BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Trintona, solteira. E agora?


Imagina aquela mulher, entre 30 e 40 anos, que citei na crônica A taça de vinho (quase) vazia (clique aqui); que está na pegação por aí, como se diz; portando-se como antes só cabiam aos homens: desinteressada de relações e interessada somente em seu "eu" (umbigo) e desejos. Sim, ela existe e começa a ser maioria entre elas. Isso eu já disse. E agora, imagina outra, na mesma faixa etária, que mesmo estando nos ambientes de moda (baladas, bares e festas), ainda conserva, por tradição, um desejo de um modelo antigo de relação: namoro, casamento, filhos e família. É sobre ela que escrevo agora.

A escassez de homem do mercado, para essa mulher que está aí na faixa dos 30 a 40 anos, tem várias vertentes. Primeiro, tem muito veado ou genérico na praça. Segundo, os homens, hoje em dia, na faixa dos 40 anos (bom para ela), ainda moram com os pais. O cara já está na segunda pós e seus ganhos não condizem, muitas vezes, com seus gastos (a sociedade de mercado nunca ofereceu tantos produtos para se gastar com o mísero salário que se ganha). Melhor morar com a mamãe, que serve janta quentinha todos os dias e ainda o mima como se tivesse 15; muito melhor do que dividir um apê com um amigo bagunceiro, que só sabe fazer omelete e comer no Burger King. No final do mês, tem o salário limpinho e pode fazer prestações de um iPhone novo.

Depois, aquele que ganha mais e quer se emancipar (são raros), tem projetos individuais, como: estar sempre de carro novo; ter um apê próprio para levar não só essas de 30, mas as de 20; tem futebol society quase todos os dias; melhor tomar cervejas com amigos, do que ter que pagar a sua conta; filho nunca foi objetivo na vida (são muito caros); viagem para Europa é mais barata para um e tranquila, quando não tem uma mulher para encher seu saco querendo ir a lugares de compra, quando ele quer tomar cerveja australiana num pub. Enfim, ele está fugindo de compromissos longos, cobrados; passando bem longe da casa da sogra e dos almoços de domingo. Aí fica parecendo que você, mulher, vai às baladas em vão. É verdade. Vai, sim. Não tem homem!

Aí eu pergunto: Como penetrar nesse universo (quase misógino) e sair dali com seu homem zerinho, em suaves prestações? Difícil responder. Vivemos numa época muito controversa, confusa de relacionamentos. Com tantas facilidades em construir e desfazer tudo como num passe de mágica. Anti-sentimental e pró-imagem. Muito status e pouca vida. Muita tecnologia e poucas relações. Muito WhatsApp e poucos telefonemas. Eu diria até que vivemos um hiato, um vazio, um abismo ou uma transição de eras. O sentimento, o amor deixam de ter suas importâncias e o que vale é o sucesso, o corpo, a saúde, a imagem, o parecer, a felicidade, a longevidade, a grana, o prazer e o desfrute.

Mudar isso é como virar um tabuleiro inteiro, no meio do jogo. Essa mulher precisa aprender: homens amadurecem mais tarde. Não é como na década de 70, quando eles, com 30 anos, eram casados, já com três filhos. Homens com 40 anos, hoje, andam com boné de aba para trás, bermuda, regata e jogam vídeo game com seu sobrinho de 15. Só vão criar juízo e visão do mundo depois dos 50. E olha lá...

Por outro lado, essa mulher (sem terapia), por achar que a escassez é um problema que está com ela (não imagina que ele não quer compromisso), começa a se sentir rejeitada (se for bonita, mais ainda); vai querer ficar mais bela (do que já é), só para atrair esse cara. Gastos excessivos com cabeleireiros, manicures semanais, academia e plásticas (bumbum, seios, nariz, etc.). Está tudo misturado no seu subconsciente. (Ela pode até dizer que turbinou os peitos por ela mesma, mas não há explicação quando é algo do corpo que se quer consertar. É para ser visto de fora e não no espelho.) Mesmo assim, ele só a quer para uma noite, porque beleza cansa e só serve até ele gozar. Mesmo se você for bonita, não pense que tem o poder de escolha. Mulheres bonitas são péssimas para escolher homens. Sempre acabam nos braços de caras mais ricos, bonitos, adúlteros e cafajestes.

(Quando eu falo em escassez, é no sentido da raridade de um tipo de homem. Aquele que está pronto, homem feito, mas precisa de um empurrão ou algo que o impulsione para assumir um compromisso sério.)

Essas mulheres deveriam se mirar naquela da sua espécie, que está numa faixa mais acima (45 e 50 anos). Se estiver sozinha, é porque já foi casada, ou porque entrou nessa safra de escassez também, tudo com blasé. Menos ansiosa, mais paciente, sem aquele elã dos trinta; até por que, para ela, sobraram os filhos para cuidar, enquanto o ex-marido veleja em Ilhabela. Essa, que já passou pela crise dos 30 (de difícil namorado/parceiro), aprendeu, com os tropeços, que o homem não a quer da maneira que ela sempre achou que fosse.

Repare bem e se pergunte: Por que tem mulher feia, gorda, desajeitada e malvestida casada? A resposta é simples. É porque ela não tem muita frescura na escolha de homem. São tímidas e até passam despercebidas numa festa. Ela não olha a conta bancária do cara, seus olhos azuis, seu nariz italiano, seu Corolla, etc., mas enxerga muito além. Enxerga futuro, filhos, etc. E, principalmente, se ele tem disposição para uma vida a dois. Pronto! Depois, ela tem algo a mais que oferecer que sexo. Já dizia o velho Gikovate: as relações, hoje, são feitas de parcerias e não de amor-romântico (século XIX). Ela oferece parceria.

