Às vezes tenho a sensação que vivemos num
engano coletivo, que a grande maioria está numa vida fantasiada e poucos vivendo na realidade. Questiono-me:
será a vida uma grande ilusão e só alguns sabem da realidade do dia a dia? E esses,
prisioneiros de uma rede de mentiras sem fim, para si e para os outros?
Como no "Show de Truman" ou num Big Brother de multidões: malhando o
corpo, discutindo tolices, para no final despedir-se da vida, com o riso
falso de "foi bom estar aqui". (Há falsidade até para morrer.)
E
sem mais tempo, no final, descobrirá que a vida foi tudo aquilo
que escondeu de si. Que o céu azul não era de papel com nuvens de algodão, e o sol uma
luz de feixe âmbar se movendo por controle remoto de uma sala. E todos os despertados, que
tentaram lhe contar a verdade, foram eliminados por você, impulsionados pelos donos desse jogo.
Você morrerá inocente, sem conhecer um naco da vida real e vivida.
Mas,
diferente de Truman, a vida é um show de um mundo verídico e na temperança;
sem meias verdades, Faustão e a alienação do riso sem graça, da cara do Duvivier. Enquanto todos me ignoram, eu vejo o mundo que dão às costas (em
não querer se defrontar no espelho). Porque é mais fácil virar-se, mudar
de canal, de assunto, do que encarar as noites e os dias de sofreguidão: do fogo que
arde, da fome que assombra, da ferida que se abre, da liberdade que se rouba,
da lágrima que cai sentida...
Esses
(outros Truman) se veem num cenário de ilusões e de vida na superfície do mundo, rasa e,
cenograficamente, assistida por seus milhares de espectadores ocos e
sem rumo. Alimentando quimeras temperadas por esperanças vãs que lhe jogam. Pobre
gente e os donos do seu mundo.
© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Março de 2017
© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Março de 2017