Anttonio Oliveira, arquiteto, urbanista e um aprendiz das palavras.
Contatos:
Email: anttonioarq@yahoo.com.br
Twitter: @Anttonioarq
Instagram: anttonioarq
BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.
Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempo – Carlos Drummond de Andrade)
Quando subires o alto de uma montanha, podereis vislumbrar uma linda paisagem. Então, sentirás uma imagem real que se constrói perante teus olhos. Separadas, em fragmentos, não se representam, não terão todas as maravilhas; assim como as pétalas de uma flor desfigurada. Mas combinadas, elas revelam nuances. A beleza que não se toca está ao longe. Em tudo, jamais conseguirás tirá-la do lugar e levá-la para ti. Ela esta lá pra ser mirada, mas não alcançada e tocada. Estará lá para ser sempre contemplada, mas nunca penetrada. As fotografias guardadas e empoeiradas, mais tarde, revelarão por quê... Tereis saudade daquilo. Ela revelará e guardará em ti o signo do belo.
Assim, poderás dizer também dos retratos que ficaram de MARILYN MONROE (como um grito à beleza). Ela já se foi, dirão alguns. Ela agora virou a imagem que não pode ser tocada e nem retocada no tempo. Jaz com ela o projeto do arquiteto do corpo. Ela não diz nada, não reflete, não participa, não atua, mas ainda emana... Num álbum de retratos, ou na tela do artista. Ela é a imagem da paisagem que não podereis tocar. Tu somente contemplarás. Na busca da fórmula, do sentido pacificador do prazer, e como torpor da alma. Tudo aquilo que todos nós deveríamos admirar com seu dom infinito. Os gregos diriam Afrodite. Marilyn é hoje a luz que não se aplacou; Marilyn é hoje uma paisagem de mulher.
Como sabem, velharia é comigo mesmo. Cultivo as coisas antigas sem medo de ser chamado de “retrô”. Por sinal, eu até gosto... Já tentei confundir minha mente (e o coração) a querer gostar do novo, mas eu volto sempre aos objetos abandonados, por mero descuido, no buffet da sala de jantar; como já disse, dos “tesouros enterrados”.
Poucas pessoas entenderem esta frase que escrevi numa crônica de 2010. Cabe explicação. Algumas coisas são tão valiosas em nossas vidas que, acho que deveriam ficar escondidas para serem preservadas. Por isso usei o termo “enterrar”, ao invés de guardar. As histórias fictícias de piratas contam de tesouros enterrados. E quando alguém os enterra, entendo que tinha grande valor e só aquela pessoa sabia da sua existência. O que é bom deve ser enterrado para sempre. No futuro, serão como peças antigas que arqueólogos escavaram para descobrir nosso passado.
Tenho uma paixão - até ontem era contida - por cartazes de filmes (posters). De preferência pelos filmes antigos. Acho que os cartazes tinham um papel fundamental nas campanhas publicitárias, de divulgação e bilheterias, nos tempos do Cinemascope. Quando não havia tantos meios de publicidade e quase tudo se resumia aos jornais e magazines.
Há peculiaridades nesses cartazes. O segundo nome da atriz/ator/diretor era mais relevante que o primeiro e por isso se escreviam em caixa de letra maior. Outra curiosidade era “Cinemascope” (you see it without glasses!) que aparecia como um chamariz nos cartazes. Cinemascope é o que chamamos hoje de “widescreen”. Foi criado pela Twentieth Century Fox, e utilizado na produção e exibição de filmes entre 1953 até 1967.
Como não havia grandes produções a cores, era um chamariz também o “technicolor”. Neste mesmo período, os filmes em preto e branco ainda sobreviviam, embora já se fizessem os “technicolors”. A resistência de alguns diretores era porque alguns filmes em P&B escondiam imperfeições de maquiagem e cenários que o colorido expunha demais. E o público poderia perceber tais imperfeições.
Liguei a tv outro dia e pude ver ainda o final de uma entrevista (que pena!) de um ilustrador de filmes brasileiros. Nem seu nome lembro mais. Ele era ilustrador, na década de 70, de cartazes de filmes brasileiros, na época da pornochanchada, de atrizes como Vera Fisher, Nádia Lippi, Helena Ramos e Aldine Muller; aquilo que chamávamos de “sala especial”. Ele conserva muitos desses cartazes como foram desenhados e produzidos. Uma relíquia.
