedindo calma. Lembro exatamente disso. E nessa hora em que ele jogou o violão, nossa, fiquei em choque."
Apesar de achar Sérgio Ricardo "um charme", Rose torcia para "Roda Viva". "Está vendo ali? Eu era uma daquelas moças cantando "roda mundo, roda pião"."
A jornalista torcia para Chico em todos os festivais. Mas até hoje se emociona com "Alegria, Alegria".
"Que coisa maravilhosa. Essa hora em que todo mundo grita "eu vou" é emocionante. As pessoas estavam dizendo que não iam desistir. E o Caetano estava lutando com a poesia."
Ela acha que nem Caetano (e nem ninguém no Brasil) fez músicas tão bonitas depois "porque a ditadura veio e acabou com tudo".
As músicas podem não ter melhorado na opinião de Rose. Mas a aparência... "O Caetano era horroroso. Foi melhorando com o tempo. Desculpe, Caetano, mas você hoje é mais bonito."
"O Caetano também foi preso?", pergunta a cozinheira da casa. "Todo mundo foi preso." Até Rose, que um ano depois foi detida e torturada no presídio Tiradentes, onde permaneceu por oito meses. "Depois desse festival tudo mudou."

Brasil se revela por inteiro nos bastidores do festival

Diretores captam um país entre as marcas da província e as antenas da metrópole
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A última noite do Festival de Música Popular Brasileira de 1967 foi um desses raros momentos que condensam e catalisam as forças vivas de toda uma cultura.
Estavam ali não apenas artistas extraordinários em seu apogeu criativo, mas um caldeirão de elementos díspares numa rara e irrepetível sinergia: o berimbau e a guitarra elétrica, a poesia de vanguarda e o ti-ti-ti das revistas de fofoca, as marcas da província e as antenas da metrópole, o pop e a roça.
Diante desse evento singular, a virtude maior dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil foi a de preservar uma certa modéstia e um escrupuloso respeito a todos os protagonistas e coadjuvantes da noite memorável.
O documentário busca transportar o espectador de hoje àquele ambiente sem intervir esteticamente, sem interpor interpretações políticas ou sociológicas, sem, em suma, "perfumar a flor", como diria o poeta João Cabral de Melo Neto.
Todos os depoentes são testemunhas presenciais e todos têm o que dizer. Por vezes ligeiramente contraditórios entre si, esses depoimentos ajudam a iluminar o acontecimento por vários ângulos e a construir os seus sentidos.
PROVÍNCIA X MUNDO
Mas o ponto mais forte do filme são as cenas de bastidores do festival, as entrevistas antes e depois das apresentações, em que transparece, nas perguntas dos repórteres e nas respostas dos artistas Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, um alegre descompasso entre uma televisão familiar, provinciana, herdeira do rádio, e uma música revolucionária, sintonizada com o mundo.
Tudo ali diz muito sobre uma época: as roupas, os penteados, a gíria, o humor. O país se revela inteiro em cada fotograma.
Lamentou-se já a ausência de uma fala da cantora Marília Medalha, intérprete da vencedora "Ponteio". Outros testemunhos poderiam ser enriquecedores: de Nana Caymmi, Hermeto Pascoal, Rita Lee. A lista seria interminável, e o filme também.
Material não falta para outros documentários, para extras de DVD ou para uma série de TV, que talvez seja o destino mais adequado para esse tipo de documentário mais jornalístico do que propriamente cinematográfico.
Mas o filme "Uma Noite em 67", por sua força compacta e seu caráter de celebração, vai bem, muito bem na tela grande.

UMA NOITE EM 67
DIREÇÃO Ricardo Calil e Renato Terra
ONDE estreia amanhã no Frei Caneca Unibanco Arteplex, Espaço Unibanco Augusta e circuito
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom

Antonio - julho / 2010.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Benvinda




O que mais me agrada nas músicas de Chico Buarque de Hollanda? Difícil dizer, poderia falar de várias, mas hoje vou compartilhar esta música do início de sua carreira (ele tinha 24 anos). Faz algum tempo descobri a grande sacada de “Benvinda”, sim, exatamente como ele escreveu: “Benvinda”, não é “Bem-vinda” (adj. saudação). Chico escreveu esta música para uma de suas mulheres, e não falou nada disso para ninguém. Até meu corretor de texto do Word quis corrigi-la. Imagina! Chico brincou com as palavras mais uma vez. A letra permite que você use as palavras nos dois contextos. Qualquer uma que se usar dará sentido: a saudação e a musa.
Esta apresentação, das mais memoráveis do acervo da nossa MPB, foi no IV Festival da Record de 1968. Chico de paletó listrado ladeado pelos competentes “meninos” do MPB-4, quem toca violão ao lado é Toquinho. Chico faturou o terceiro lugar. Ahhhhhh, infelizmente eu não pude estar lá.

BENVINDA
(Chico Buarque de Hollanda - 1968)

Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente
Que há lugar na minha mesa
Pode ser que você venha
Por mero favor
Ou venha coberta de amor
Seja lá como for
Venha sorrindo, ai
Benvinda
Benvinda
Benvinda
Que o luar está chamando
Que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho

Cheio de anseios e esperança
Comunico a toda a gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha
Morar por aqui
Ou venha pra se despedir
Não faz mal
Pode vir até mentindo, ai
Benvinda
Benvinda
Benvinda
Que o meu pinho está chorando
Que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho

Venha iluminar meu quarto escuro
Venha entrando como o ar puro
Todo novo da manhã
Venha minha estrela madrugada
Venha minha namorada
Venha amada
Venha urgente
Venha irmã
Benvinda
Benvinda
Benvinda
Que essa aurora está custando
Que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho

Certo de estar perto da alegria
Comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha
Um carinho para dar
Ou venha pra se consolar
Mesmo assim pode entrar
Que é tempo ainda, ai
Benvinda
Benvinda
Benvinda
Ah, que bom que você veio
Que você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda
Benvinda
Benvinda
Benvinda
Benvinda
No meu coração.


@publicado por Antonio