BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Ventos da liberdade



Encerro o ano de 2014 com uma crônica falando de valores intrínsecos. Talvez seja tudo que precisamos para iniciar bem o próximo ano. 

Eu poderia perguntar ao leitor: “Em sua opinião, a palavra mais bonita que você conhece e gosta de ouvir e dizer é:”. (dois pontos e pausa) Muito provável que, a grande parte dos politicamente corretos com esse mundo cheio de dodói e falsidades, pensará pouco para dizer inequívoco: Amor. É bonito dizer amor, pega bem dizer amor, soa bacana, very cool; falar de amor dá aplausos com qualquer plateia. É um tanto quanto óbvio o amor ser a palavra de todas as bocas e tempos; de todas as rodas, de todos os lugares, línguas e povos. Mesmo que você, no fundo, odeie seu vizinho, o amor é sua palavra mais bonita. Poser.

Mas o amor, como ar cada vez mais rarefeito, tem tomado sentidos abreviados. Tentando parecer lúcido, sem fronteiras, mas em si é estado melancólico e já não existe por aí em sobejo. Nunca se odiou tanto na humanidade com tanto cinismo — ao que me parece —, nem em tempos de guerras. É instantâneo o amor: imagem de Instagram. Vazio de verdade e sabedoria. Onde há mentira, não há amor. O mundo é mentiroso nas suas entranhas e trincheiras. Discursa-se que ama a humanidade, mas se odeia em dobro — antes mesmo que o galo cante. É a desconstrução do mundo por dentro do ser humano, e tudo sem guerras e armas, só pelo encantamento de abstrações. Mentiras que destroem pela falta de amor. Você pode “amar” pets e odiar os homens, e mesmo assim ainda dizer que ama e é bonzinho. Todo mundo te aceita.

O arbítrio, aquilo que Deus, o Criador, deu ao homem e toda sua criação, poderia ter sido traduzido como ser livre, poder escolher; poder voar como plumas ao vento. Poder andar por esse mundo sem rumo, sem escala, sem medo, sem barreiras. Para distâncias curtas, a sola do sapato; para as longas, os aviões. Ser livre no mundo como morada, reino democrático e de todos os povos e línguas: sem fronteiras.

Enquanto vou reinando nestas minhas breves palavras, faço um parêntese e leio o brilhante artigo de Arnaldo Jabor no jornal "O Globo": Duplas identidades. Parei e fiquei extasiado com o que li; uma sensação que meu texto poderia ser em vão. A psicopatia tomou conta do mundo, diz ele. E pegando por esse fio condutor, posso imaginar que o mundo de hoje não está mais na polarização entre o bem e o mal, entre Jesus e Barrabás. O mundo se acovardou e já se estimula por quem lava as mãos como Pilatos ou por quem põe fogo na cidade (e foge), como César. Esses são os novos heróis. Como disse Jabor, a falta de sentimento de culpa, faz com que os psicopatas avancem sobre a humanidade.

Volto para dizer: a liberdade é a minha palavra mais bonita; nela me agarro e encho a boca para dizer e escrever: LIBERDADE. Porque penso: ela vem antes de todas as outras; ela veio antes dos dias que Deus levou para sua criação. Sem liberdade não se ama, e pior, não se vive, não se completa. Deus pôs o homem livre no mundo que ele desenhou. E assim também é fácil constatar que as prisões não são Dele. O que buscamos, então? De que adianta felicidade, sem liberdade? De que adianta o amor, se não somos livres para amar? De que adianta ter muito dinheiro sozinho e preso numa ilha? De que adianta ter asas e não saber voar?

Do antagonismo, as prisões psicológicas são as piores carceragens que podem aniquilar e destruir o ser humano. Vivemos num mundo acuados por dogmas, leis injustas, perseguições, polícias de pensamentos; de opiniões vilipendiadas e amordaçadas. Vivemos num mundos vigiados por câmeras escondidas e sob ameaça de censuras nas nossas condutas e palavras. Sem perceber e ter noção de liberdade, vamos nos deixando aprisionar em outras prisões dentro das prisões. A prisão não é a cela (imaginária) mais, mas o canto de suas paredes.

Regimes autoritários e ditaduras são os maiores inimigos da liberdade humana. O mundo já viveu (e vive) regimes ditatoriais, onde a primeira excreção é a liberdade da vida cotidiana. Eles pregam a liberdade, mas o que oferecem são prisões. Não é de hoje que a esquerda festiva idolatra e proclama ídolos odiosos de liberdade. O mundo, hoje regido por esses psicopatas (Jabor), tem mostras claras que a liberdade e a democracia estão em descompasso; não cabem nas suas praticas de poder. É preciso prender, matar, quem não se alinha, em nome de uma causa, em nome de um “mundo melhor”. Como se Deus não tivesse nos feito um paraíso longe desse mundo — não forço ninguém a acreditar — e tudo que quisermos ter, eles (os donos do mundo) nos dão aqui, na terra prometida. A fórmula opressora é essa: menos liberdade e um mundo de igualdade e melhor. Como pode isso? Não há correspondência e lógica.