Reuni uma coleção de cartazes dos filmes de Marilyn Monroe (sempre ela), para mostrar como era esta arte; onde o ilustrador tinha um papel determinante na publicidade, não usando nenhum computador ou tecnologia gráfica para criá-los. A coisa nascia no papel, com pincel e guache. As ilustrações tinham a perfeição de fotografias e puxavam das silhuetas e corpos os destaques mais acentuados: pernas, bocas, mãos e gestos. Noutras eram fotos montadas, com a mesma técnica.
Durante uma noite, quando navegava pela rede, descobri – sem querer - um texto escrito três dias depois da morte de Marilyn Monroe (a pronuncia certa é “monrôu”). Essa crônica, intitulada apenas “MARILYN”, foi publicada no Caderno B do Jornal do Brasil no dia 08 de Agosto de 1962 (ela morreu dia 5). Seu autor é o cronista José Carlos Oliveira. Desconheço seus textos, mas este vem bem de encontro ao que escrevi sobre ela. O mito, a mulher, a sensual Marilyn Monroe.
MARILYN
Antes de mais nada era um corpo, não há dúvida. Um corpo tremendamente perturbador. Um corpo de formas opulentas, sempre na fronteira da obesidade: corpo de mulher-fêmea, acrescido de um defeito particularmente feliz nos joelhos: quando ela andava, só pensava em sexo, sexo, sexo. A pele clara e roliça descia vertiginosamente pelos decotes, deixando entrever a totalidade do corpo envolto em roupas colantes, e então ninguém mais pensava em outra coisa que não fosse sexo. Mas era, além disso, um sorriso maravilhoso, ao mais belo sorriso que jamais houve. Quando Marilyn sorria, a perturbação do espectador aumentava. Ela sorria com a língua entre os dentes – dengosa, maliciosa, pura dádiva. Era a feminilidade em pessoa. A alegria em pessoa.
Ela não teve infância. Nem pai, nem mãe, nem família. Cresceu como enjeitada em sucessivos lares. Não há motivo para atribuir à publicidade a informação obtida no momento supremo da glória: - violaram-na aos sei anos de idade. Há um detalhe praticamente infalível na biografia dessas deusas da beleza, sejam atrizes ou call-girls, de acordo com o inquérito e com os depoimentos de psiquiatras: - nos Estados Unidos, a violação de meninas bonitas ocorre com a assustadora frequência. Humbert Humbert, atormentado pelo encanto da nymphets, não é apenas um momento privilegiado do romance moderno, mas a revelação de um desejo que está presente na aventura íntima do cidadão norte-americano, desejo ara o qual Lolyta provavelmente representa um veículo liberatório eficaz.
Marilyn encontrou na história do cinema pela porta do menor esforço, isto é, tão logo descobriram que tinha corpo. E tão logo decidiu revelar-se na totalidade sua pessoa, isto é, corpo e espírito, sensualidade e tormento, ânsia de felicidade e desconforto no pináculo da fama – humana, frágil, sedenta de afeto, incompreendida e solitária – então, foi deixada em paz. Naquela paz desconfortável, naquela pobreza profunda da vida rodeada de riqueza e mentira. Mas eu pensei muitas vezes que o ser humano é indestrutível, porque toda a vergonha daquela infância e, mais tarde, o selvagem mecanismo que cria e devora os ídolos modernos, nada disso conseguira destruir o maravilhoso e inesquecível sorriso de Marilyn. Agora vejo que estava enganado.
Por José Carlos Oliveira
Jornal do Brasil – 08 de agosto de 1962
Sobre o autor:
José Carlos Oliveira (Vitória, 18 de agosto de 1934 - Vitória, 13 de abril de 1986) foi um escritor brasileiro. Celebrizando-se por suas colaborações diárias no Jornal do Brasil para onde escreveu por mais de duas décadas, tornou-se um dos grandes cronistas brasileiros do século XX, mas praticou também o romance e o memorialismo.