Homem feito não gosta de mulher burra. Bonita/burra só para se divertir na balada. No dia seguinte, ele vai jogar futebol com amigos e nem se lembra dela. Se ela não sabe discutir política (assunto do momento), oriente médio, livros, séries da Netflix, etc., esquece. Você tem que se parecer (e ser) interessante para ele. Sua beleza e atração é sua fala, seus argumentos, seus conhecimentos e tudo que possa se somar à vida dele. (Conhecer futebol não serve). Atributos como: cozinhar, servir, arrumar, decorar, educar devem ser instintivos. Não são acessórios. Fazem parte do conjunto daquele universo atrativo.

Tem um um ditado popular que diz que você tem que casar com quem você gosta de conversar, porque, na velhice, o que sobra é só a amizade. Eu acredito nisso.

Por fim, se você mulher trintona tradicional, ainda tem alguma esperança de um bom relacionamento, é melhor olhar mais para o lado. Quem sabe aquele carinha feio e magro do teu trabalho. Pode ser ele. Frequente mais supermercado do que baladas. Gaste mais tempo com livros e filmes do que com supinos, legpress e crossfit. Mais tempo em conhecimento do que com futilidades, shopping, sapatos, raves e música sertaneja. 

Olhando para esse nosso tempo (cheio de mutações e imprevisibilidade), talvez com 40 (ou mais) você, com paciência e sorte, encontre esse homem para o resto da sua vida. No silêncio da alma, na respiração serena de uma manhã. Depois, aprenda acender a churrasqueira e a manter sua cerveja na temperatura certa. E já vou avisando, ele tem barriga.

(Outra dica: "Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas" – Nelson Rodrigues)

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / agosto de 2017

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O decote salvará o homem

Começo esse colóquio, lembrando de um episódio que me ocorreu, me acendendo um farol: que tempos são esses que nos trazem? Não! Não estou falando da política, da corrupção, mas do ser humano sobre todos os aspectos da vida social e de relacionamentos.

No inverno, as trupes não vão para praia, mas para a fazenda, para o campo, respirar ar puro e sentir o friozinho deleitoso. Foi numa desses encontros com amigos, num sitio, que fui passar um feriado. Aquela disposição geográfica, onde todo mundo dorme amontoado nos quartos, em camas beliche, homens e mulheres misturados.

Assim, eu e mais uma meia dúzia dormimos no mesmo quarto. Ao acordar pela manhã, como faço na minha casa, a primeira coisa foi estender os lençóis e dobrar os cobertores. Quando notei, na cama frontal, uma das minhas parceiras de quarto (já estava no café) deixou a cama desarrumada. (Talvez porque a fome fosse maior.) Fiz a gentileza — hoje se diz "mimo" —, então, de poupá-la do trabalho e arrumei a sua também. Quando ela entrou no quarto, eu estava prestes a receber um elogio, mas  ela disparou: "NOSSA! QUE ESTRESSE!" Engoli a seco e entalei.

Será que essa praga chamada politicamente correto está mudando mesmo as pessoas? As mulheres não estão percebendo mais o cavalheirismo, inerente e secular do homem? Será ofensa, um dia, um homem se oferecer para trocar o pneu do seu carro? Estão matando no homem a sua vontade de se sentir protetor, puro e simplesmente. A mulher precisa entender que, por mais capacidade que ela tenha de trocar a resistência do seu chuveiro, ele vai se sentir mal se ela fizer primeiro. Estou falando do homem, macho alfa. (Não tem homem? Um vizinho, um "marido de aluguel" dá conta.)

Vasculhei na memória e lembrei-me de um Fantástico que vi há uns anos atrás. (Não vejo mais nenhum.) Na ocasião, aquilo me passou meio despercebido, mas o tema não saiu da minha cabeça: "o sexo masculino vai acabar". Era verdade o que diziam, não estavam falando de um filme de ficção. Não consigo lembrar os reais motivos, mas hoje tenho percepção do que queriam com aquilo: jogar o homem provedor, viril, hétero na vala comum, no limbo. Em nome do quê? E para quê? Ainda não tenho certeza.

Preste atenção ao mundo que nos cerca. Não estão deixando nascer mais homens. O sujeito tem sido combatido desde a maternidade. O azar será se você nascer homem. (Falo aos que ainda não vieram ao mundo.) Ao pôr a cara para fora da calçada, seu machismo já está sendo combatido. E pelos próprios pais. A criança já não pode ter birras, valentias como homem e ser muito ladino — palavra exumada —, que já querem lhe dar uma boneca para brincar. Nem entro no mérito dessa pregação ordinária, que ninguém nasce homem ou mulher (pelo órgão sexual), mas tudo é uma construção social. Essa conversa cansa até gente deitada.

Numa entrevista à Tv Canção Nova, o excelente (e politicamente incorreto) Padre Paulo Ricardo, a quem me põe a rezar todos os dias, disse que estão acabando com os meninos. Por que menino não pode mais brincar de espada, de pistola, com armas? Brincadeira de menino era brincadeira de guerra, de luta. Disse: "ele é um guerreiro do bem. Ele tem que lutar do lado do bem... Você tira isso dos meninos, você educa mocinhas covardes." Exatamente o que está ocorrendo. E os pais estão indo por aí, sem pensar. Esse serzinho será, na vida, aquele que deverá ser protegido e não o protetor; nunca aquele que se atira para salvar a mulher.