Ao contrário, os regimes democráticos são os maiores propulsores da liberdade humana. Vi a entrevista que o jornalista esquerdista (como se fosse novidade) Juca Kfouri fez com o também jornalista, escritor, compositor Nelson Motta. A verdade é que, Juca, canalha, quis desmoralizá-lo ao perguntar se Nelsinho tinha virado um "direitista", por suas últimas posições políticas. Motta deu uma resposta à altura e calou o repugnante Kfouri:
"Quando fui para os EUA, o Paulo Francis, que tem uma trajetória semelhante também [a minha]: foi trotskista, foi um ícone da esquerda brasileira, foi caindo na real, talvez... O Francis falou para mim assim: ''que ótimo que vai morar aqui, agora você vai perder suas últimas ilusões...'. E verdade, eu perdi minhas ilusões. Ali morando no ventre da besta, no coração do capitalismo, como funciona aquilo... Eu via a lógica implacável que tem ali. Que não depende de vontade política; que não depende de mobilização popular; que não depende de conscientização das massas; não depende de justiça social. Abstrações, praticamente. É uma máquina colossal de emprego, de bem-estar, de renda, de liberdade, de garantias constitucionais, de justiça rápida (o cara processa, em seis meses está resolvido tudo). Os EUA tem aspectos admiráveis do capitalismo, a competitividade, a melhoria dos produtos, o respeito ao cidadão, o poder do voto. Tudo isso nos EUA é uma grande democracia"
Juca fez cara de paisagem...

Povos de civilização avançadas (primeiro mundo) descobriram o óbvio: não se vive tudo (e melhor) na vida, sem um naco de liberdade e democracia; as melhores evoluções humanas originaram dentro de um cenário democrático e livre. A prisão enlouquece, torna demente, corrói mentes. Basta ver como um condenado a anos de prisão sai para a vida social. Ele vira bicho; como passarinho quando você abre a gaiola. Ele não percebe que está livre para voos infinitos. Ele tende voltar para sua gaiola.

Assim como a palavra amor, a palavra liberdade também hoje é usurpada e muito desmoralizada. A confusão já começa quando se entende como liberdade não obedecer leis e regras; depois ridicularizar  e achincalhar as escolhas do outro, só porque é “livre” para dizer o que pensa, como aquelas feministas que querem provar que a igreja (cristã) está errada e atrasada, e quando querem se manifestar contra, não vão à praça pública, mas querem entrar nos templos. Para ser livre há que se ter ética, moral e perceber os limites.

O desrespeito às leis e à ordem não é do estado de ser livre, porque há limites para o abismo do corpo e da alma. Lembrei-me de uma conversa que tive uma vez com uma garota de programa (disfarçada de quem trabalha durante o dia e descansa à noite), quando me afrontou dizendo que não gostava de obedecer a regras (seu mundo não tem regras, pois o gozo do parceiro virá sempre, sem regras e com pagamento). Ela me disse isso com deboche. Encerrei o assunto, pois não discutiria com alguém com pouco mais de 20 anos, mas perguntei para lhe calar: “Se você não gosta de obedecer a regras e leis, experimente, de agora em diante, avançar todos os sinais vermelhos que vir pela frente…” Ela se calou e continuou a tomar sua vitamina diária para emagrecer.

Se a razão de estarmos aqui neste mundo é "ser feliz e amar", como ditam por aí nas redes sociais, então que comecemos amar ao maior bem que Deus nos deu: LIBERDADE. Ame a liberdade e será feliz, pelo menos até quando ela existir, fora e dentro de você.

O excesso de liberdade se corrige com mais liberdade” (Alexis de Tocqueville)

© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Dezembro de 2014.

sábado, 11 de outubro de 2014

Heroísmo e vitimismo

Há uma crise nebulosa pairando sobre o mundo, que poucos conseguem sentir. E não se trata de guerras ou revoluções. Falo de uma inexistência coletiva que parece virar nuvem diante da vida: você não consegue apalpar, mas consegue plasmar, ela tem formas definidas.

Não sei se houve outro período na história, mas hoje vivemos uma era onde os heróis são levados aos tribunais e cortes do universo e o vitimismo desponta triunfante e arrogante. Não!, eu não refiro aos heróis de guerra, mas aqueles que no dia a dia labutam por sua vida e sua prole, como sobreviventes. Do outro lado, um vitimismo, ancorado na política, querendo emergir, mandar no mundo, sem autonomia e poder para tanto. E assim,  vai o mundo capengando, vivendo sem heróis e caminhando para um real fracasso.

A coisa criou raiz e tentáculos, claro, na política. Está cheio de mandatários babacas recolhendo as angústias de grupelhos de minorias, para depois atiçá-los, viciando-os no ódio de vinganças passadas; e, assim, poucos moradores de rua vão sendo recolhidos do seu relento. Política de interesses. Interesse em chocar as pessoas umas contra as outras e depois ficar assistindo tudo de camarote, vendo o circo pegando fogo. Como aquele insulto infantil de rua: "quem for homem cospe aqui". E o cuspe ia na cara do outro, porque o "aqui" era a mão do provocador que a retirava antes da cusparada. Era o estopim.

O cartaz abaixo, encaminhado e depois compartilhado nas redes sociais, tem o traço visível de uma militância política dessas minorias autoritárias — tem cheiro da tinta. Esses que não se conformam com a natureza humana: homens e mulheres são homens e mulheres desde que o mundo é mundo; é da criação, é da natureza. Não há o que mudar. Então, instigam a segregação por outros grupos e etnias. Se há os homossexuais, esses deverão ser respeitados, acolhidos, como cidadãos debaixo das mesmas leis, sem necessidade de mudá-las. Precisamos de mais educação, respeito e não de novas leis.