Quando pensei em escrever essas linhas, era
pretenso que o texto fosse jocoso, cômico; pinçadas textuais como referência às
comédias dos anos de 1950, protagonizadas e estreladas por Marilyn Monroe. Aos
poucos, enquanto mergulhava em sua vida, aparecia mais e mais a sua verdadeira
silhueta: medos, perturbações, insegurança, frustrações, vozes, dualidade e as
buscas (sem remédio) para uma mente doentia. Percebi a seriedade que
deveria tratar a pessoa, e, consequentemente, o mito que desejava descrever.
Já faz alguns meses ganhei de uma amiga o livro
“1001 filmes para ver antes de morrer”. Para cinéfilos, um belo presente, um
livro de consulta e profícuo. Se conseguir ver a metade dos filmes ali
recomendados, já estarei satisfeito. O livro seria perfeito — minha amiga vai
brigar comigo —, se não faltasse um filme. Cadê, senhor editor, “O pecado
mora ao lado”? Você esqueceu! Você não gosta de Marilyn? Já sei! Como todas
as outras mulheres feias e desprovidas de “sex appeal”, sua mulher o
proibiu da recomendação do filme. Despeito, Marilyn ainda vive e continua
causando com ou sem a inveja de sua mulher. Mas, pode dizer que não há
mais nada além de Marilyn naquela comediazinha sem tempero; aceito, afinal o
que mais precisaria aparecer naquele filme do que a figura de um mito. E
maravilhosamente linda.
Verdade mesmo, ele não se esqueceu dela, esqueceu só
do filme. No livro, cita o filme “Quanto Mais Quente Melhor” — 1959, também
estrelado por Marilyn, mas a cena ali foi roubada pela interpretação de Tony
Curtis e Jack Lemmon fazendo papéis femininos. Mas, em “O pecado mora ao
lado” (The seven year Itch) é todo de Marilyn. O título do filme é
justificado pelo que ela representa: a encarnação do próprio pecado.
Frequentemente flertamos com o pecado em nossa vida, mas abolimos a sua
pregação e juramos não mais cometer (eu juro!). “O pecado é que dá
tesão e não a liberdade sexual” — disse Luiz Felipe Pondé. Marilyn é sua
própria encarnação na Terra. Olhar, desejar, pensar em Marilyn é pecar
mortalmente.
Revendo o filme — sempre com os olhos mais atiçados
—, como se esquecer daquela cena imortal do vestido que se levanta ao vento da
grelha do metrô? (Sente a brisa do metrô. Não é uma delícia?) Qual
meninão (ou homem feito) não tenha tocado o chão com suas babas naquelas pernas
torneadas e a inocência da personagem tentando segurar a barra do vestido
plissado? Ela nem precisou tirar a roupa, aquela cena bastou todas as outras
provocantes já feitas no cinema. Seu marido na época, Joe DiMaggio, quase teve um
ataque quando acompanhou-a no set de filmagem; com a cena sendo repetida
mais de 15 vezes — mesmo sabendo que ela usava duas calcinhas, bem comportadas.
O casamento se ruiu após esse dia, ela pediu o divórcio por não aceitar
mais viver com um marido ciumento que a batia covardemente.
A cada repetição — e não me canso — de “O pecado
mora ao lado”, um centímetro a mais de seu vestido se levanta naquela cena;
Marilyn Monroe está cada vez melhor... Os argentinos dizem o mesmo
de Gardel: “está cantando como nunca”; Marilyn está cintilante, também,
como nunca. É a figura do mito, vivo, presente, imortalizado em nossas
memórias. No poema “Ulisses”, o poeta português Fernando Pessoa
descreve: “O mito é o nada que é tudo / O mesmo sol que abre os céus / É um
mito brilhante e mudo / O corpo de Deus, / vivo e desnudo”.
Os mitos atravessam os tempos, não morrem jamais.