Na série Downton Abbey, um personagem bastante marcante é o lacaio Thomas. Embora não pareça, à primeira vista, mas Thomas é gay. Isso fica muito sutil nos primeiros episódios. (Ele tenta até o autoflagelo para se "curar".) Mas a questão de Thomas era subir na hierarquia dos serviçais da família Crowley . Ele queria ser o mordomo. Com o estouro da primeira grande guerra, ele é recrutado para o front. Naquela época, de heroísmo, o homem sentia-se honrado em lutar pela pátria. E a guerra era uma forma de exalar bravura. Menos para Thomas. Ele estava na guerra, mas a guerra não estava nele. Ele pensava em Downton. Numa maneira de voltar para casa, ele, entrincheirado, acende um cigarro, levanta a mão e fica à vista do inimigo. É atingido por um disparo e tem a mão perfurada. Imediatamente é desligado do batalhão e volta para casa. Uma atitude covarde, no meio de tantos homens de guerra.

Se assim continuarmos (criar maricas e não homens), iremos ter escassez de homens no futuro. E as mulheres, como alertou o Fantástico, irão perder o  interesse por eles. Irão se enrolar e fornicar com outras da sua espécie — já está ocorrendo. Por que a mulher seria atraída, sexualmente, por  um ser igual a ela? Não que os opostos se atraem, digo daquilo que a mulher mais busca num homem: a virilidade, o apoio, os braços fortes, a proteção. Desde o paleolítico.

A revista SuperInteressante, a qual chamo de "Desinteressante", é marcada por reportagens polêmicas e sempre aquelas que contradizem a história, ou os tabus sociais. O costumeiro das suas capas é apologia à maconha, questionar as doutrinas cristãs e enaltecer outras religiões, como, por exemplo, o islamismo. Numa dessas reportagens fraudulentas e, diga-se, bem covardes, eles afirmaram que crianças (meninos) que se vestem de super-heróis vão se tornar crianças violentas. Claro que isso é uma piada. Fosse verossímil, eu estaria, hoje, chutando cachorro por aí. Tive a minha infância sobre meus cavalos imaginários, revolveres de madeira, correndo para lá e para cá, matando meus bandidos, também imaginários. Essa gente quer acabar com o guerreiro, o homem milenar. Só pode.

Calma. Ainda chegaremos ao clímax dessa doutrinação politicamente correta; que os heróis dos gibis, e hoje nas telas do cinema, serão proibidos, em nome do combate à violência que eles afirmam estimular. Será o fim do Batman, Superman, Homem Aranha, Homem de Ferro, etc.  Não teremos mais heróis. E, em terra sem heróis, triunfarão os vilões, ou, quiçá, ressuscitarão o velho Capitão Gay, do Jô Soares. Numa forma de ser doce com o mundo e não ferir o outro com sua espada de plástico.

O machismo, amaldiçoado pela #WomenMarch (um dia depois da posse de Donald Trump), é o inverso do que se prega pela grande mídia — homem que bate em mulher é um covarde e não machista. Todas as conquistas da mulher, no trabalho e civil, só se obteve no mundo ocidental. E essas má amadas estão brigando exatamente com esse mundo, dos homens. O mundo que as projetou. Ninguém dessas defende a mulher das leis muçulmanas, do Sharia. Hipocrisia é pouco.

Machismo é o estado natural do homem em proteger e preservar a mulher de quem quer deformá-la e transformá-la em outro homem: o feminismo. Uma mulher que cai nas garras do feminismo é como aquele que vai à cracolândia para experimentar droga. Quase sempre não tem volta. Quando volta, torna-se um macho mal acabado, usando um termo rodriguiano. Não estou aqui, como conservador, para salvar o mundo, mas proteger o mundo dos seus salvadores. E eles são loucos e sedentos.

E o bofetão? Ninguém mais dá e nem leva. Coisa de melodrama? O mundo politicamente correto não aceita o revide, o tapa na cara como resposta. Quando as palavras se esgotam, o bofetão era o remédio, aquilo que faz um ter pena do outro, se acariciar e se perdoar. Não se dá bofetão, só porque se odeia, mas, muitas vezes, porque se ama demais. No amor também nos ofendemos ("Atrás da Porta", de Francis Hime e Chico Buarque, deve ser lida, relida). Dali, e pós a mão cheia, tudo se acalma. Eles percebem (homem e mulher) que era a dor que precisavam sentir para exaurir. Era como nas novelas clássicas: bateu-levou. Depois, no final, se casavam. 

En passant, vi um documentário da Tv Animal, sobre a vida dos cães selvagens na África. Muito interessante como as coisas se comportam no reino animal (ou não somos parte dele?). A hierarquia da matilha é uma regra, respeitada pela força. Você tem o macho alfa e a fêmea alfa. Eles são os guardiões do grupo. A fêmea escava a toca onde seus filhotes nascerão, enquanto os outros vigiam o ambiente. Quando os filhotes nascem, a função dos demais, além de protegê-los, é buscar comida. E quem vai caçar? Os mais fortes, vigorosos, os mais preparados. Enquanto, no esconderijo, os filhotes, e aqueles que estão velhos e feridos, esperam pelo o alimento. Quando os caçadores chegam, o alimento é distribuído para todos, sem distinção.