A peça gráfica é acintosa, provocativa e preconceituosa com os que estão fora desse grupo de "dois iguais". Como se todos os casais que formam família deixassem seus filhos jogados pelo mundo. Querem combater o preconceito com acusação, e com outro preconceito. Isso é uma guerra.

Tudo começou num dos debates políticos da Eleição para presidente deste ano. Quando o candidato Levy Fidelix-PRTB, ao ser provocado pela candidata Luciana Genro-PSOL — quis saber sua opinião sobre homossexuais. Ele disse, dentro de uma forma pueril e sem alardes, que aparelho excretor não reproduz; dois iguais não fazem filho. Nada de mais que uma constatação óbvia.

O busílis é que suas palavras passaram das fronteiras do debate; Fidelix foi levado aos tribunais da inquisição do movimento LGBT. Ele foi tachado de homofóbico. Já no outro canto do ringue, sua fala soou bem entre os grupos mais conservadores. Em tudo, ficou a mão suja da política que provoca os embates e depois sai de cena, deixando as pessoas se gladiando: "quem for homem cospe aqui".

A etimologia da palavra "homofobia" vem de: Homo = homem, gênero; Fobia = medo, aversão. Podendo ser traduzida como "medo de homem". Não deveria ser utilizada para classificar pessoas que odeiam homossexuais. Infelizmente pegou e agora serve para tudo, até quando não há ofensa nenhuma. Virou doce na boca da militância.

A discriminação entre grupos sociais existe desde que o mundo é mundo; e não é, exclusivamente, pelas opções sexuais. Mas há lugares neste mundo onde a coisa é pior, basta ver como homossexuais são tratados em países do Oriente Médio. No Iraque, por exemplo, quando descobertos, eles são enforcados em guindastes. O que nós, ocidentais, temos que fazer para que não haja ódio, e chegar ao extremismo, é não deixar-se levar pelos militantes desses grupos autoritários. Vejo pessoas inocentes pegando carona nessas falas e provocações, por achar bonito e politicamente correto; e no fundo, não percebem que estão sendo instrumentos de um mal que, por ódio, segrega mais ainda a sociedade.

Quais são os números oficiais de homossexuais no Brasil? Desses, quais sofrem com preconceito? Quem disse que dois iguais adotam filhos que dois diferentes jogam fora? Onde existem estatísticas, com números, que provem a veracidade desse cartaz? Não há. O que há, como em todos esses interesses, é a mentira como método de ludibriar, embriagar a população passiva e desatenta.

Em tempos de redes sociais, todo mundo acha agora que pode opinar sobre tudo, sem ter compromisso com a verdade. E como já disse na minha crônica anterior: a verdade é inequívoca. Na ânsia de palpitar, sem conhecer a natureza, as causas e consequências do que diz, pode fazer de algo pequeno uma bomba.  ("Não é pelos vinte centavos". Este foi o estopim das manifestações de junho de 2013 pelo Brasil.) Sem conhecer o que realmente compartilham nas redes sociais, vão fomentando o ódio  e apontando uma arma contra eles mesmos.

Vi recentemente um hangout com o Professor Olavo de Carvalho, cujo o tema era o amor. Vi, revi e transformei em palavras escritas um trecho que parece-se muito com o que estou trazendo aqui. Disse Olavo de Carvalho:
"Essa crise, evidentemente, não afeta somente a alta cultura, mas afeta profundamente a vida pessoal. Não é só uma crise de inteligência superior, não. É uma crise do entendimento da vida no dia a dia. A pessoa não entende o que está acontecendo; não entende a sua própria vida, e, portanto, não chega ao nível mínimo de maturidade para tomar decisões, entender o que se passa. O resultado é o estado permanente da exasperação emocional. Onde todo mundo se sente vítima, todo mundo está ofendido o tempo todo. E todo mundo fica buscando compensações. E a vida, com isso, vai piorando cada vez mais. O pior é que essa imaturidade, essa exasperação emocional hoje é explorada politicamente. São correntes políticas que estão interessadas em fazer as pessoas se sentirem cada vez mais oprimidas, cada vez mais injustiçadas, para dizer: 'eu vou proteger vocês; eu vou defendê-los dos malvados, etc.' E com isso estão criando um inferno. Estão transformando o ódio de todos contra todos. E para perceber isso, e perceber qual é a raiz do mal, a gente precisa ter alguma maturidade, alguma experiência de vida"
Olavo foi claro em tudo e tem razão, mais uma vez. As pessoas não estão percebendo o quanto estão sendo manipuladas pelo establishment político, como bonecos mamulengos. E por isso, aceitam qualquer coisa, não se indignam com nada que vem contra si. Acabam achando normal o que é anormal; achando lógico o ilógico; acolhendo o vitimismo em lugar do heroísmo. Não se chocam com aquilo que precisa se chocar — a corrupção, por exemplo —, mas se sentem mal, se amedrontam com as ninharias.

Essa história de homofobia no Brasil é como querer transformar uma gripe, que acometeu todos os membros de uma família, em epidemia; e por isso o governo deverá vacinar toda a população do país, porque quatro pessoas estão doentes. Enquanto isso, as doenças epidêmicas que, de fato, estamos vivendo por contágio, e em grande escala, não são abordadas e muito menos vacinadas. É preciso despertar.

