BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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domingo, 26 de janeiro de 2014

Entrevistas imaginárias e um mundo perfeito


Enquanto isso na minha page do Facebook...

Em 24 de janeiro de 2014

ENTREVISTAS IMAGINÁRIAS - Como tem gente boazinha no mundo. Oh my Dog! Gente "protegendo" sem tetos, sem terras, índios, viciados (Haddadolândia). É gente boazinha demais para o meu gosto. Fazendo política abjeta e proselitismo canalha aos quilos.

Mas isso não é uma prática dos nossos dias. A pobreza e o sub-humano sempre foram meio de vida pra muita gente (política), há muito tempo.

Estou lendo um livro de crônicas de Nelson Rodrigues (A Cabra Vadia), e me deliciando mundos com o jeito de sua escrita, recheada de cinismo e picardia. Numa de suas crônicas Nelson Rodrigues dizia: "como é falsa a entrevista verdadeira". Concluí: as entrevistas imaginárias têm mais verdades e credibilidade (aquilo que as pessoas "conscientes" só falam com o gravador desligado). 

Então, ele foi entrevistar d. Hélder Câmara. Quando quis saber sobre a fome no Nordeste, seu imaginário entrevistado tentou tergiversar, mas confessou: "Ó rapaz. Ainda nunca desconfiaste que a fome do Nordeste é o meu ganha-pão?" (Março/1968).

Em 26 de janeiro de 2014

E SE O MUNDO FOSSE PERFEITO? - Ainda sobre postagem da "Entrevistas imaginárias" — colou em mim Nelson Rodrigues —, me veio à mente outros deliciosos pensamentos. Como seria um mundo imaginário e perfeito? Um mundo sem ódio, vingança, injustiças, mentiras, múmias, patetas, corruptos, opressor e oprimidos. Um paraíso na terra.

E se o mundo fosse todo uma suíça, só de gozo, prazer e bem estar? Estado bom, justo, leal e povo assistido e feliz, com saúde, emprego e moradia. Não haveria o que e quem pudesse usar o pretexto da revolta. Revoltar com o quê? Revolucionar contra qual Estado? Imagina um mundo sem o coitadismo, os fracassados, os tolos, os idiotas e excluídos? De que viveriam os heróis da pátria e os mercadores de bondade? O que seria dos vampiros, dos chupadores de pobres e periféricos? Em que pescoço, jugular deitariam seus caninos? 

Seria o fim de um fim. Seria o fim de um discurso das chagas sociais. É fato, a doença curada pelo tempo é o pior dos mundos para um médico charlatão. Teriam que trabalhar como qualquer um na produção e manutenção desse mundo, agora bom. Que tédio! Trabalhar é um saco pro revoltado. Mas reclamar do que, my devil?

Uma coisa ficaria clara (mais que a luz deste dia), eles morreriam de raiva, com uma sensação de indiferença, de não-discurso, de impotência e um comichão tomaria o corpo todo, e sairia pelas narinas e pelo xixi. Providenciariam rapidinho uma revolução, "plantariam" a maconha no bolso do que é bom para chamá-lo depois de maconheiro: "Eis o delinquente! Prendam!" .

Enfim, começaria o estado de vida que eles gostam: a desordem. E assim acabariam com o "bom da vida", com a monotonia, porque o mundo precisa se equilibrar, e o mal é o que tempera suas ânsias. E dessa forma, voltariam colher da vida o que ela tem de pior: a maldade, a ira, a raiva, a melancolia, a injustiça, a desilusão, a pobreza. O seu ganha pão, enfim. E do fruto dessa árvore malévola, chupariam até o caroço. Como no velho mundo podre que gostavam de espalhar e cultivar.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Janeiro  de 2014.