BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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quarta-feira, 26 de março de 2025

Adolescência e a raiz de tudo

O quê! Você ainda não assistiu “Adolescência”? Corre para assistir. Foi a mensagem que recebi. Não corri, mas fui buscar entender do que se tratava. Li alguns comentários e a sinopse dizia de um garoto de 13 anos que mata uma garota, sem aparente motivo. Também surgem nesses comentários palavras corriqueiras e wokeístas: bullying, misoginia, masculinidade tóxica, machismo, feminicídio (essa é foda de aguentar), incels, etc. Para dar mais tempero ainda, a história se baseia em um fato real. Bem, aí começam os truques... A minissérie, produzida por Brad Pitt, trocou o assassino da vida real, um negro e usuário de drogas, por um garoto branco, de família conservadora. (Claro que já estão negando.)

Então dei play e não consegui passar do primeiro episódio. A coisa é perturbadora, de uma trama discorrendo numa cidade da Inglaterra. E, claro, eu vou ter que lembrar, assim como a Inglaterra, toda a Europa escolheu o multiculturalismo ante ao cristianismo. E o resultado é uma civilização de identidade perdida, longe de seus valores de outrora. Nas primeiras cenas, o policial que desvenda o crime, esbanjando virtudes e competência, é um negro e seu parceiro é uma mulher. Tudo para fugir do estereótipo e lacrar, para não perder o costume woke.

A mensagem retornou ao celular com “hoje, é preciso pensar para ter filhos”. E o enredo, facilmente, aponta as causas: redes sociais, bullying, misoginia, ódio à mulher, machismo, incels, games, telas, telas... O que não se discute, no entanto, é a raiz de tudo isso. Por que os jovens estão assim? O que nos fez chegar a isso?

Eu tenho uma sugestão, e talvez seja a coisa mais perniciosa que o establishment já pôs no caminho da humanidade: o FEMINISMO. Voltemos ao século XIX e lá está a raiz de tudo isso. Ondas e ondas até chegarmos à quarta delas: o ódio ao homem, ao macho. E nem precisa dizer ódio em dobro ao patriarcado e à família. E vai-se semeando, com ideias progressistas, desde o jardim da infância. Meninos são tolhidos de sua masculinidade para não irritar garotinhas.

No século passado, a feminista Simone de Beauvoir e seu parceiro Jean-Paul Sartre já confundiam a cabeça de jovens e adolescentes, atraindo-os para seu convívio íntimo e depois abusando sexualmente deles. (Um método parecido com Júlio Lancelotti.) A verdade que essa praga chamada feminismo, invisível aos olhos, nunca mais nos deixou.

É obvio que tudo é mais perceptível e tateável em países de extremo progressismo, como a Inglaterra. O escritor Theodore Dalrymple não precisou ver “Adolescência”. Ele presenciou coisas talvez piores nos arredores de Londres, e narradas em “A Vida na Sarjeta”: “A vida nos bairros pobres da Grã-Bretanha demonstra o que acontece quando a maior parte da população, bem como autoridades, perde a fé na hierarquia de valores. O resultado é todo tipo de patologia: onde o conhecimento não é preferível à ignorância, e a alta cultura à baixa, os inteligentes e os que têm sensibilidade sofrem a perda total do significado das coisas”. Bingo!

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Março de 2025.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Por que sou contra o dia das mulheres

Primeiro que todo ESQUERDISTA adora comemorar esse dia. Na verdade, eles adoram tudo que segrega, que separa e dissolve o tecido social; numa forma de jogar uns contra os outros. Dividir para conquistar. Suas mulheres lembradas nesse dia são sempre as mesmas: Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Dilma, Betty Friedan, etc. Esquecendo-se, porque não cabe na narrativa, da figura feminina mais importante do século XX, que foi Margareth Thatcher. Só isso já é um bom motivo para ser contra.

Mulheres tiveram, sim, muitas lutas e conquistas por direitos civis ao longo da história. As sufragistas inglesas (inicio do século XX) é um exemplo, e seguiram outras. Tempos difíceis com lutas e mortes. Hoje, pode-se dizer que as lutas já não existem, e o que existe é um mimimi feminista.