Voltemos ao paleolítico, e veremos que o homem não punha a mulher para caçar. Ela, sem força física, seria uma presa fácil aos animais selvagens. Mulheres já brotaram dóceis e delicadas. Elas têm, exato, o instinto do cuidado, do zelo. E por isso, trazem os historiadores, ficavam protegidas em cavernas, cuidando da cria, à espera do alimento, do seu homem. Assim era, porque assim são ainda os cães selvagens africanos. A diferença é, o homem evoluiu em muitos aspectos, e os cães, não. Ainda continuam no modo antigo de sobrevivência.

"Estamos cegos, surdos e mudos para o óbvio", dizia Nelson Rodrigues. E a vida, ipsis litteris, é, 24 horas calcada pelo óbvio do habitat, do meio ambiente. Os cretinos, interventores do mundo, querem mudar regras milenares, porque entojaram do cotidiano, da mesmice. Nelson também disse:
"A mulher pode ter qualquer idade. Não o homem. O homem não pode ter dezoito, ou quinze. Aos dezoito anos, não sabemos nem como diz 'bom dia' a uma mulher e não podemos fazê-la feliz, em hipótese nenhuma. Para o homem, o amor não é gênio, não é talento, e sim tempo, métier, sabedoria adquirida. Fiz as considerações acima para concluir: — o homem devia nascer com trinta anos feitos." 
Digo ao homem (depois dos 30 anos): não se perca em ter que ser politicamente correto com mundo que o persegue. Seja incorreto, seja um homem natural, com suas características biológicas, físicas e de instinto; abuse da sua condição. Debruce os olhares sobre as pernas, os decotes, se inspire e respire esse ar bom que vem da fêmea que lhe rodeia num mall de shopping; e que ela lhe traga seus desejos por inteiro.

Numa festa de mulheres lindas, o homem solteiro deverá ser apresentado aos decotes, antes de qualquer palavra. É sobre eles que ele depositará a sua fidelidade perpétua. O que atrai um homem é aquilo que é segredo, obscuro, transparente, invisível. Aquela ponta de auréola que desponta e ele tenta perceber com olhares lânguidos. Lá, depois dos seus 30 anos de vida conjugal, ela ainda irá lhe atiçar com suas luzes, como um luminoso que pisca sobre seu cólon.

Não sei que nome eu daria para a essa crônica. Pode ser "O decote", "Os peitos", "O cólon", ou qualquer coisa que me seduz e faz meus olhos hipnotizados, imantados por uma mulher. Então, põe aí: "O decote salvará o homem". Eu creio.

Se você, homem, conseguiu chegar ao final desta crônica, e pretende salvar a sua espécie, nunca deixe de cobiçar um bom decote, quando deparar com uma pecadora e linda mulher (cuidado com o silicone e outros disfarces). Sem receio de ser advertido por um bofetão; e sem pena nenhuma, nem dó da sua vítima.

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Janeiro de 2017

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A taça de vinho (quase) vazia



Meu domingo à tarde, com o sol ardendo lá fora, é aqui dentro. Aqui dentro de casa, deste escritório, dentro de mim e na frente desta tela. Esqueça o churrasco, os amigos, a conversa fiada. Quando venho para cá (para este Blog) é por que o caldo entornou; é por que há muitas frases soltas, vírgulas e et-ceteras no caminho — um divã de palavras. (O et-cetera de "Crônicas" são as batalhas que não se esgotam.) Pode o mundo ruir, mas as questões nunca. Sempre caberá uma pergunta derradeira no fim do mundo: Por que acabou?

Bem, não sei por onde começar, o que me incomoda desde quando saí caminhando da igreja, mas vamos lá.
 
Se o leitor atual revirar aqui no Blog, vai encontrar o texto Eu não tenho mais tempo para errar, onde eu abordo sobre essa inquietude que acomete as mulheres, de querer formar uma família, ao mesmo tempo que a fertilidade vai escorrendo por entre os dedos. Era uma preocupação da ocasião. Então, volto a questionar essa mulher caminhando para o amadurecimento (entre os 30 e 40 anos).

Foi esses dias, fiquei entalado pela saliva, depois de me ater numa conversa de botequim com mulheres nessa faixa etária. Descobri que, elas já não pensam tanto assim sobre essa vida partilhada e família constituída como regra social. Elas já buscam outras causas (focos), que não sabem bem o que são, mas é para lá que querem ir. Como entender isso? Estou tentando.

Então, inquiri: — Você quer casar e ter filhos? E a resposta veio negativa. Encontrar alguém, sim, com quem possa passar umas horas, viajar, fazer sexo, mas nada de ter responsabilidades com filhos e outras preocupações. Decifrei algo mais: ela, ao que me parece, nem deseja desfrutar do mesmo teto. E ainda fez uma auto pergunta: — "Será que precisamos mesmo encontrar alguém?" Algo traga essa mulher para um lado escuro da vida. Ela não sabe, porque desconhece essas forças do mundo que a embaraça e transporta seus olhos para outros desejos.

Para muitas delas, um homem do lado — sem muitos traumas do passado, claro — é o suficiente; aí pode complementar com um cachorrinho, ou um gato e já basta. Nada que dê muito trabalho. Depois, ela é uma mulher fitness, que pedala, corre, sai com as amigas (cazamigas), faz pós, faz selfie no face, ri muito, faz serão, etc. Uma mulher sem tempo para banalidades e coisas ultrapassadas como carregar uma barriga por nove meses. Em consequência, a celulite que isso gera. Deus me livre!

O que tem mudado esse comportamento? O que faz essa mulher jovem escolher o caminho da academia ao do altar e maternidade? Por que ela não tem mais medo do pejorativo "solteirona"? Talvez estejamos mesmo passando por esse período, como uma sombra que paira sobre um mundo já sem afeto, de alegria triste e tudo que a expulsa para fora desse modelo social. Pode ir embora ou ficar por longo tempo.