Os números de homicídios no Brasil em 2014 já chegam a 60 mil/ano. É muita gente morrendo, por inúmeras causas, ou sem causa alguma. Mais que muitas guerras já mataram. As instituições estão falidas, e o crime e criminosos avançam sobre a população em geral, que está totalmente desprotegida.

A candidata Luciana Genro-PSOL, fervorosa na causa do movimento LGBT, que defende, disse, num dos debates, que um homossexual morre por dia vítima de homofobia. Mesmo que esse número esteja correto — ela sempre descreve em suas falas como "milhares" e "milhões", sem dar um número verdadeiro — não há uma epidemia, não dá para considerar que há homofobia na sociedade brasileira. Homossexuais, que estão fora do seu movimento, vivem muito bem com a sociedade predominantemente heterossexual; mas o vitimismo do movimento quer triunfar e se impor pela hostes e desonestidade política de uma Luciana Genro.

Se considerarmos que no Brasil morrem assassinadas 60 mil pessoas ao ano; se considerarmos que um homossexual morre por dia (segundo Luciana Genro), temos: do total 0,6% de mortes por homofobia. E os outros 99,4% de motivações?  Fazendo outra consideração hipotética que, a população do país esteja em torno de 200 milhões; considerando que o número de homossexuais no pais representa 9% da população (18 milhões*); considerando os números de assassinatos de homossexuais/ano são 365 (segundo Luciana Genro), temos: 0,002% de assassinatos num universo de 18 milhões. Este número, embora apareça nas estatísticas (?), não pode ser relevante às demais motivações de assassinatos, como o tráfico de drogas, por exemplo. O Brasil não pode ser tachado de país homofóbico por esse percentual ínfimo.

Quando vem essa conversa mole de se exigir leis específicas para tratar os chamados crimes homofóbicos, lembro a Constituição de 1988:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
        I -  construir uma sociedade livre, justa e solidária;
        II -  garantir o desenvolvimento nacional;
        III -  erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
        IV -  promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,...
Como disse no início desse longo texto — necessário —, o mundo está em crise, carente de muitas coisas essenciais, menos de tecnologia. As bases da sociedade estão sendo vilipendiadas e solapadas. O heroísmo deu lugar ao vitimismo, sem trégua. Famílias estão desmoralizadas e sendo substituídas por outras formas de união. Onde iremos parar? Não sei, Mas sei que é preciso pôr um basta nisso tudo, senão não caminharemos juntos; e as consequências serão mais divisões e conflitos, sem que nenhum lado tenha razão e muito menos noção do porquê tudo começou.



(*) dados colhidos por sites na internet. Não sendo oficiais.

 © Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Outubro de 2014.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Descubra a verdade


Ah!, o espelho da alma. Se ele fosse como o espelho da nossa casa, seria ótimo e prático. Assim poderíamos nos ver antes de tomar decisões, como quem se olha no espelho da sala antes de sair para jantar fora. Dava para ver onde estamos mais bonitos e feios no nosso interior. Na adolescência, enxergaríamos as espinhas, as acnes do rosto oculto. O creme da noite e o filtro solar durante o dia, e a vida sem erros e defeito. Escovação perfeita nos dentes e depois aquele sorriso para sair sem nenhuma preocupação de que algo não está entre os dentes. Daria para fazer um selfie da alma.

Nada disso. O espelho da nossa alma não tem reflexo tão fácil assim de enxergamos. É preciso olhar afinco e para dentro; no íntimo, nos calabouços, nas profundezas onde não há luz. É lá que escondem nossas verdades refletidas. Mas com um início de tarefa árdua de executar; requerendo muita dedicação e coragem. Quem se olha? Quem faz isso com facilidade? Se tivéssemos muitas pessoas conscientes de si (olhar para dentro), não teríamos tanta gente perseguindo a construção de um "mundo melhor"; e o mundo melhor seria acessível, para dentro de cada um.

A autoanálise, com um profissional para orientar o caminho, é tudo que o ser humano precisa para se relacionar melhor consigo e com seu mundo. Nunca antes na história desse mundo houve tanta procura a consultórios de psicanálise como nos nossos dias. Como já escrevi na minha crônica Jardins da Infância: "há aqueles que corajosamente abrirão suas gavetas, com seus anjos e monstros, sem dor ou medo da vida que em si guardou. Com certeza, esses serão adultos bem melhores e verão a vida sempre mais bela, em multicor."

Não confrontamos na vida adulta o que nossa vida nos fez na infância, porque nosso "depósito interior" está cheio de coisas que não queremos ver, e o mundo a nossa volta pode nos condenar por elas. Vivemos sob vigilância do medo da condenação, da humilhação. Por isso, nos encolhemos. A tragédia ao expor nosso intimo. Medo de sermos ridicularizados e excluídos socialmente. Desde o nascimento vivemos sob essa tutela de sentir medo dos passos que damos e dos posicionamentos que assumimos em tudo. A insegurança em viver, nos leva cada vez mais empurrar nosso lixos sentimentais para debaixo do capacho. Como aquele quartinho de fundo de casa, onde tudo que queremos esconder amontoamos lá.

