BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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sexta-feira, 5 de abril de 2013

A paisagem da mulher



Quando subires o alto de uma montanha, podereis vislumbrar uma linda paisagem. Então, sentirás uma imagem real que se constrói perante teus olhos. Separadas, em fragmentos, não se representam, não terão todas as maravilhas; assim como as pétalas de uma flor desfigurada. Mas combinadas, elas revelam nuances. A beleza que não se toca está ao longe. Em tudo, jamais conseguirás tirá-la do lugar e levá-la para ti. Ela esta lá pra ser mirada, mas não alcançada e tocada. Estará lá para ser sempre contemplada, mas nunca penetrada. As fotografias guardadas e empoeiradas, mais tarde, revelarão por quê... Tereis saudade daquilo. Ela revelará e guardará em ti o signo do belo.

Assim, poderás dizer também dos retratos que ficaram de MARILYN MONROE (como um grito à beleza). Ela já se foi, dirão alguns. Ela agora virou a imagem que não pode ser tocada e nem retocada no tempo. Jaz com ela o projeto do arquiteto do corpo. Ela não diz nada, não reflete, não participa, não atua, mas ainda emana... Num álbum de retratos, ou na tela do artista. Ela é a imagem da paisagem que não podereis tocar. Tu somente contemplarás. Na busca da fórmula, do sentido pacificador do prazer, e como torpor da alma. Tudo aquilo que todos nós deveríamos admirar com seu dom infinito. Os gregos diriam Afrodite. Marilyn é hoje a luz que não se aplacou; Marilyn é hoje uma paisagem de mulher.




© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Abril de 2013.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As feias e as belas

Uma das constatações mais verdadeiras é a falsa amizade entre duas mulheres... Pronto! Lá vem um exército de feministas me apontar: você é um machista! Nada disso, sempre acreditei e continuo. Claro que falo daquelas grudentas, siamesas. Já disse isso, várias vezes, a elas mesmas, e nenhuma me contestou ou colocou um “ops!” sobre esta observação. Algumas até reforçaram a tese; outras se calaram e olharam de esguelha, a lembrar-se (com ódio) de alguma falsa amizade que vivenciaram.

Na época da faculdade, eu e um amigo, fazíamos apostas para ver quanto tempo duraria uma amizade entre duas inseparáveis criaturas do sexo feminino. Toda vez que uma declarava amor eterno à outra, nossos olhares se procuravam por trás das cabeças, para um risinho disfarçado e incontido. Na maioria das vezes, aquela paixão de super amiga pra cá, queridinha pra lá, durava até uma delas se interessar por alguém - por um homem - que a outra também se declinava. Ou simplesmente, quando uma não concordava com o ponto de vista da outra; ou por inveja da beleza, dos sapatos, do vestido, dos brincos, das outras amizades. Ia se arrefecendo, sem ressentimento; e tudo se transformava num simples “oi”, quando se cruzavam pelo corredor.

Iremos nos defrontar, com alguns casos de amigas que, surrupiaram parceiros de outra suposta amiga. Acontecem ainda. O mesmo não ocorre, na mesma frequência, com os homens. O código da ética masculino não deixa chegar nesse ponto. Homens são mais corporativos; eles preservam-se mais nas amizades, deixando a coisa não entrar em total intimidade. Baseiam o rito da amizade, em conversas sobre futebol, corridas, trabalho, jogos de sinuca... Um homem não vai dar em cima de outra mulher, que esteja no vácuo de um amigo próximo (isto não é uma regra, e tem suas exceções). Homens também não vão conversar, em mesas de bar, sobre suas intimidades com uma mulher, que já virou parceira, companheira. Eles irão contar, muito pouco, se for uma “ficante”, ou sobre um sexo eventual com algum objeto de desejo. Eles não se interessam por ficar falando sobre intimidades.

O mesmo não ocorre com as mulheres. Ela irá contar como foi a última noite com o marido, ou namorado. E conta em detalhes para suas amigas. Depois de vender o seu parceiro às amigas, não quer que elas passem a olhar o rapaz, sem pensar nas suas performances, que ela mesma descreveu. Está a um passo para um desfecho com brigas de puxar cabelos e unhadas acima da cintura. Quase sempre, quando isso ocorre, perderá a amiga e o parceiro.

A amizade grudenta entre duas mulheres não é tão duradoura, porque elas vivem em concorrência; disputa em ser a mais bem aceita nos ambientes que frequentam e por holofotes, quem brilha mais. Não me julguem por querer chutar a canela de alguém, há diferenças antagônicas entre os sexos. Homens e mulheres vieram de galáxias distintas, já disseram alguns escritores da área comportamental. Mulheres com defeitos e homens também. Homens travam lutas e disputas iguais, principalmente em ambientes de trabalho.

Já ouvimos dizer por aí que, mulheres não se vestem para agradar o parceiro e sim para ser observada (invejada) por outra mulher. Algumas concordaram nesta tese também. Um homem – nem todos – não irá reparar no cabelo, nas unhas, nos sapatos, no vestido... Ele resumirá o conjunto todo em: você está linda! Pronto, acabou. Já a outra, esta irá medi-la de cima embaixo, dividindo-a em partes; e mesma a mais bonita, irá observar o que a outra não tem de si que a torne tão atraente.