Você pode dizer que há machismo na sociedade e bla bla bla. O fato é que a sociedade ocidental se construiu assim: por séculos, aos homens foi dado: o poder, a política, a organização da sociedade e a guarda familiar; às mulheres: a obediência, o zelo do lar, os cuidados e a educação de filhos.

Isso é milenar, histórico, como também será histórico esse novo tempo, onde as mulheres, conduzidas por um sistema, estão no mercado de trabalho que antes eram só do staff masculino. E isso não se deve a nenhum movimento FEMINISTA, mas à capacidade individual de cada uma; se deve ao espaço cedido por um homem.

Mulheres à frente de negócios, na liderança existem pelo seu dinamismo, seus méritos e conquistas individuais. E essas mulheres (estão na liderança de qualquer coisa), não atribuem a ninguém ou algum organismo social suas conquistas. Elas alcançaram o topo por sua capacidade e talento. Simplesmente elas são o que são e sem ódio ao sexo oposto. E muitas delas, no fundo, queriam estar em casa.

Em suma, homens e mulheres dividem suas tarefas diárias, há milênios. Não precisa lembrar que, desde antes da arca de Noé, já havia essa divisão cunhada pelo Criador. As mulheres são melhores em algumas tarefas e homens são melhores em outras. Isso é biológico e da gene humana. É da criação.

O DIA DA MULHER, por assim dizer, é o dia em que ela conquista, na sua luta individual, algo porque estudou, se esforçou, sobressaiu e liderou. O dia da mulher é o dia também daquela que escolheu ser só mulher, na sua essência: zelar pelo lar, cuidar do marido e educar os filhos. O dia da mulher é o dia de Margareth Thatcher, que cozinhava, passava, enquanto dava ordens mandando bombas sobre os argentinos nas Malvinas. Não obstante, o dia das mulheres é qualquer dia do ano ou todos os dias do ano. Para que um dia só?