E por que não olhamos o que nós somos, mas vemos (com clareza) tudo o que outro faz? Porque existe uma coisa dentro de nós que não gostamos de confrontar: a nossa verdade. E já disse em outras ocasiões: verdade não é sinônimo de felicidade, de algo bom; verdade é sinônimo de realidade, de embate, de encontro com todas as coisas que constroem nosso caráter; são nossos anjos e demônios. A verdade é fratura exposta e dói saber, ver e sentir. Ninguém gosta de mostrar a sua, mas vive apontando, o que acha ser a verdade, no outro. Somos exatamente isso: mentirosos quando é sobre nossas vidas.

É preciso se descobrir; tornar visível o que nosso íntimo teima em acobertar. Nossas relações interpessoais serão melhores se melhores formos com nós mesmos. Não ter medo de apontar, de apertar a ferida, mesmo sob dor e pus visivelmente feio e cheiro desagradável. Em nenhuma escola iremos aprender sobre nós. Por isso, o estudo solitário é um caminho difícil, mas sem volta. Quem se descobre, nunca volta mais ser o que foi um dia.

E quando eu digo descobrir, não quero me referir à terra inóspita, inabitável. Não falo do desconhecido, mas daquilo que, sob a mortalha da vergonha e do medo, mantemos cobertos. Do cadáver que se cobre com o jornal, porque é horripilante ver a cena. Descobrir o que nós mesmos, durante anos, cobrimos como fugitivos da vida. Há, sim, muitas coisas em nossas vidas que não queremos revelar. A maioria delas está nas profundezas do nosso ser.

A verdade que se é e a verdade que se enxerga. Você pode opinar sobre filmes, novelas, futebol, política, etc. Um olhar diferenciado, analítico sobre alguma coisa, onde há lacunas de pensamentos. Contudo, você não pode ter pontos de vista contra fatos; você não pode opinar sobre (acima) a verdade pujante. Dar opinião e ter pontos de vistas, também não é certeza que encontrará com a verdade no final. Sua fala pode cair no limbo.

E quando uma opinião tentar se sobrepor à lógica dos fatos, a verdade esmagá-la-á como uma sola de sapato faz com uma barata. Pontos de vista de nada valem contra a verdade que grita, porque ela sempre triunfará sobre tudo e todos. Ter opinião não é dizer a verdade. A verdade é inequívoca.
"O pensamento só se torna veraz quando toca algo que está para além dele, algo que não se reduz de maneira alguma ao ato de pensar e nem ao pensamento pensado. Esse algo é o que chamamos de verdade" (Olavo de Carvalho)
Já encerrando, lembro uma das mais belas palavras já calcadas na minha memória, onde a verdade se encontra com sua irmã: a liberdade. Naquele adágio (versículo) bíblico: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Mais cedo ou mais tarde a verdade nos encontrará numa esquina qualquer da vida e do tempo, como a morte fará também. E isso é verdade que grita.

© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Outubro de 2014.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Causa humana




Talvez eu entenda um pouco — bem pouco — do excessivo zelo, trato, cuidado, nos nossos dias, aos animais domésticos: festas de aniversario, colos, carinhos, banho, tosa, perfumaria, lugar na cama, presentes. E gente cada vez mais, e vorazmente, se empenhando em chamar atenção do mundo a essa causa.

Isso que pode se chamar também, sim!, de amor; o qual, sem sombra de dúvida, vem ocupando o lugar dos seres humanos no coração dos...seres humanos (será mais um problema da falta de interesse de um pelo outro, por famílias, ter filhos e sexo? Sei lá...)

Num mesmo dia, separado só por uns três minutos de intervalo, a TV local da minha cidade divulgou duas matérias jornalísticas, no mínimo, antagônicas. A primeira de grupos de familiares que faziam uma pequena passeata (para chamar atenção) sobre a importância da adoção de crianças. Eram umas 40 pessoas somente. Havia até um casal que esperava um filho na barriga e estava na fila da adoção. Gesto humano e difícil de ver. Do outro lado, na matéria seguinte, uma feira e desfile de pets num shopping da cidade. Aí sim, com milhares de pessoas felizes exibindo seus animaizinhos bibelôs. Pensei comigo: estamos mesmo vivendo outros tempos. O interesse por cães e gatos já superou o de seres humanos.

Estou esperando até agora alguma manifestação. No dia 09 de Setembro último, uma garota de 13 anos foi espancada numa escola em Sorocaba, interior de São Paulo, por outra garota, só pelo fato dela ser... bonita. Isso mesmo, o crime dela é ser mais bela que a bruxa malvada, a inveja em pessoa; e o conto de fadas (sem príncipe) é que a maçã da bruxa de Branca de Neve virou um socão na boca. 

Resultado: arrancou-lhe os dois incisivos centrais de sua boca. Ninguém veio nas redes sociais (Facebook) dizer uma palavra, se indignar com tamanha  estupidez e covardia (a outra que atacou era três anos mais velha). Mas fosse ela pertencente algum grupo de minoria, ou uma gatinha maltratada, isso teria comovido o mundo, e autoridades seriam cobradas por justiça.

Vivemos, de fato, a Era do antagonismo com perda dos valores humanos. A cada dia perdemos, também mais, o poder de se indignar com esse solapamento de vidas, ou simplesmente aquilo que é inerente ao ser humano; contudo, os canalhas autoritários avançam sobre nós com mais vigor e poder — tudo que lhes demos. Até virarmos pó e refém por completo.

