BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Trintona, solteira. E agora?


Imagina aquela mulher, entre 30 e 40 anos, que citei na crônica A taça de vinho (quase) vazia (clique aqui); que está na pegação por aí, como se diz; portando-se como antes só cabiam aos homens: desinteressada de relações e interessada somente em seu "eu" (umbigo) e desejos. Sim, ela existe e começa a ser maioria entre elas. Isso eu já disse. E agora, imagina outra, na mesma faixa etária, que mesmo estando nos ambientes de moda (baladas, bares e festas), ainda conserva, por tradição, um desejo de um modelo antigo de relação: namoro, casamento, filhos e família. É sobre ela que escrevo agora.

A escassez de homem do mercado, para essa mulher que está aí na faixa dos 30 a 40 anos, tem várias vertentes. Primeiro, tem muito veado ou genérico na praça. Segundo, os homens, hoje em dia, na faixa dos 40 anos (bom para ela), ainda moram com os pais. O cara já está na segunda pós e seus ganhos não condizem, muitas vezes, com seus gastos (a sociedade de mercado nunca ofereceu tantos produtos para se gastar com o mísero salário que se ganha). Melhor morar com a mamãe, que serve janta quentinha todos os dias e ainda o mima como se tivesse 15; muito melhor do que dividir um apê com um amigo bagunceiro, que só sabe fazer omelete e comer no Burger King. No final do mês, tem o salário limpinho e pode fazer prestações de um iPhone novo.

Depois, aquele que ganha mais e quer se emancipar (são raros), tem projetos individuais, como: estar sempre de carro novo; ter um apê próprio para levar não só essas de 30, mas as de 20; tem futebol society quase todos os dias; melhor tomar cervejas com amigos, do que ter que pagar a sua conta; filho nunca foi objetivo na vida (são muito caros); viagem para Europa é mais barata para um e tranquila, quando não tem uma mulher para encher seu saco querendo ir a lugares de compra, quando ele quer tomar cerveja australiana num pub. Enfim, ele está fugindo de compromissos longos, cobrados; passando bem longe da casa da sogra e dos almoços de domingo. Aí fica parecendo que você, mulher, vai às baladas em vão. É verdade. Vai, sim. Não tem homem!

Aí eu pergunto: Como penetrar nesse universo (quase misógino) e sair dali com seu homem zerinho, em suaves prestações? Difícil responder. Vivemos numa época muito controversa, confusa de relacionamentos. Com tantas facilidades em construir e desfazer tudo como num passe de mágica. Anti-sentimental e pró-imagem. Muito status e pouca vida. Muita tecnologia e poucas relações. Muito WhatsApp e poucos telefonemas. Eu diria até que vivemos um hiato, um vazio, um abismo ou uma transição de eras. O sentimento, o amor deixam de ter suas importâncias e o que vale é o sucesso, o corpo, a saúde, a imagem, o parecer, a felicidade, a longevidade, a grana, o prazer e o desfrute.

Mudar isso é como virar um tabuleiro inteiro, no meio do jogo. Essa mulher precisa aprender: homens amadurecem mais tarde. Não é como na década de 70, quando eles, com 30 anos, eram casados, já com três filhos. Homens com 40 anos, hoje, andam com boné de aba para trás, bermuda, regata e jogam vídeo game com seu sobrinho de 15. Só vão criar juízo e visão do mundo depois dos 50. E olha lá...

Por outro lado, essa mulher (sem terapia), por achar que a escassez é um problema que está com ela (não imagina que ele não quer compromisso), começa a se sentir rejeitada (se for bonita, mais ainda); vai querer ficar mais bela (do que já é), só para atrair esse cara. Gastos excessivos com cabeleireiros, manicures semanais, academia e plásticas (bumbum, seios, nariz, etc.). Está tudo misturado no seu subconsciente. (Ela pode até dizer que turbinou os peitos por ela mesma, mas não há explicação quando é algo do corpo que se quer consertar. É para ser visto de fora e não no espelho.) Mesmo assim, ele só a quer para uma noite, porque beleza cansa e só serve até ele gozar. Mesmo se você for bonita, não pense que tem o poder de escolha. Mulheres bonitas são péssimas para escolher homens. Sempre acabam nos braços de caras mais ricos, bonitos, adúlteros e cafajestes.