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / março de 2018

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Inimiga pessoal da mulher




Não sei se repararam, mas há qualquer coisa de alucinatório no Galeão. Os idiotas da objetividade dirão que se trata de um aeroporto, como outro qualquer. Engano. Há fatos e tipos que só acontecem no Galeão. Vamos supor: — acaba de descer um jato.
Ora, o jato entrou para a nossa rotina visual. Já o vimos às centenas, aos milhares. Mas o importante no jato não é o jato, e sim o seu elenco singularíssimo. Quando ele pousa, ainda saturado de infinito, estejam certos de que tudo é possível. Coloca-se a escadinha e abre-se a pequena porta. E, então, os passageiros começam a sair.
Descem rajás, mágicos, domadores, mímicos, profetas, bailarinos, e até brasileiros. Quanto aos brasileiros, já os conhecemos e passemos aos demais. Falei nas velhas internacionais que qualquer jato traz e qualquer jato leva? E, se duvidarem, até vampiros desembarcam dos prodigiosos aviões. Ou comedores de orelhas ou o índio que devora giletes.
Mas não falei de uma figura que é de uma singularidade ainda mais impressionante do que as citadas. Refiro-me à sra. Betty Friedan, líder feminista norte-americana. Digo “líder feminista” e começam as minhas dúvidas. Sempre escrevo que ninguém enxerga o óbvio, ou por outra: — só os profetas o enxergam. Pois é óbvio que a sra. Friedan não tem nada a ver com a mulher. E pelo contrário: — é uma inimiga pessoal das mulheres.
Não sei se sabem, mas a mulher tem vários inimigos pessoais. Um deles, e dos mais cruéis, são os grandes costureiros. É claro que os pequenos também. Mas dou um destaque especial aos costureiros célebres, que inventam modas, que milhões de mulheres seguem, em todos os idiomas, com uma docilidade alvar. A única coisa que os move, e os inspira, é a intenção evidente e obsessiva de extinguir toda e qualquer feminilidade.
Imagino o escândalo do leitor: — “Mas por quê, ora pinóia?” (“pinóia” é a gíria finada que acabo de exumar). Aí está um mistério nada misterioso. O autor dos vestidos vê a mulher corno a rival que o há de perseguir, do Paraíso ao Juízo Final. E, por isso, o empenho com que trata de transformar a mulher numa figura cômica.
Corno são desinteressantes as mulheres que se vestem bem. E o pior é que os costureiros, com diabólico engenho, atingem em cheio os seus objetivos. Realmente, nunca a mulher foi menos amada. Outro dia, remexendo nos meus velhos papéis, descobri uma crônica de dois anos atrás, em que eu próprio escrevia: — “Nunca a mulher foi tão pouco mulher, nunca o homem foi tão pouco homem”. O raciocínio é simples: — se a mulher é menos mulher, o homem será menos homem.
Há, sim, de um sexo para outro, um tédio recíproco, que já não permite nenhum disfarce. Eu disse, certa vez, que a lua-de-mel começa depois da lua-de-mel. Hoje, diria que a lua-de-mel acaba antes da lua-de-mel. Por outras palavras: — não há mais a lua-de-mel.
O que a sra. Friedan quer é, justamente, liquidar a mulher como tal. Se vocês espremerem tudo o que ela diz, ou escreve, descobrirão que a nossa ilustre visita pensa assim, mais ou menos assim: — “A mulher é um macho mal-acabado, que precisa voltar à sua condição de macho”. Dirão vocês que estou abusando do direito de interpretar e fazendo um exagero caricatural. Pelo contrário: — estou sendo fidelíssimo ao sentido dos seus textos, de todas as entrevistas que concedeu, em todos os continentes.
Temos aqui em "O Globo" uma repórter adolescente e linda. Mas adolescente e linda pode parecer pouco para a reportagem. Acrescentarei que, além disso, é inteligentíssima. A sra. Friedan recebeu a nossa imprensa em entrevista coletiva. Não sei se foi coletiva. Só sei que recebeu a nossa menina e disse o que lhe veio à cabeça, com uma audácia, com perdão da palavra, cínica.
Para a líder do antifeminismo, a mulher não tem nenhuma dessemelhança com o homem. Nenhuma? Nenhuma. Nem anatômica? Se ela não faz a ressalva, vamos concluir: — nem anatômica. E essa coisa misteriosa e irresistível que nós chamamos “feminilidade”? A entrevistada tem todas as respostas na ponta da língua, e não precisa nem pensar. Responde: — “A feminilidade não existe”.
A sra. Friedan é um ser todo feito de certezas. Jamais lhe ocorre uma única e escassa dúvida. Eis o que afirma: — a “feminilidade” é uma ilusão, ou uma impostura inventada por uma “sociedade de consumo”. Hoje, não há idiota que, aqui ou em qualquer idioma, não explique com a “sociedade de consumo”, todos os mistérios do céu e da terra. Com a tal “feminilidade” a mulher tem que comprar cílios postiços, maquilagem, vestidos, sapatos, lingerie etc. etc.
Shakespeare, no seu Hamlet diz, pela boca de Horácio, que “há mais coisa entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”. Mas Shakespeare não conhecia a “sociedade de consumo”, que é, hoje, a chave de todas as dúvidas.
A menina de O Globo não se conteve e disse: — “Pois eu me sinto muito feminina”. Segundo presunção dos presentes, a entrevistada não gostou de ser contestada. Com surda irritação, retrucou: — “Você pensa que é 'feminina', mas não passa de uma vítima da 'sociedade de consumo' “.
E, durante toda a entrevista, a boa sra. Friedan se limitou a fazer variações em torno da idéia fixa: — “A mulher tem que deixar de ser mulher”. E mais: — o homem é o macho perfeito e a mulher o “macho mal-acabado”. O ideal é que, no fim de tudo, tenhamos dois machos.
A nossa menina não se intimidou. Disse mais: — “Pois eu sou boneca, e estou muito satisfeita de ser boneca, e não quero outra coisa, senão ser boneca”. No fim, os colegas e a própria sra. Friedan queriam entrevistar “a boneca”.
A “boneca” voltou para a redação com um divertido horror. E o pior vocês não sabem. Quem está por trás da líder antifeminista? Quem prestigia e aplaude a sua cruzada contra a mulher, contra o casamento e contra a família? Uma série de progressistas da Igreja. Esses elementos a tratam a pires de leite como a uma úlcera.
Mas vejam vocês como vivemos numa época em que tudo se faz e tudo se diz. Há pouco tempo, ninguém teria a coragem de, alçando a fronte, declarar: — “A feminilidade não existe”. Diz mais: — que a mulher para viver dignamente precisa estar acima de “definições sexuais” como “mãe e esposa”. Para a pobre senhora a maternidade é um fato apenas físico, como se a mulher fosse uma gata vadia de telhado. Nem desconfia que sexo, para o ser humano, é amor. Há dez anos, ela não diria isso. E se o dissesse a família trataria de, piedosamente, amarrá-la num pé de mesa; e ela teria que beber água de gatinhas, numa cuia de queijo Palmira. Hoje, porém, pode sair por aí a dizer, pela Europa, América, Oceania etc. etc., afirmando que a mulher é mulher não porque o seja, não porque Deus a fez, não porque a natureza tivesse raspado a sua barba antes de apresentá-la ao homem. A mulher é mulher — afirma a sra. Friedan — porque a “sociedade de consumo” assim o quis. Entendem? Não Deus ou a natureza, mas a “sociedade de consumo”.
Mas e os sacerdotes que estão metidos com a santa senhora e a promovendo? Meu Deus, no mundo em geral e no Brasil em particular só um vendaval de patetas está varrendo tudo. A sra. Friedan só seria viável não numa “sociedade de consumo”, mas num sinistro mundo de idiotas.