O relativismo moral, muito presente em nossas vidas, minimizou o pecado, a tragédia, o rubro da face, a culpa; não há certo ou errado, bem ou mal, belo e ridículo; porque tudo virou ponto de vista — uma quebra de regras seculares. Essas coisas que nos deixam mais light e não nos implicam mais com nada — a cabeça erguida, sem culpa, diante do ato mais vexatório. A verdade foi arrancada do mundo pelo ponto de vista de um idiota. Quem lhes tirou o sonho do vestido de noiva? E do buquê? E da lua de mel?

Li uma entrevista do psiquiatra Augusto Cury, onde ele afirma que temos uma geração triste e depressiva. Ele fala desses novos seres que ainda estão dentro de casa, dando trabalho aos pais. Mas posso dizer que, a geração da tristeza-sem-razão é contagiante, está em nós, adultos. O mundo anda triste, sem razão:
"Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos ensinar nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Essa geração precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos e alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. O resultado: são intolerantes e superficiais. O índice de suicídio tem aumentado. A família precisa se lembrar de que o consumo não faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam ser estimulados a se aventurar, a ter contato com a natureza, se encantar com astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e profundos da natureza que não são rápidos como as redes sociais."
Ninguém quer lutas muito pesadas e cruzes para carregar. Todos fogem dos problemas com medo de não dar conta. Desejam viver o superficial da vida, evitando tropeços, arranhões e quedas. Um filho que chora, um marido que trai, uma casa para cuidar, uma conta bancária no limite do cheque especial? — Estou fugindo disso! — pensa essa nova mulher.

E não digo que há um dedo do sexo masculino nisso (nessa mudança de pensamento). Há sim. Desde que o sexo ficou fácil, o amor ficou difícil. A frase que já li por aí é, sim, verdadeira. O jogo de sedução do homem é agora também o dela. Elas se jogaram na vida.

O jornalista Arnaldo Jabor disse numa entrevista que, nos anos 1960, para você comer uma mulher que estava afim, não era assim tão fácil. Você tinha que ter pensamentos revolucionários, ser marxista, de esquerda (ou dizer que era), demonstrar um certo ar de rebelde sem causa, etc. Hoje a coisa mudou. O homem não precisa muito esforço para seu intento, basta que tenha um pouco de dinheiro e ostente algo que não tem; depois que esteja no lugar certo, na hora certa e disponível. Então, você quer dizer que ficou chato ao mesmo tempo que ficou fácil? Sim, o sexo casual banalizou o desejo pelo sexo oposto. É muita oferta com pouca qualidade. Mas quem quer qualidade?

Uma coisa que me vem agora é, depois que o Estado brasileiro resolveu interferir na condução da família, impondo a  tal lei da palmada junto com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), os pais perderam a autonomia para criar filhos ao seu modo. Em consequência, essas solteiras passaram a enxergar um estorvo e aí desistiram do desejo. A impressão clara é que, o governo petista, que nos guiou por 13 anos, trabalhou contra o modelo de família. Com isso, a família passou ser qualquer união entre pessoas, mesmo que dure uma semana. Eles conseguiram nos atingir.

Faço um novo parênteses, para lembrar um trecho de um texto de Luiz Felipe Pondé, publicado na Folha de São Paulo, onde ele fala de pessoas críticas (muito comum nos dias de hoje) e como elas estão destruindo o desejo:
"Outro fetiche é o da revolução. Toda pessoa crítica faz uma revolução por fim de semana. Mas, entre todas, a mais ridícula é a revolução sexual, aquela que matou o desejo e o afeto entre homens e mulheres. Quando, no futuro, estudarem nossa época, perceberão que, entre as baixas causadas pela gente crítica, estarão o afeto e o desejo. Nunca ambos foram tão falados e tão combatidos a pauladas. Afogados na banalidade das quantidades."
A morte do desejo e o afeto, é isso, só pode ser isso que está acontecendo. Quanto mais nos tornamos amantes da nosso umbigo (amar a si mesmo), mais deixamos de ter desejos e afetos. O que vamos concluir lá na frente, que não precisamos de ninguém, nos bastamos. Sem percepção e mais contato dos sentimentos que estão indo embora do mundo. Quando o sexo tornou-se um assunto político e saiu da cama, banalizou e virou discurso de tribuna, e não mais o desejo de um pelo outro.

Tudo vem para embaraçar, criar nuvens de fumaça onde tudo parece ser tão simples. Como ensinar, por exemplo, seus filhos que há outros gêneros além do masculino e feminino? E que ele pode ser o que quiser (homem ou mulher); e se ele demonstrar seu machismo por aí vai sofrer represálias. Os portais de notícia — leia a UOL e saberá — vivem trazendo temas polêmicos (pelo menos eles acham), para uma sociedade, majoritariamente conservadora, discutir. Levam pau nas redes sociais. Ninguém quer saber se há homens transando com homens, mesmo não se achando gays por isso — o que eles chamam de HSH. Quem eles querem atingir com isso? Tirar pessoas do armário, talvez.

Como que a humanidade passou milhares de anos, sem saber, e só agora esses jornalistas bonzinhos vêm nos trazer esses novos arranjos? Essa gente pensa que o mundo começou nos anos 1960, só pode. Depois, eles mudam os termos para dizer que há algo novo e bom que só nos "fará crescer como seres humanos". Falo do tal "poliamor" (entre aspas), uma prática que estão dando manchete como uma nova roupagem ao que já chamávamos antes de suruba, ou poligamia.