Eternizam como águas nas fontes, jorrando sem parar. Ela é daquelas mulheres
que vieram ao mundo não para ser uma dona de casa, criar filhos, amar um só
homem e viver anônima. Aterrissou aqui para ser estrela, deusa, bela, blonde,
sensual, provocante, fonte infinita e inquieta de beleza... Suas curvas e
silhuetas são injustas às demais obras humanas já desenhadas, provocando um sentimento
ambíguo: se ama Marilyn, se odeia Marilyn — na mesma frase. Uma mulher arguta,
que faz qualquer ser humano sair de sua compostura, até os sem pecados... E vão
dizer que não precisa de talento para isso? A natureza a esculpiu como suas
melhores obras de arte, na forma mais perfeita e generosa. Assim, como nas
palavras que trago de Rubem Alves: “a alma não se cansa da beleza. A beleza
é aquilo que faz o corpo tremer”. Em outro trecho completa: “tive
vontade de chorar por causa da beleza. A beleza tomou conta do meu corpo, que
ficou arrepiado: a beleza se fez carne”
Marilyn é tudo que se pode se dizer de beleza na
inquietude do ser. Um altar contemplativo. Desculpem-me as magras (modelo de
beleza atual), mas ser Marilyn Monroe é essencial. Não há nela, a silhueta
retocada com foto shop, com lipoaspiração e plásticas antes dos clicks e
filmes — truques muitos utilizados hoje em dia. É possível notar, em algumas
cenas, que ela tem até uma barriguinha, bem sutil. É beleza mesmo, pura, sem as
máscaras tecnológicas de hoje, que escondem até o umbigo.
Marilyn nasceu Norma Jeane. Ainda bebê, nos
primeiros dias de vida, sua mãe Gladys Baker — sem condições psicológicas de
criá-la — entregou-a a um casal de desconhecidos. Mãe e avó sofriam dos mesmos
problemas. Contam que, sua avó fazia da gaveta da cômoda o seu berço. Infância
sofrida por muitas perdas e lares arruinados. Depois da morte da avó, a vida da
pequena Norma Jeane foi de casa em casa, até parar num orfanato. Durante um
curto tempo, foi obrigada a viver com sua mãe; uma mulher esquizofrênica,
psicótica e desequilibrada; tão doida — talvez mais — quanto o pai que nunca a
conheceu. Certa vez na infância, num momento raro de lucidez, sua mãe lhe
disse: morra na hora certa! (no auge). Ela obedeceu. Após ter vivido o seu
último romance, com John Kennedy, o presidente dos EUA, Marilyn morreu em
agosto de 1962, aos 36 anos de idade, de causa mortis ainda suspeita.
Ele também morreu um ano depois em Dallas-Texas, por tiros disparados por Lee
Oswald. Algum roteirista sádico poderia ter escrito que ele teve inveja do
presidente garanhão. Eu também teria.
No verdadeiro roteiro da vida, que a levou do
estrelato à morte, ela não soube lidar como os traumas da infância, com o
sucesso galopante, a fama, o sexo, os calmantes para dormir e não dormir, o
desejo dos homens por ela, seus casamentos e com a personagem que criaram para
Norma Jeane; se vendo escravizada por ela até sua última gota de sangue. “Os
homens não me veem, eles me olham” — disse ao seu psicanalista. Faltou-lhe
o quê? O berço necessário da infância, a estrutura familiar, o preparo
para uma carreira de sucesso, o amor das pessoas ao redor? Tudo, talvez, numa
vida curta, onde a única coisa que lhe sobrou, foi beleza em torrente. Ela até
tentou ser normal, mas sem sucesso, ela era Marilyn Monroe.
Depois do fim do casamento com Arthur Miller,
desabafou: “tentei melhorar um pouco, e quando consigo, descubro que estou
imitando eu mesma”. Pobre menina, ela só queria ter uma vida normal, casar,
ser mãe, ter família... Tudo que não teve. Por muitas vezes, dizia invejar as
pessoas de vida comum — se queixava à sua meia-irmã Berniece. Mas, foi tragada
pela fama, levada pelo glamour; subjugada pela personagem que mais soube
representar em sua vida: Marilyn Monroe. Nunca mais voltou a ser Norma
Jeane. Longe das teorias conspiratórias, foi roubo de vida mesmo; digo,
Marilyn Monroe, sequestrou, aniquilou, manteve em cativeiro e viciou Norma
Jeane até sua morte. Ela tentou matar Marilyn da sua vida; quem morreu foi Norma
Jeane, a vida real. Não há outro fato histórico que prove o contrário.