- Sou mais bela! - Dirá ao espelho do banheiro feminino.

Em seu poema “Receita de mulher”, Vinícius de Moraes causou furor, quando afirmou logo na primeira frase:
“As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental”.
Segue depois, em sua receita, numa repetição exaustiva de “É preciso”; como um desejo ansioso, incólume da mulher ideal, com predicados de santa no altar. Destaco outro:
“Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras / É como um rio sem pontes. Indispensável”
Talvez, uma mulher nunca saiba que, um homem irá observar se tem ou não saboneteiras. Parece tosco para elas, mas esse olhar é o masculino e não da amiga invejosa; como ter pés e mãos delicadas. Alvos, impecáveis e banhados em sândalo; sem marcas, calosidades; perfumados com ervas aromáticas (Pés e mãos devem conter elementos góticos. Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos). Isto não quer dizer que tenham, necessariamente, esmalte e cutículas em dia; mas têm que ter a delicadeza alva. Já vi pés lindos sem ornamentos, somente a tez alva, quase transparente.

Nessa receita do poetinha, com tantos ingredientes, faltou dizer com que tempero. Ou seja, o melhor da receita ficou fora; o tempero final é o que dá sabor em tudo. Entenda tempero, como humor e simpatia.

Sob essa ótica da beleza feminina, uma notícia repercutiu por esses dias. A ministra Iriny Lopes, titular da pasta da Secretaria de Políticas para as Mulheres, entrou com pedido junto ao Conar — órgão que regula a publicidade nos veículos de comunicação —, solicitando a retirada do ar de uma série de comerciais sobre lingerie, protagonizados por Gisele Bündchen. Num dos filmes que vi, Gisele usa uma lingerie preta e termina com a frase “Você é brasileira, use seu charme. Hope, bonita por natureza”. O que há de apelativo no filme? O que há de ofensa à mulher? Nada! O que incomodou a ministra foi a beleza de Gisele, só pode ser! Talvez, a ministra — que já não cabe na receita de Vinícius — sentiu-se ofendida por alguém ganhar dinheiro trabalhando, por causa da sua beleza; já Gisele é uma receita farta, com ingrediente que sobeja até Vinícius. Em porções exageradas, como um extravagante banquete de mulher. E não lhe faltam saboneteiras.

Nada de errado com os não-belos. Os belos tiram proveito, como os feios também podem tirar de sua aparência. Podemos enumerar personagens de filmes e séries, onde os que chamam atenção são os feios. Os personagens Shrek e Fiona, são ogros e feios demais para atrair tanto público aos cinemas, e atraem. O que há com eles? Apesar de tudo, são engraçados e simpáticos. A beleza pode estar incutida nas pessoas. Há luzes que emanam delas; a forma assimétrica de um rosto será ofuscada pelo brilho dos olhos. É claro, há aqueles que são completos: belos e charmosos.

A senhora ministra deve ter sido daquelas que, durante a faculdade, desfez suas amizades grudentas, por disputas e discórdias; por ter alguma amiga que atraia mais atenção para si. Despeito? Sei lá. Volto ao poeta, me perdoe, senhora ministra, porque beleza continua sendo fundamental.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Praquí, pracá, pralá...cadeira, cadeira, cadeira...

O Blog anda preguiçoso, eu sei. Os temas são muitos, infinitos. Saio nas caminhadas e vem sempre algo novo para trazer aqui; às vezes, alguém vem me dizer: olha este tema, sai uma crônica... Sai sim, claro que sai. O próximo texto que escrevo “As feias e as belas”, é um tanto polêmico. Algumas mulheres vão me chamar de machista (odiar), eu sei. Saibam que não é meu objetivo, mas para chegar ao assunto, ser belo ou não, vou ter que por o dedo na ferida, com algumas teses que tenho. Podem ser bobagens, mas elas existem em nossas vidas. Homens e mulheres são de galáxias diferentes, com suas diferenças na forma de encarar a vida. Nenhuma novidade.

Fiquei indignado – como muitos brasileiros - quando a ministra Iriny Lopes, titular da pasta da Secretaria de Políticas para as Mulheres, pediu para retirar uma propaganda do ar por suposta ofensa às mulheres. A estrela do filme é nada mais nada menos que o ícone da beleza brasileira, a modelo Gisele Bündchen.

Em seu Blog, o jornalista Reinaldo Azevedo, comparou a cena com Gisele – de lingerie – com a cena protagonizada pela cantora colombiana Shakira no Rock in Rio; estariam na mesma situação: uma mulher linda e insinuante. Nada mais.

Da apresentação de Shakira, a cena que mais me chamou atenção foi a que tenta ensinar algumas brasileiras, que escolheu da platéia, a dançar descadeirando, ou como ela chamou “Praquí, pracá, pralá...cadeira, cadeira, cadeira...e vai, e vai, e vai, e vai...”. Hum, foi a melhor cena do Rock in Rio. A ministra, poderia achar aquilo também um afronta à mulher; insinuante, incitante, provocante aos homens. Mas não disse nada. As pobres coitadas, Gisele e Shakira, sofrem do mesmo mal: beleza e talento. Isso incomoda.
© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / abril de 2011.