Esses progressistas são os contribuintes desse mundo, que dizem ser melhor; eles estão dando um fim no desejo, no afeto, no interesse singelo e milenar entre homens e mulheres. O que essa gente quer para o mundo? Eu não sei, porque eu sempre pensei em preservar o que eles querem mudar. É uma luta eterna.

Neste momento (caminhando para o encerramento desta crônica), no arrebol desta tarde, essa balzaquiana, de quem eu falo, está numa festa com amigos, bebendo, fazendo selfies, sem muita preocupação que amanhã é segunda-feira, e ela terá um dia hard pela frente. (E essa não é a vida?) Mas, nada que uma boa aula de bike no fim do dia não renove. Depois, ela vai para casa comer o que tem na geladeira e ficar de pernas para o ar no WhatsApp.

E este cinquentão está aqui, pensando nela. Sob um pavor, que esse mesmo mundo que a tragou, também com ele está flertando: venha, venha... Percepções e sintomas de quem tem como única companhia, aqui e agora, a solidão de escritor — eles são sempre solitários — e junto uma taça de vinho quase vazia. Acabou. Por que acabou?

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Setembro de 2016

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A paisagem da mulher



Quando subires o alto de uma montanha, podereis vislumbrar uma linda paisagem. Então, sentirás uma imagem real que se constrói perante teus olhos. Separadas, em fragmentos, não se representam, não terão todas as maravilhas; assim como as pétalas de uma flor desfigurada. Mas combinadas, elas revelam nuances. A beleza que não se toca está ao longe. Em tudo, jamais conseguirás tirá-la do lugar e levá-la para ti. Ela esta lá pra ser mirada, mas não alcançada e tocada. Estará lá para ser sempre contemplada, mas nunca penetrada. As fotografias guardadas e empoeiradas, mais tarde, revelarão por quê... Tereis saudade daquilo. Ela revelará e guardará em ti o signo do belo.

Assim, poderás dizer também dos retratos que ficaram de MARILYN MONROE (como um grito à beleza). Ela já se foi, dirão alguns. Ela agora virou a imagem que não pode ser tocada e nem retocada no tempo. Jaz com ela o projeto do arquiteto do corpo. Ela não diz nada, não reflete, não participa, não atua, mas ainda emana... Num álbum de retratos, ou na tela do artista. Ela é a imagem da paisagem que não podereis tocar. Tu somente contemplarás. Na busca da fórmula, do sentido pacificador do prazer, e como torpor da alma. Tudo aquilo que todos nós deveríamos admirar com seu dom infinito. Os gregos diriam Afrodite. Marilyn é hoje a luz que não se aplacou; Marilyn é hoje uma paisagem de mulher.




© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Abril de 2013.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Futebol, religião, mulher...

Há coisas que não se discutem, dizem alguns apartadores de brigas, da turma do “deixa disso”. Futebol, religião e mulher. Será?

Futebol
O futebol, por chiste, se discute e muito. Que graça tem em ter um time e não falar dele, nem quando está mal no campeonato? Que graça tem chegar ao trabalho, depois do seu time ter vencido, e não tirar um sarro de alguém? Que graça teria os programas esportivos, se não houvesse as discussões, as polêmicas? A bola entrou ou não? Nenhuma graça. O futebol subsiste em razão também das discussões.

Quando saio à rua com a camisa do meu time, sempre alguém irá dizer algo, ou me chamar somente de “o palmeirense”. Gosto disso. Aproxima, trás a conversa, cria-se intimidade, cria-se amizade... Não tenho essa paixão desvairada, e quando é para falar mal eu falo, até por qual eu torço. Teimo ainda, as famílias deveriam ser formadas por membros com torcidas opostas. A discussão no futebol deve existir num ambiente saudável, sem brigas de arquibancadas com fraturas expostas. Abomino as brigas e louvo o futebol com discussão de pontos de vista.

Religião
No campo da religião, não há o que discutir. Todas têm razão. Faça uma experiência, se você entrar em algum templo - que nunca foi -, sairá de lá convencido que aquela é a melhor doutrina a seguir, o melhor lugar para frequentar. Nos novos templos, não te deixarão sair sem esse convencimento. Eles irão recebê-lo com sorriso na porta, como se você estivesse entrando numa agência bancária. É uma disputa por fiéis, e porque não, também por poder. Deus é a maior moeda que reina no mundo. Todo mundo quer vendê-lo à sua maneira, até porque não é visto por aí dando explicação de Sua existência, embora todo mundo busque para suportar sua própria cruz. Em troca dessas graças, provará sua fé, em muitos casos, com seu dinheiro.

Tenho amigos de outras religiões, ou que seguem algumas doutrinas. Resumidamente, cristãos e espíritas. Algo contra? Nenhum. Há gente boa em qualquer religião; há gente boa sem religião nenhuma também. A religião não é o termômetro que mede a bondade ou a maldade humana. Há gente fazendo coisas absurdas em nome de Deus; como o traficante que lia a Bíblia e empunhava um fuzil em outra mão, quando dava entrevista à jornalista. E dizia: eu sou cristão, leio a Bíblia.

Na linha do extremismo, temos o islamismo muçulmano, pouco conhecido por nós ocidentais, mas já vimos fazer barbaridades por sua causa, sua fé. O que dizer deles? Estão fundamentados em culturas que não chegam até nós. Respeito sem tocar.