Há algo de errado no mundo de hoje. Onde os animais são enterrados com honras de grandes homens; e homens são mortos, sem nenhum remorso, como se fossem pequenos animais.

Mas eu só vou entender mesmo essa inversão (sentimental), essa carência, essa afetuosidade, o dia que ouvir um gato num bar mentindo vergonhosamente para o garçom; e depois ver um cão traído, cabisbaixo se matando melancólico, enforcado com sua própria coleira.

Haverá compreensão, estarão mais humanizados; aí sim, dá pra amar, conviver, gargalhar, sofrer, acolher como seres humanos. De outro modo, fica fácil ser só animal doméstico abanando o rabicó. Afinal, eles são encarnações de anjos do céu: bonzinhos e sem maldade alguma — dirão.

Desde onde o homem conhece o outro, ele é suscetível a ser irritante, falho, hipócrita, mentiroso, covarde, desleal; mas também carinhoso, leal e amável: o livre arbítrio divino. E de poder amar no outro o que também tem de pecaminoso e pior em si. Esta coisa de amar só o bem é abjeção com cianeto. Homem nenhum abana o rabo quando vê um canalha.

Penso, assim, se outra vida tivessem, muitos desses gostariam de nascer gato de madame, porque todos querem ser gatos e cães de pedigree. Se gato não faz nada, só come, bebe, espreguiça e se lambe, imagina o de madame. Que inveja felina! Tive cachorros em casa, mas eles viveram como devem viver animais domésticos: nos fazendo felizes no quintal.

Aqui não é céu e não dá pra brincar disso: agora eu quero ser animal, porque eles não traem, não mentem; e por essas e outras merecem o lugar do ser humano nos banquetes. Ainda temos muito que falhar e pecar; e eu só entendo amar quando os defeitos também são evidentes, como os nossos. Amar o bem perfeito e quem só late ou mia é fácil e confortável. Quero ver amar quem tem defeitos como os nossos.

Sei, por fim, que contrario muitos amigos queridos que se dedicam a essas causas (até com exagero). Eu, porém, não entro nessa turba da causa animal, porque ainda estou tentando entender e aprender a causa humana. 

© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Outubro de 2014.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Barro bom


Ocorreu-me agora a analogia do barro bom. Aquele que, em mistura com a água, dá liga, servindo para moldar e transformar matéria prima em esculturas e obras de arte de peças rígidas, que servirão de adorno à vida toda, se cuidado tivermos. E quem não terá cuidado com peças valiosas? Porque esculturas de areia, à beira-mar, só duram até a maré subir. Areia e água são ligas ruins, difícil composição, e ao menor toque tudo se desmorona. Assim, como também, as esculturas de neve e gelo. Sob o sol forte irão derreter. Fotografe logo, para registrar suas silhuetas tão fugazes, porque seu instante é aquele.

Faz pouco tempo visitei um ateliê de um escultor de obras com argila — o barro, a argila é o mais antigo material orgânico, utilizado para fazer vasos e utensílios domésticos. (Talhas de pedra trabalhadas foram utilizadas por Jesus para a transformação da água em vinho). Enquanto apreciava suas obras, ele modelava com uma das mãos, um rosto anônimo — um artista nato. Depois, me assegurou que tudo depende do barro; o segredo, além das mãos habilidosas, é a argila; e seu barro não era ali da região de São Antonio do Pinhal - SP. Ele ia buscar longe. O barro bom é aquele que vira massa pastosa, fácil de modelar e sem esfarelar. Basta adicionar água, esculpir com habilidade e levar ao forno com temperatura e timer adequado.

Essas conversas de domingo, antes do almoço, são boas para descontração e dizer: "E aí como vai a vida?". Enquanto o almoço ainda é só uma promessa (cheirinho bom) e a cerveja vai e vem, surgem assuntos. Nessa, falávamos de pessoas distintas, das comparações dessa e daquela pessoa. (Não falávamos mal, mas constatávamos). E essa foi a alusão que minha amiga fez da pessoa que é barro bom em relação às de barro ruim e podre. (O barro é a fórmula bíblica que Deus usou para esculpir o homem — Gênesis).

Quem é barro bom? É toda pessoa que temos convivência fácil e sadia; são pessoas que perduram na sua vida, porque já vieram moldadas (só quebrarão se forem lançadas com violência ao chão). A pessoa está alicerçada e sua personalidade é rígida, sem deformação; e tudo depois de moldado não volta ao estado natural, à matéria prima.  Por outro lado, o barro ruim irá esfarelar e não dará boas esculturas (vaso ruim também quebra); vai se partir, antes mesmo, das altas temperaturas do forno. Não durará por muito tempo. Por isso, o escultor justificou que não é fácil sua matéria prima, mesmo morando perto de um rio.

DA FRUTA VERDE

Da fruta verde que caiu do pé, não há o que faça, por meios naturais, que a amadureça. A chance disso acontecer, já se foi. Ela não está mais pendurada pelo caule que a alimentava. Foi-se o tempo que a produzia. Teve tempo para isso e agora sua árvore "livrou-se" do incômodo, dando-lhe como fruta perdida. Tão perdida quando as que apodrecem. Não há como amadurecer estando no chão. Não será colhida por ninguém e seu destino é adubação do solo a sua volta. E com esse tempo longo ainda para virar adubo bom. Bem diferente das frutas podres — também caem do pé —, essas, facilmente, viram adubo. Os insetos e passarinhos irão comer o seu sumo e o que restar, a terra irá absorver.