In Rodrigues, Nelson. O reacionário: memórias e confissões. São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 192.

Postado por Antonio — São José dos Campos, 24 de Agosto de 2016.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Como um trailer sem carro


Uma mulher sem um homem é como um trailer sem carro. Não vai a lugar algum”. Com razão, trailer não tem motor e a maioria dos modelos por aí, só tem duas rodas. Sozinho não sai do lugar. É preciso de um veículo motorizado com muitos cavalos para rebocá-lo. Bela analogia.

Nos dias de hoje, esta frase soaria um tanto machista, preconceituosa, pecaminosa, out-of-date, e totalmente reprovada por essa gente bronzeada que mostra seu valor, diariamente no Facebook. Campanhas seriam disseminadas reduzindo a reles o seu autor. Verme machista! — diriam.

Verdade mesmo, a frase foi dita por uma personagem feminina num filme de 1964, antes mesmo que alguma mulher queimasse seu sutiã em praça pública, pedindo emancipação, liberdade e igualdade. Mas posso garantir, o roteirista não errou no script; e o público acolheu com sutileza suas palavras. Ele estava em consoante com seu tempo.

Naquele início dos anos de 1960, as mulheres casadas ainda eram donas de casa, cuidando do marido e da prole. As que não alcançavam esse status invejavam as que tinham seu homem, sua casa, sua família. (Isso é o que nos mostra as películas hollywoodianas.) Com a proclamação da chamada revolução feminina (Women's Liberation Front) tudo tomou outro rumo, se perdeu e a feminilidade também. Um cordão umbilical familiar se rompeu daquele modelo familiar. Mulheres deixaram suas casas e afazeres; mulheres saíram do vestido para usar tailleur e substituir os homens nos negócios. Hoje, sindicatos feministas odiariam e poriam toda sua rede social em batalha, a odiar também a mulher que dissesse que precisa de um homem.

Depois que surgiu a denominação “feminista”, para aquela categoria de mulheres que resolveram dirigir suas próprias vidas, independentes de qualquer relação estável e necessidade, o mundo não foi mais o mesmo. O contrário do que se constata, se você disser que o oposto de feminista é machista, o termo cai num conceito pejorativo e como um mal a se combater. A sociedade não-machista irá sempre pensar em homem que bate em mulher e tão somente.