Eu tenho a minha – Católica Apostólica Romana – e não fico tentando convencer ninguém ter aulas de vida com padres é melhor do que pastores ou rabinos. Para mim é uma questão, antes de tudo, de respeito à minha formação, à memória de meus pais, às tradições dos cultos que aprendi com eles e seus antepassados. Em ter que confrontar com certas regras dentro da igreja, procuro extrair o que é bom. Gosto de ir à missa, preferencialmente aos domingos pela manhã. Sinto-me bem, vendo a igreja naquela comoção de oração e cânticos sem fim. Deus está ali, não tenho dúvida.

Houve o tempo que as missas eram chatas, com padres velhos que falam coisas que não entendíamos. Os ponteiros do relógio demoravam a rodar. Hoje as missas melhoraram no aspecto de tratamento aos fiéis, com acolhida. Mais conforto, padres modernos e que estão nas redes sociais, sorridentes. Missas, cultos, reuniões e Deus; com humor, graça, devoção e fé.

Mulher
Uma amiga polarizou uma discussão comigo (pra que discutir com madame?). Quem é mais bonita, Jennifer Aniston ou Angelina Jolie? Coincidência ou não, uma esteve e outra está nos braços do mesmo homem. Ele poderia dizer melhor do que nós. Bem, ela teimou em Angelina e disse que Brad fez a melhor escolha. Pode ser verdade, mas até onde posso extrair (com os olhos), parece-me que Angelina tem uma beleza estática, retilínea, opaca; uma pintura de quadro, de uma Monalisa do século XXI. Apesar de ser linda, acho um tanto aplacada. Já em Jennifer, eu vejo aquela coisa da beleza em movimento, graciosa e cheia de charme. Se for mal-humorada ou não, não posso dizer. Só a vejo em suas comédias; e ela só afaga meus olhares.

A beleza e seu padrão são universais, como podemos ver no concurso de Miss Universo. Não existe beleza diferente, em países diferentes, hemisfério diferentes, regiões diferentes, continentes diferentes... O padrão de beleza é mesmo universal. E a beleza está na mulher e com a mulher. O concurso de Mister Universo não tem o mesmo peso do Miss Universo. Por quê? Tanto os homens quanto as mulheres preferem o padrão de beleza feminino. Ou, alguém já viu um bando de mulheres se reunindo em casa, com cerveja e petiscos, para ver Mister Universo? Acho que as TVs nem transmitem. Homem não discute sobre homens belos. Por que ele vai ater-se, se ele pode apreciar obras mais bonitas, as mulheres?

Agora, não há "beleza interior", porque beleza está no olhar. Segundo o dicionário Larousse: Be-le-za, sf (belo+eza)1 Qualidade do que é belo, conforme um ideal estético. 2 Harmonia, perfeição de formas. 3 Mulher bela, sedutora. Aquilo que adoça os olhos. Não vemos (com os olhos) o coração; sentimos com o coração, o coração. Portanto, não existe beleza interior. Beleza é aquilo que se vê; não o que se sente.

Outro exemplo, quando olhamos uma flor linda no jardim; iremos admirá-la por sua beleza e não pelo que tem em sua seiva. A beleza é a primeira coisa que nos chama atenção. Se há num jardim, uma rosa linda e uma touceira de alcachofra, ninguém prestará atenção na "beleza interior" da alcachofra (que faz bem à saúde); iremos olhar primeiro a flor que está ao seu lado... Não existe beleza interior nas pessoas; existe a bondade, o que também não deixa de ser uma atração. Beleza não é sinônimo de bondade, embora alguns dicionários ainda tratem tudo na mesma etimologia.

Acrescento à beleza, charme e bom-humor (já escrevi em outro texto). Uma mulher bonita deve ter o andar bonito, com charme e elegância; seus olhos (azuis, negros, castanhos, verdes esmeralda...) devem olhar com sedução e resplandecer; ao se expressar, deve falar e sorrir com a mesma boca, como se ouvisse a piada mais engraçada do mundo. Quando fazia ensaios de cenas para seu último filme - não terminou - "Something's Got to Give", Marilyn Monroe andava pelo set e ria com gargalhadas para a câmera; sem motivo aparente, apenas porque era focada e nada do que expressava serviria ao filme. Era só um teste de câmera. Era seu momento de luz e esplendor.

No conjunto da beleza, formará um grande ser humano, se além de tudo isso, tiver a bondade em seu coração, a "beleza interior". Tem algo mais para discutir?

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As feias e as belas

Uma das constatações mais verdadeiras é a falsa amizade entre duas mulheres... Pronto! Lá vem um exército de feministas me apontar: você é um machista! Nada disso, sempre acreditei e continuo. Claro que falo daquelas grudentas, siamesas. Já disse isso, várias vezes, a elas mesmas, e nenhuma me contestou ou colocou um “ops!” sobre esta observação. Algumas até reforçaram a tese; outras se calaram e olharam de esguelha, a lembrar-se (com ódio) de alguma falsa amizade que vivenciaram.

Na época da faculdade, eu e um amigo, fazíamos apostas para ver quanto tempo duraria uma amizade entre duas inseparáveis criaturas do sexo feminino. Toda vez que uma declarava amor eterno à outra, nossos olhares se procuravam por trás das cabeças, para um risinho disfarçado e incontido. Na maioria das vezes, aquela paixão de super amiga pra cá, queridinha pra lá, durava até uma delas se interessar por alguém - por um homem - que a outra também se declinava. Ou simplesmente, quando uma não concordava com o ponto de vista da outra; ou por inveja da beleza, dos sapatos, do vestido, dos brincos, das outras amizades. Ia se arrefecendo, sem ressentimento; e tudo se transformava num simples “oi”, quando se cruzavam pelo corredor.