Frutas verdes no chão são tristes passagens de um pomar. Não há como devolvê-las ao caule da sua árvore mãe.  Nunca irá amadurecer sozinha, sem ajuda da seiva que a alimentava. Ela já não pertence mais àquela vida; hoje está só cercada de folhas secas e formigas. Sua vida agora é solitária e sem ninguém; é o chão do pomar e sem nenhum olhar de brandura.

Barro bom e fruta verde: eis um mundo de gente por aí. Uns fácil de ligar, moldar, esculpir, adaptar, embelezar e temperar. Adornos, estátuas, vasos em estantes, com vidas e relações longínquas. E outros, como a fruta verde no chão, que já não temos mais o que fazer. Irão morrer (virar esterco) sem nunca conhecer o estágio do amadurecimento; ser reconhecida, apreciada e colhida por sua coloração, maciez, sabor e doçura. Resta-lhe, então, a aridez, a rugosidade, a amargura, o acre, o azedume. Quem vai encarar?

Como ser barro bom e fruta madura para a vida? Matéria prima, tempo, aprendizado, sabedoria, discernimento, amadurecimento, liga, permeabilidade a tudo que possa nutrir sua vida e lhe fazer bem; e depois, aguentar as altas temperaturas dos fornos e as tempestades que alvoroçam os galhos da copa da árvore. Tudo que suporta e que dá rigidez ao caráter e à alma.

De sorte, essa é a vida, com seus acres, mas também com muita doçura e suculência. Belas obras, nos pedestais dos nobres palácios, foram esculpidas pelos melhores artesãos, usando o melhor cinzel e escolhendo a melhor matéria prima. Com paciência e sem pressa da modelagem; sem pressa nenhuma para tornar-se fruta doce. Aquela que se apanha no tempo certo da colheita.

© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Setembro de 2014.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A doutrinação e a revolução do bem



Enquanto era velado o corpo de meu primo, que morrera de câncer em múltiplos órgãos, eu conversava na outra calçada com seu irmão, meu primo mais velho. Gosto da sua conversa, mesmo num momento de muita dor, ele sempre é um bom papo, familiar, que nos remete a lembrar de coisas boas da vida.

O tom de sua conversa naquela tarde não era como das outras vezes, quando contava causos de um passado feliz, com uma memória de elefante (quem tem memória de elefante lembra até dos tons das cores do uniforme escolar). Naquela tarde, ele estava triste e desenxabido, como se tudo se juntasse ali, na sua perda recente.

O que se queixava era da vida de hoje. Mas não da falta de dinheiro ou de prestações em atraso; o que lamentava era a falta de amor, caráter, ética, moral, educação, gentileza, cidadania, respeito, princípios, esperança, fé; e tudo mais que ficou no seu passado de memórias. Da família que fomos e agora não somos mais. Dessa regressão humana aos tempos pré-civilização (homem fisiológico); do elo perdido da família tradicional (como se houvesse outro modelo); e aqui faço um parêntese para citar aquela professora marxista: “A família tradicional acabou” — justificando que em sua escola não se comemora mais o dia do pai e da mãe. Ela é professora discípulo de um mal que se impregnou. Falarei mais adiante.

E tudo que vivemos dessa degradação social e familiar, não é mero fruto do acaso. Isso foi calculado, medido, planejado para que fosse assim: o rebaixamento das instituições. Uma ordem mundial, uma liderança, uma superioridade, uma entidade, uma doutrinação organizada — algo sem rosto, sem presença — tratou de aliciar militantes a esse reino, e esses como fios condutores desse futuro que cá confrontamos.

Há mais de cinco décadas isso vem sendo disseminado (nas escolas, nas ruas, campos, construções). Os temas polêmicos e distorcidos das novelas que vemos hoje, foram encaminhados há mais de 50 anos: segregação e luta de classes. Você não sabe, mas a todo tempo estamos sendo manipulados e conduzidos. A revolução mental, que não pega em armas, mas dilacera mentes, como assim disse Luiz Felipe Pondé:

"Engana-se quem acha que propriedade privada seja apenas 'sua casa'. Não, a primeira propriedade privada que existe é invisível: sua alma, seu espírito, suas ideias. É sobre elas que a oligarquia de esquerda avança a passos largos. Em nome da "justiça social" ela silenciará todos."

Meu primo sofre com a família que formou. Um filho temporão com problemas de comportamento, desobediência, rebeldia e um sobrinho delinquente preso por assalto com arma de fogo. Tudo que nunca imaginávamos que pudesse ser nossa família, nosso futuro, quando ainda jogávamos bolinha de gude nas ruas de terra da nossa infância.

Ao lembrar-se de seu pai, veio um olhar marejado. Disse que, seu pai, assim como os meus, não tinha escolaridade, mas tinha uma coisa que falta muito ao mundo de hoje: SABEDORIA. E por isso, reconhece o merecimento, sem trauma nenhum, dos bofetões que levou dele, um alemão alto de mãos enormes e pesadas. No dia seguinte do bofetão — recorda —, seu pai ia trabalhar, sem nenhum remorso, mas nele ainda estavam as marcas dos dedos como sinal do aprendizado.

