BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

As atrizes


Marilyn Monroe - 1947 (21 anos)

“Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito para mim”

Com estes versos, meu compositor favorito – desde os 14 anos – completa a letra da canção “As atrizes”. Falo, é claro, de Chico Buarque. Em 2006, ele escreveu esta canção que se confunde, no tema, com outra de sua autoria, do mesmo ano “Ela faz cinema”. Quando acompanhava os programas especiais feitos pela extinta Directv, lembro que Chico compôs esta música, um tanto meio “preguiçosa”, só para fazer parte daqueles programas e porque estava no contrato: uma música nova por programa. Não desmerecendo a canção, é claro. Mas, como tudo tem uma história que justifique, ele contou que somente no cinema francês era possível ver mulher nua; mulher saindo da banheira se enrolando numa toalha, aquela coisa bem rápida. Até então, o cinema americano não havia descoberto a nudez e sensualidade, numa forma comercial de atrair público. Outros tempos.

Aos meus amigos, confesso sempre que não me sinto atraído pelas  atrizes nacionais, quando vão parar na telona. Tenho dispensado os filmes nacionais, independente de quem atua. Penso que essas atrizes, nunca fogem do rótulo massante que encarnam nas novelas globais. Pode até ser cisma minha, ou preconceito. Nós não temos atrizes só de cinema, infelizmente. Mas, no cinema hollywoodiano (como disse Antonio Bandeiras: Hollywood hoje é só uma marca e não mais uma indústria cinematográfica) tem uma penca delas que me vem à cena. Citaria as atuais, carregadas de beleza e talento, Kate Winslet, Julia Roberts, Angelina Jolie; e outras das antigas: Joan Crawford, Bette Davis, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor, Jane Fonda e, é claro, Marilyn Monroe.

Na década de 1950, 10 entre 10 homens eram fascinados pela estonteante Marilyn Monroe. Eu também fiquei – embora nem houvesse nascido quando ela estourou nas telas. Estou lendo agora o livro “A vida secreta de Marilyn Monroe” – J. Randy Taraborrelli (2010). Por ser um livro extemporâneo - sem a menor pretensão de tirar proveito de sua morte, como ocorreu na ocasião -, carrega em si um monte de verdades, com dedos nas feridas e fatos minuciosamente relatados sobre a vida de Marilyn. Da triste infância até o estrelato e passando pelas suas doenças psicológicas. Verdades, sim, porque muito do que se falou dela eram histórias inventadas – até por ela mesma. Ela tinha esta coisa de inventar histórias sobre sua vida, até para tirar proveito na carreira. Quando alguém descobria a verdade, ela voltava atrás, sem sair do tom, dizia o que de fato se passou e justificava porque mentiu. Frank Sinatra, seu amigo, dizia: ela sempre conseguia fazer do limão uma limonada...

A pretexto da sua vida e da atriz que sempre desejou ser – ela era muito dedicada em tudo que fazia –, comecei, já faz um tempo, e não terminei ainda, de escrever um texto falando dela. Parei no meio, confesso, para respirar e ter fôlego; as histórias do livro têm me fascinado, mudando palavras e encontrando outro sentido para descrevê-la. Agora com a atriz também; sem me ater somente ao mito que carrega seu nome. Ela era radical e queria ser uma grande atriz, e para isso usou de tudo, inclusive o seu maior triunfo: a beleza. Foi assim, até a sua morte. O texto estará aqui no início de junho, prometo, quando ela completaria 85 anos.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / abril de 2011.


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