Nesse ensaio com Marilyn, descobri, com seu
hipnotizo que imanta meus olhares, o mais doce pecado. O que podemos fazer
mais com uma taça de champanhe e um saco de batata chips? Pecar com Marilyn, é
claro. (Não se preocupe. Está tudo bem. Um homem casado, ar-condicionado,
champanhe e batata chips. É uma festa maravilhosa...). Descobri depois, na
pele que cobria Norma Jeane, havia Marylin Monroe; e na sua tez todo pecado,
que convida a maltratar e açoitar quem se deixa levar por sua beleza
inquieta. Descobri, por fim — já numa forma de rendição —, que o pecado não
mora mais ao lado; o pecado, agora mora dentro de mim.
“Com tantos filmes Na minha mente É natural que toda atriz Presentemente represente Muito para mim”
Com estes versos, meu compositor favorito – desde os 14 anos – completa a letra da canção “As atrizes”. Falo, é claro, de Chico Buarque. Em 2006, ele escreveu esta canção que se confunde, no tema, com outra de sua autoria, do mesmo ano “Ela faz cinema”. Quando acompanhava os programas especiais feitos pela extinta Directv, lembro que Chico compôs esta música, um tanto meio “preguiçosa”, só para fazer parte daqueles programas e porque estava no contrato: uma música nova por programa. Não desmerecendo a canção, é claro. Mas, como tudo tem uma história que justifique, ele contou que somente no cinema francês era possível ver mulher nua; mulher saindo da banheira se enrolando numa toalha, aquela coisa bem rápida. Até então, o cinema americano não havia descoberto a nudez e sensualidade, numa forma comercial de atrair público. Outros tempos.
Aos meus amigos, confesso sempre que não me sinto atraído pelas atrizes nacionais, quando vão parar na telona. Tenho dispensado os filmes nacionais, independente de quem atua. Penso que essas atrizes, nunca fogem do rótulo massante que encarnam nas novelas globais. Pode até ser cisma minha, ou preconceito. Nós não temos atrizes só de cinema, infelizmente. Mas, no cinema hollywoodiano (como disse Antonio Bandeiras: Hollywood hoje é só uma marca e não mais uma indústria cinematográfica) tem uma penca delas que me vem à cena. Citaria as atuais, carregadas de beleza e talento, Kate Winslet, Julia Roberts, Angelina Jolie; e outras das antigas: Joan Crawford, Bette Davis, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor, Jane Fonda e, é claro, Marilyn Monroe.
Na década de 1950, 10 entre 10 homens eram fascinados pela estonteante Marilyn Monroe. Eu também fiquei – embora nem houvesse nascido quando ela estourou nas telas. Estou lendo agora o livro “A vida secreta de Marilyn Monroe” – J. Randy Taraborrelli (2010). Por ser um livro extemporâneo - sem a menor pretensão de tirar proveito de sua morte, como ocorreu na ocasião -, carrega em si um monte de verdades, com dedos nas feridas e fatos minuciosamente relatados sobre a vida de Marilyn. Da triste infância até o estrelato e passando pelas suas doenças psicológicas. Verdades, sim, porque muito do que se falou dela eram histórias inventadas – até por ela mesma. Ela tinha esta coisa de inventar histórias sobre sua vida, até para tirar proveito na carreira. Quando alguém descobria a verdade, ela voltava atrás, sem sair do tom, dizia o que de fato se passou e justificava porque mentiu. Frank Sinatra, seu amigo, dizia: ela sempre conseguia fazer do limão uma limonada...
A pretexto da sua vida e da atriz que sempre desejou ser – ela era muito dedicada em tudo que fazia –, comecei, já faz um tempo, e não terminei ainda, de escrever um texto falando dela. Parei no meio, confesso, para respirar e ter fôlego; as histórias do livro têm me fascinado, mudando palavras e encontrando outro sentido para descrevê-la. Agora com a atriz também; sem me ater somente ao mito que carrega seu nome. Ela era radical e queria ser uma grande atriz, e para isso usou de tudo, inclusive o seu maior triunfo: a beleza. Foi assim, até a sua morte. O texto estará aqui no início de junho, prometo, quando ela completaria 85 anos.