(Quando eu falo em escassez, é no sentido da raridade de um tipo de homem. Aquele que está pronto, homem feito, mas precisa de um empurrão ou algo que o impulsione para assumir um compromisso sério.)

Essas mulheres deveriam se mirar naquela da sua espécie, que está numa faixa mais acima (45 e 50 anos). Se estiver sozinha, é porque já foi casada, ou porque entrou nessa safra de escassez também, tudo com blasé. Menos ansiosa, mais paciente, sem aquele elã dos trinta; até por que, para ela, sobraram os filhos para cuidar, enquanto o ex-marido veleja em Ilhabela. Essa, que já passou pela crise dos 30 (de difícil namorado/parceiro), aprendeu, com os tropeços, que o homem não a quer da maneira que ela sempre achou que fosse.

Repare bem e se pergunte: Por que tem mulher feia, gorda, desajeitada e malvestida casada? A resposta é simples. É porque ela não tem muita frescura na escolha de homem. São tímidas e até passam despercebidas numa festa. Ela não olha a conta bancária do cara, seus olhos azuis, seu nariz italiano, seu Corolla, etc., mas enxerga muito além. Enxerga futuro, filhos, etc. E, principalmente, se ele tem disposição para uma vida a dois. Pronto! Depois, ela tem algo a mais que oferecer que sexo. Já dizia o velho Gikovate: as relações, hoje, são feitas de parcerias e não de amor-romântico (século XIX). Ela oferece parceria.

Homem feito não gosta de mulher burra. Bonita/burra só para se divertir na balada. No dia seguinte, ele vai jogar futebol com amigos e nem se lembra dela. Se ela não sabe discutir política (assunto do momento), oriente médio, livros, séries da Netflix, etc., esquece. Você tem que se parecer (e ser) interessante para ele. Sua beleza e atração é sua fala, seus argumentos, seus conhecimentos e tudo que possa se somar à vida dele. (Conhecer futebol não serve). Atributos como: cozinhar, servir, arrumar, decorar, educar devem ser instintivos. Não são acessórios. Fazem parte do conjunto daquele universo atrativo.

Tem um um ditado popular que diz que você tem que casar com quem você gosta de conversar, porque, na velhice, o que sobra é só a amizade. Eu acredito nisso.

Por fim, se você mulher trintona tradicional, ainda tem alguma esperança de um bom relacionamento, é melhor olhar mais para o lado. Quem sabe aquele carinha feio e magro do teu trabalho. Pode ser ele. Frequente mais supermercado do que baladas. Gaste mais tempo com livros e filmes do que com supinos, legpress e crossfit. Mais tempo em conhecimento do que com futilidades, shopping, sapatos, raves e música sertaneja. 

Olhando para esse nosso tempo (cheio de mutações e imprevisibilidade), talvez com 40 (ou mais) você, com paciência e sorte, encontre esse homem para o resto da sua vida. No silêncio da alma, na respiração serena de uma manhã. Depois, aprenda acender a churrasqueira e a manter sua cerveja na temperatura certa. E já vou avisando, ele tem barriga.

(Outra dica: "Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas" – Nelson Rodrigues)

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / agosto de 2017

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Um homem pra chamar de seu

Nunca houve tantos divórcios como estamos tendo atualmente no Brasil. O que há nisso de relevante a se justificar ou pautar? Intolerância na vida a dois; emancipação feminina; mulheres muito mais no mercado de trabalho já são mais independentes; o casamento tornou-se meramente um contrato...

Em consequências desses apontamentos, temos lares desfeitos e filhos em jogo também, vivendo como ioiô. Há tanto o que se falar sobre essa nova era que vivemos. Ou: é melhor não pensar, porque a vida foi feita para ser vivida e não questionada.

Nesta nova era, pressupõe que haja mais pessoas solteiras dando sopa por aí. O solteiro que ainda não se casou, por opção; e o novo solteiro, aquele se tornou depois de uma separação. Na noite, como caça e caçador, é a nova mercadoria exposta na vitrine.

