BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Deus e as enchentes

Quando assumiu o gabinete presidencial, uma das primeiras providências da Presidente eleita Dilma Rousseff, foi pedir para retirar um crucifixo da parede e a Bíblia sobre a mesa, conforme noticiou o jornal Folha de São Paulo em 09 de Janeiro. Logo depois, o Palácio do Planalto tratou de remendar, dizendo que, os objetos foram retirados porque pertenciam ao mandatário anterior. Olhando por este lado, não vejo nada de anormal e acho justo; imaginando que, sendo ela uma cristã católica, iria providenciar imediatamente o seu próprio crucifixo e sua Bíblia. Nada! Até agora não li uma linha que tenha tido tal ato que demonstre sua fé. De verdade, ela não quer saber mesmo de religião em seu governo. Deus não entra ali.

Quando vem à tona esta polêmica entre Estado e religião, os entrincheirados esquerdopatas já estão armados: o Estado é laico; por isso deve manter-se longe da religião e governar com isenção às crenças religiões... Já me manifestei algumas vezes sobre isso, minhas visões vão além do Estado independente e soberano; as Leis Divinas também estão incutidas na sociedade, na família e penso que elas se fundem nas próprias leis humanas, onde os governos atuam. Não há mal em Deus.

Durante seus dois mandatos, Fernando Henrique nunca se incomodou com tais objetos em seu gabinete e não me lembro de ter pedido para retirar quaisquer símbolos religiosos da sua frente - governou com eles. Por respeito? Sei lá. E dizem que ele é o verdadeiro ateu.

Nos EUA, já muitas eleições - desde George Washington (1789) -, quase todos os presidentes, na cerimônia de posse, fazem o juramento ao governo sobre a Bíblia. Aconteceu com o presidente Barack Obama – antes mesmo, uma discussão polêmica cercou os noticiários que ele iria quebrar tal protocolo -, contrariando, ele fez o juramento repetindo o mesmo gesto sobre a Bíblia de Abraham Lincoln (1861). A utilização da Bíblia não é prevista na Constituição norte americana, mas é uma tradição seguida por quase todos os presidentes desde George Washington. Não sei qual a religião dele (Obama), mas o louvo por não fugir à tradição. Não lhe custou nada, seguir um velho costume americano, nada mesmo. Respeitou as crenças do seu povo.

Não tenho nada contra o ateísmo, embora não me lembro de conviver muito perto com pessoas dessa “crença”. Talvez, porque sejam mais comedidas e menos fervorosas quando pregam; e por isso, não as veja por aí “evangelizando” ninguém. Entendo somente, ser muito pobre em acreditar no nada, ou, como ouvi uma vez de um colega de profissão numa reunião de trabalho, “só acredito naquilo que meus olhos vêem...”. Natural, mas viver sem crenças, além dos olhos humanos, é um vazio enorme, a negação da própria alma – pensei - sem me manifestar.

Esquerdopatas remanescentes do comunismo vivem nesse mundo polarizadoentre Deus e o “nada”, e para isso se carregam da tese conduzida por um de seus mestres: “religião é opio do povo”. A fim de se justificar que não devemos misturar alhos com bugalhos; aí, eu devolvo ao condutor da frase: “suas ideias são os verdadeiros ópio do povo”. Suas teorias naufragaram. As religiões ajudam a formar boas famílias; e elas a sociedade.

Diante das enchentes que vêm devastando o país, exclusivamente a Região Serrana do RJ, a pergunta que faço, não tem a ver com as ocupações irregulares da população – que já são discutidas sistematicamente por toda a imprensa. Pergunto: O que Deus tem a ver com isso, com as tragédias? Creio que seja tudo! Especialistas disseram que a quantidade de chuva veio numa proporção igual ao mesmo período em outros anos. E pelo que sei, chove desde que o mundo é mundo.

As ocupações irregulares e o mau uso do solo urbano estavam no caminho da tragédia, dos deslizamentos – tudo às vistas do poder público que nada fez para desocupar essas áreas, o que chega a ser óbvio também neste país. Por outro lado, é fato que, os deslizamentos de terra ocorreriam, com ou sem gente morando lá; choveu e as águas arrastaram o que havia pelo caminho. Deus também entra nesse território - quando também não está - na forma de ajuda, compaixão, solidariedade e comoção das pessoas.

Enquanto escrevo estas linhas, são 809 mortos e 469 desaparecidos, estes que, ficarão ali nos escombros enterrados. Na sexta-feira, pós-tragédia, o jornalista Ricardo Boechat, disse, num tom de indignação que, o exército brasileiro levou mais de 48 horas para chegar à região, por questões burocráticas. Não fosse ajuda de voluntários e outras corporações militares locais, muitas pessoas outras, teriam morrido.

O país, que se prepara para tantas festas como Copa do Mundo e Olimpíadas - anunciadas com abraços, champanhe e politicagem -, não está preparado para remediar e socorrer pessoas em tragédias dessa natureza. A leniência, a omissão e o descaso têm sido a tônica nesses últimos anos de governo. Há muita dureza nos olhos, desrespeito, falta amor, compaixão e falta de Deus. Em outra ponta, no apagar das luzes do seu governo, o ex-presidente abastece com abundância seus familiares com passaportes diplomáticos ao arrepio das leis e torna um de seus filhos, um empresário bem sucedido e milionário. Tanta desfaçatez.

Aconselho nossa Presidente, como católica que diz ser, a voltar com o crucifixo e a Bíblia ao seu gabinete; e rezar mais. Contra as forças da natureza (de autoria Divina) não podemos nada, ou quase nada. Nem mesmo o Estado brasileiro pode. Ela tem feito as suas rezinhas - como já disse - quando o avião balança; tem acreditado em nossa senhora de “uma forma geral” (uma nova santa desconhecida do povo); precisa agora acreditar de fato que, só através da verdade e do amor – está em Deus - irá conduzir melhor esta nação. Ou - o que me parece mais provável -, assumir a verdade que também só acredita no que seus olhos vêem.

Não tenho dúvida, Deus vive se comunicando conosco, inclusive nas tragédias. Por esses mesmos sinais, Noé resolveu um dia entrar na sua Arca... A enchente é só Deus descontente, nada mais. Não consigo imaginar uma nação soberana, desenvolvida e sem crença, como querem. “Feliz a Nação que tem o Senhor por seu Deus, e o povo que escolheu para sua herança” – Salmo 32.12. Está lá no livro, que estava sobre a mesa.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / janeiro de 2011.

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