Aprendizado do quê? Aprendizado que não devemos subtrair o que não nos pertence; aprendizado que devemos respeitar pai e mãe; aprendizado que não há vida sem labuta, sacrifício e suor; aprendizado de respeito ao próximo, às regras, leis e instituições; aprendizado que há sinais de perigo na vida e, portanto, não devemos atravessar tais fronteiras; aprendizado de fé e amor a Deus.

A palavra é doutrinação. Durante décadas fomos doutrinados a muitos comportamentos, ordens, conceitos, catequeses e crenças sem percebermos. Conduzidos como gados. Ajustando a sociedade para uma conversão, no sentido mais inglório, pragmático, ideológico possível. 

Acreditamos por anos que, a igreja católica é retrógrada, ultrapassada e rica; acreditamos por anos que, a "polícia para quem precisa de polícia" e por isso é um óbice social; acreditamos por anos que, Oscar Niemeyer é o maior de todos, sem conhecer os outros; acreditamos por anos que, Che Guevara era o novo Cristo a se seguir; acreditamos por anos que, o capitalismo oprime, sem entender o que isso significa; acreditamos por anos que, pobres são vítimas da sociedade, sem reconhecer que são também agentes dela; acreditamos que, se existe pobreza é porque alguém ficou rico a sua custa; aprendemos por anos a enaltecer às esquerdas e ridicularizar tudo ao contrário à elas; aprendemos por anos que. o regime militar foi um atraso ao país; acreditamos por anos que, só inocentes e heróis foram torturados e mortos pelas mãos desse regime de governo; acreditamos que, esses "heróis" queriam democratizar o país. Factoides e mentiras que viraram verdades. A doutrinação é a revolução silenciosa, proposta pelo italiano Antonio Gramsci e seguida ipsis litteris.


Numa das conversas (hangout) com o cantor Lobão, o professor e filósofo Olavo de Carvalho afirmou que, o erro do regime militar, nos 20 anos de governo, foi ter combatido os comunistas e não o seu mal: o comunismo. Esse foi o vacilo, a porta entreaberta descuidada, que se escancarou para uma invasão de pragas ideológicas nos lares, escolas, igrejas e todo meio social que pudesse embrenhar.

As universidades, as redações de jornais e revistas, editoras, todos os meios culturais foram tomados e serviram de canais disseminadores de uma doutrina marxista. De “pensadores” e vendedores de sonho do mundo melhor; na visão mais arcaica, cínica de pregação de um paraíso comunista. Em consequência, o rebaixamento das instituições ao pó, aos pés de um grande irmão (The big brother).

Foi por aí, por esse caminho, que se pavimentou a via para a chegada de Lula (o operário) ao poder. Ou você acha que seria fácil aceitar um apedeuta como ele? Ele chegou como a semente de um sonho (bad dream), o maná, a  boa nova que levaria seu povo à terra prometida, onde jorra o leite e o mel. Mentiram (e muito) para mim e para você.

Se formos buscar o fio desse emaranhado, que se tornou a família, iremos chegar na política, claro. Falsos moralistas, os donos das leis agora estão dentro de nossas casas, ditando regras para uma família "melhor", como Olavo de Carvalho publicou na sua página do Facebook: "Moral petista: não dê palmadas no seu filho. Mate-o no nascimento". Ele se referia a duas leis absurdas: da palmada e a que está em curso, do aborto.

Não me lembro de meu pai (com 11 filhos sob sua criação) reclamar do governo militar, se sentir perseguido e injustiçado por ele. Não, ele só olhava para sua prole, trabalhava dobrado em turnos alternados (desses que mexem com o metabolismo) na fábrica, para sustentar uma família e dar o mínimo de educação. Ele se foi aos 59 anos, cansado da vida muito labutada e tendo o cigarro como parceiro de solidão e morte. Meu pai não deixou em mim nenhuma semente comunista.

Procuro não desviar o foco: a humildade, a religião e fé em Deus foi seu maior trunfo em mim. Indiretamente, ele enxergava a família: pilar mestre dessa fé (judaico/cristã). E as vezes que arrisquei sair, lembrei-me e voltei. E assim eu sigo, cambaleante, mas arraigado... Depois minha mãe, que também foi um exemplo de pessoa. Dona de casa cuidadosa, zelosa, de caráter, brio, fé e responsabilidade.

Esses foram meus tesouros, minhas doutrinas, que essa geração de agora desconhece, porque ninguém lhe passou. Por isso, se perde demente com seu tempo, e sem projeto nenhum de futuro.

Depois, e antes que eu fosse embora, meu primo ainda me disse da sua esperança. Disse sobre uma revolução do bem. Exatamente aquela que esperamos num futuro breve acontecer. (Há sinais no horizonte) O bem que vence o mal. Sem liderança, e também silenciosa, ela virá resgatar nossos sonhos sufocados. O fundo do poço é próximo, e quando chegarmos lá, só existirá um caminho: da volta. Emergir, subir, subir... E de volta ao seio familiar como imaginamos: célula social, mãe protetora e condutora da vida. E que nenhum Estado, governo ou poder possa substituí-la. Jamais.  

© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Setembro de 2014.