É de se pensar, àqueles que já passaram por uma, que a nova relação, abruptamente, irá criar um embaraço sentimental, misturando o novo com o velho, a mágoa antiga com a nova paixão; e por isso, muitos optam por um tempo de vida a sós. O que é extremamente necessário e saudável, dizem alguns especialistas em comportamento. Não se pode compensar uma coisa com a outra.

Viver sozinho e se suportar, eis a melhor forma de se auto-analisar; a melhor forma de se restabelecer um ponto de partida para uma nova situação e colocar a casa em ordem. Deixar a vida correr solta, permitir aquelas manias que eram abortadas por conta de ter que dividir um teto com alguém.

Falo sobre a ótica masculina, claro, pois os homens não têm medo da solteirice e muitos até preferem hoje em dia, a se arriscar numa relação sequencial. E pensando assim, só irá abrir novamente as portas de casa para alguém que, de fato, valha a pena investir; alguém, sob os aspectos de convivência e sentimentais, irá dar-lhe frutos e segurança no futuro. Sem medo de ter que recomeçar do zero e viver de misérias emocionais; maltrapilho e maltratado, no portão, com as malas na mão.

Para a mulher não vale esta regra. Na maioria, elas necessitam da companhia de alguém do sexo oposto. Digo que é companhia, pois não há importância para algumas que seja o amor da vida delas. Pode ser um homem, só para chamar de seu para as amigas e assim ficar em paz com o status do Facebook. Decerto, há que se parecer feliz perante a sociedade e as amigas mais próximas, depois é só esperar os comentários que massageiam o ego, “que lindo casal!”.

Já toquei nesse assunto, mas não custa voltar. Vivemos, sim, também a era do parecer. Não é ser nem ter, mas parecer. Você não precisa ser feliz nem ter dinheiro, mas se você parecer as duas coisas será bem quisto (pensam) por muitos e assim, não ficará à margem dos “felizes para sempre”, como uma solteirona mal-amada e desiludida com os homens. É o que muitas tentam passar nas redes sociais, “eu estou feliz e se você não está problema o seu...”.

Quanta estupidez! Mas, por que ter que mudar o status do Facebook a cada comprometimento, a cada troca de parceiro? Simples. Por que assim, se parecerá feliz, mesmo que seja momentâneo e que este homem não seja aquele da canção do Roberto. Mas e o amor? Isso é outra coisa mais para frente. Não importa o amor, ele virá com o tempo (ou não virá). O que importa é que nesse momento eu tenho alguém para dizer que sou proprietária e não estou sozinha. Eu tenho um homem para chamar de meu. Às amigas invejosas e solteironas, o desprezo.

Na maioria dos casos, paga-se o maior mico (gíria atual e perpétua). Passados alguns dias, aquele já não é mais o príncipe que imaginava ser. Ele, na verdade, é um sapo bem grande com coroa na cabeça, um sabre pendurado na cintura, em seu cavalo branco; a todo tempo fingindo-se príncipe. Ela só avistou a coroa, o sabre, o cavalo e não enxergou o sapo. Meu Deus! Ela vai trocar o status de novo.

Algumas mulheres, por mera carência, resolveram entrar no jogo da sedução masculina, assim vão fazendo e jogando para tentar prender algum pelo lado que mais o desperta, o sexo. A solteirice virou jogo de sedução, sem penetração no íntimo, com todo mundo comendo pelas beiradas...

Já nos casamentos, enquanto os homens se reúnem nos happy hours com os amigos, com permissão do olhar de esguelho; a mulher vai ao shopping com amigas, também se permitindo. Em casa, uma babá cuida do filho que eles irão ver só depois das nove da noite.

Um dia, alguém deixou um recado no seu mural do Facebook, “depois que o sexo ficou fácil, o amor ficou difícil”. Pode ser isso também. Há mais liberdade nas relações, ou muita abertura e concessões. E o amor será sempre um projeto adiado.

Juro que tento, mas não entendo mais nada. Socorro!

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / janeiro de 2013.