Iremos nos defrontar, com alguns casos de amigas que, surrupiaram parceiros de outra suposta amiga. Acontecem ainda. O mesmo não ocorre, na mesma frequência, com os homens. O código da ética masculino não deixa chegar nesse ponto. Homens são mais corporativos; eles preservam-se mais nas amizades, deixando a coisa não entrar em total intimidade. Baseiam o rito da amizade, em conversas sobre futebol, corridas, trabalho, jogos de sinuca... Um homem não vai dar em cima de outra mulher, que esteja no vácuo de um amigo próximo (isto não é uma regra, e tem suas exceções). Homens também não vão conversar, em mesas de bar, sobre suas intimidades com uma mulher, que já virou parceira, companheira. Eles irão contar, muito pouco, se for uma “ficante”, ou sobre um sexo eventual com algum objeto de desejo. Eles não se interessam por ficar falando sobre intimidades.

O mesmo não ocorre com as mulheres. Ela irá contar como foi a última noite com o marido, ou namorado. E conta em detalhes para suas amigas. Depois de vender o seu parceiro às amigas, não quer que elas passem a olhar o rapaz, sem pensar nas suas performances, que ela mesma descreveu. Está a um passo para um desfecho com brigas de puxar cabelos e unhadas acima da cintura. Quase sempre, quando isso ocorre, perderá a amiga e o parceiro.

A amizade grudenta entre duas mulheres não é tão duradoura, porque elas vivem em concorrência; disputa em ser a mais bem aceita nos ambientes que frequentam e por holofotes, quem brilha mais. Não me julguem por querer chutar a canela de alguém, há diferenças antagônicas entre os sexos. Homens e mulheres vieram de galáxias distintas, já disseram alguns escritores da área comportamental. Mulheres com defeitos e homens também. Homens travam lutas e disputas iguais, principalmente em ambientes de trabalho.

Já ouvimos dizer por aí que, mulheres não se vestem para agradar o parceiro e sim para ser observada (invejada) por outra mulher. Algumas concordaram nesta tese também. Um homem – nem todos – não irá reparar no cabelo, nas unhas, nos sapatos, no vestido... Ele resumirá o conjunto todo em: você está linda! Pronto, acabou. Já a outra, esta irá medi-la de cima embaixo, dividindo-a em partes; e mesma a mais bonita, irá observar o que a outra não tem de si que a torne tão atraente.

- Sou mais bela! - Dirá ao espelho do banheiro feminino.

Em seu poema “Receita de mulher”, Vinícius de Moraes causou furor, quando afirmou logo na primeira frase:
“As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental”.
Segue depois, em sua receita, numa repetição exaustiva de “É preciso”; como um desejo ansioso, incólume da mulher ideal, com predicados de santa no altar. Destaco outro:
“Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras / É como um rio sem pontes. Indispensável”
Talvez, uma mulher nunca saiba que, um homem irá observar se tem ou não saboneteiras. Parece tosco para elas, mas esse olhar é o masculino e não da amiga invejosa; como ter pés e mãos delicadas. Alvos, impecáveis e banhados em sândalo; sem marcas, calosidades; perfumados com ervas aromáticas (Pés e mãos devem conter elementos góticos. Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos). Isto não quer dizer que tenham, necessariamente, esmalte e cutículas em dia; mas têm que ter a delicadeza alva. Já vi pés lindos sem ornamentos, somente a tez alva, quase transparente.

Nessa receita do poetinha, com tantos ingredientes, faltou dizer com que tempero. Ou seja, o melhor da receita ficou fora; o tempero final é o que dá sabor em tudo. Entenda tempero, como humor e simpatia.

Sob essa ótica da beleza feminina, uma notícia repercutiu por esses dias. A ministra Iriny Lopes, titular da pasta da Secretaria de Políticas para as Mulheres, entrou com pedido junto ao Conar — órgão que regula a publicidade nos veículos de comunicação —, solicitando a retirada do ar de uma série de comerciais sobre lingerie, protagonizados por Gisele Bündchen. Num dos filmes que vi, Gisele usa uma lingerie preta e termina com a frase “Você é brasileira, use seu charme. Hope, bonita por natureza”. O que há de apelativo no filme? O que há de ofensa à mulher? Nada! O que incomodou a ministra foi a beleza de Gisele, só pode ser! Talvez, a ministra — que já não cabe na receita de Vinícius — sentiu-se ofendida por alguém ganhar dinheiro trabalhando, por causa da sua beleza; já Gisele é uma receita farta, com ingrediente que sobeja até Vinícius. Em porções exageradas, como um extravagante banquete de mulher. E não lhe faltam saboneteiras.

Nada de errado com os não-belos. Os belos tiram proveito, como os feios também podem tirar de sua aparência. Podemos enumerar personagens de filmes e séries, onde os que chamam atenção são os feios. Os personagens Shrek e Fiona, são ogros e feios demais para atrair tanto público aos cinemas, e atraem. O que há com eles? Apesar de tudo, são engraçados e simpáticos. A beleza pode estar incutida nas pessoas. Há luzes que emanam delas; a forma assimétrica de um rosto será ofuscada pelo brilho dos olhos. É claro, há aqueles que são completos: belos e charmosos.

A senhora ministra deve ter sido daquelas que, durante a faculdade, desfez suas amizades grudentas, por disputas e discórdias; por ter alguma amiga que atraia mais atenção para si. Despeito? Sei lá. Volto ao poeta, me perdoe, senhora ministra, porque beleza continua sendo fundamental.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.