Chique é ser chamada de feminista e viver de suas mazelas sentimentais, porque homem nenhum suportaria conviver, por muito tempo, com uma assim: mulher que briga, que disputa, que discursa com os seios de fora, mas não sabe fritar um bife e nem ao menos andar sobre um salto. Como disse Luíz Felipe Pondé: “o puritanismo feminista, que não entende nada de mulher, faz da mulher uma ‘camarada’ vestida de homem em meio a um mundo brocha de tanta exigência de igualdade entre os sexos”.

Na verdade, a vida das relações conjugais e amorosas, tornou-se tediosa demais e por isso há tantas separações, descontroles e desarranjos familiares. E para complicar ainda mais, um novo modelo de casal resolveu entrar na disputa pela construção familiar. Exatamente assim: “deixem que nós cuidemos do seu filho”. É o que se vê pelas pregações nas redes sociais. Um cartaz, a princípio provocador, diz que “toda criança adotada por um casal gay, foi gerada e abandonada por um casal hétero”. Mesmo que a frase tenha duplo sentido, ela faz propaganda, oportunista, apontando para outros caminhos e saídas. Quando se imagina aquilo que chamam de família tradicional (abomino esse termo); porque todos nós viemos de uma relação hetero (até os homos); de um ato sexual hetero, mesmo que abandonados depois. A família ainda continua a existir a partir deste modelo. Por outro lado, nada contra as outras relações de uniões de pessoas do mesmo sexo. Mas não chamar de família, por favor.

O mundo piorou com essa conjunção atual e a feminilidade foi-se junto, dando espaço às mulheres de “luta” em busca do nada agora. Os direitos civis, uma de suas brigas, já estão conquistados; está na hora de voltar para casa e fazer um jantar para o marido.

Outro dia, conversando sobre este assunto com uma amiga (vivendo a sua fase trailer sem carro), ela me disse algo que poderia sintetizar tudo que se passou nesses anos, a partir dessa pseudo emancipação: “eu acho que para algumas mulheres faltou coragem para ser mãe; para outras faltou coragem para ser puta”. Bingo!

Ao homem não houve mudança de papel. Ele continuou sendo o provedor, o macho dominante e ciumento. Diante do que acontecia permaneceu estático assistindo a tudo, sem entender nada. E quando deparou com essa nova mulher, se assustou e recuou. Na verdade, ele só queria uma que fosse como sua mãe, caseira e cuidadora. Agora quem está perdido e procurando seu trailer para atracar é ele.

A frase do filme “Kiss me, stupid” (1964) do diretor Billy Wilder foi dita pela personagem de Kim Novak (Polly). Polly é uma garota de programa que mora e “trabalha” (atende à clientela) num trailer. Ao ser inquirida por Zelda, a mulher do homem que passara a noite, ela a reprime e diz à Zelda que seu marido é ótimo (no sentido do caráter), tentando convencê-la a voltar para casa. Convicta, ela assegura que a vida de Zelda é invejada por outras mulheres (inclusive as GP´s como ela): "acredite em mim, tem um marido ótimo"; um marido, uma casa e uma família. Tudo perfeito para o mundo de 1960, pós-revolução industrial, familiar e ainda muito romantizado. Uma mulher sem um homem para conduzi-la, não chegaria ao outro lado da rua, talvez à prostituição.

O mundo de hoje acha que não. Acha que podemos ir, sim, a muitos lugares separados; o mundo de hoje acha que podemos educar filhos estando ausentes; o mundo de hoje acha que podemos dividir tarefas dentro e fora de casa; o mundo de hoje acha que podemos viver muitas relações sem se perder; o mundo de hoje não prepara as relações para durarem, mas para serem efêmeras; o mundo de hoje não percebe também, como estamos perdidos por termos abandonados certos velhos costumes.

Por fim, um homem sem uma mulher e uma mulher sem um homem, continuarão a se cambalear por aí e ir a lugar algum. Assim, como um trailer sem carro.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Abril de 2013.