Encerro
o ano de 2014 com uma crônica falando de valores intrínsecos. Talvez seja tudo que
precisamos para iniciar bem o próximo ano.
Eu poderia perguntar ao leitor: “Em sua opinião, a palavra mais bonita que você conhece e gosta de ouvir e dizer é:”. (dois pontos e pausa) Muito provável que, a grande parte dos politicamente corretos com esse mundo cheio de dodói e falsidades, pensará pouco para dizer inequívoco: Amor. É bonito dizer amor, pega bem dizer amor, soa bacana, very cool; falar de amor dá aplausos com qualquer plateia. É um tanto quanto óbvio o amor ser a palavra de todas as bocas e tempos; de todas as rodas, de todos os lugares, línguas e povos. Mesmo que você, no fundo, odeie seu vizinho, o amor é sua palavra mais bonita. Poser.
Eu poderia perguntar ao leitor: “Em sua opinião, a palavra mais bonita que você conhece e gosta de ouvir e dizer é:”. (dois pontos e pausa) Muito provável que, a grande parte dos politicamente corretos com esse mundo cheio de dodói e falsidades, pensará pouco para dizer inequívoco: Amor. É bonito dizer amor, pega bem dizer amor, soa bacana, very cool; falar de amor dá aplausos com qualquer plateia. É um tanto quanto óbvio o amor ser a palavra de todas as bocas e tempos; de todas as rodas, de todos os lugares, línguas e povos. Mesmo que você, no fundo, odeie seu vizinho, o amor é sua palavra mais bonita. Poser.
Mas o
amor, como ar cada vez mais rarefeito, tem tomado sentidos abreviados.
Tentando parecer lúcido, sem fronteiras, mas em si é estado melancólico e já
não existe por aí em sobejo. Nunca se odiou tanto na humanidade com tanto
cinismo — ao que me parece —, nem em tempos de guerras. É instantâneo o amor:
imagem de Instagram. Vazio de verdade e sabedoria. Onde há mentira, não há
amor. O mundo é mentiroso nas suas entranhas e trincheiras. Discursa-se que ama
a humanidade, mas se odeia em dobro — antes mesmo que o galo cante. É a
desconstrução do mundo por dentro do ser humano, e tudo sem guerras e armas, só
pelo encantamento de abstrações. Mentiras que destroem pela falta de amor.
Você pode “amar” pets e odiar os homens, e mesmo assim ainda dizer que ama e é bonzinho. Todo mundo te aceita.
O arbítrio, aquilo que Deus, o Criador, deu ao homem e toda sua criação, poderia ter sido traduzido como ser livre, poder escolher; poder voar como plumas ao vento. Poder andar por esse mundo sem rumo, sem escala, sem medo, sem barreiras. Para distâncias curtas, a sola do sapato; para as longas, os aviões. Ser livre no mundo como morada, reino democrático e de todos os povos e línguas: sem fronteiras.
Enquanto
vou reinando nestas minhas breves palavras, faço um parêntese e leio o
brilhante artigo de Arnaldo Jabor no jornal "O Globo": Duplas
identidades. Parei e fiquei extasiado com o que li; uma sensação que meu texto poderia ser em vão. A psicopatia tomou conta do mundo, diz ele. E
pegando por esse fio condutor, posso imaginar que o mundo de hoje não está mais
na polarização entre o bem e o mal, entre Jesus e Barrabás. O mundo se
acovardou e já se estimula por quem lava as mãos como Pilatos ou por quem põe
fogo na cidade (e foge), como César. Esses são os novos heróis. Como disse Jabor,
a falta de sentimento de culpa, faz com que os psicopatas avancem sobre a
humanidade.
Volto para dizer: a liberdade é a minha palavra mais bonita; nela me agarro e encho a boca para dizer e escrever: LIBERDADE. Porque penso: ela vem antes de todas as outras; ela veio antes dos dias que Deus levou para sua criação. Sem liberdade não se ama, e pior, não se vive, não se completa. Deus pôs o homem livre no mundo que ele desenhou. E assim também é fácil constatar que as prisões não são Dele. O que buscamos, então? De que adianta felicidade, sem liberdade? De que adianta o amor, se não somos livres para amar? De que adianta ter muito dinheiro sozinho e preso numa ilha? De que adianta ter asas e não saber voar?
Do antagonismo,
as prisões psicológicas são as piores carceragens que podem aniquilar e
destruir o ser humano. Vivemos num mundo acuados por dogmas, leis injustas,
perseguições, polícias de pensamentos; de opiniões vilipendiadas e amordaçadas.
Vivemos num mundos vigiados por câmeras escondidas e sob ameaça de censuras nas
nossas condutas e palavras. Sem perceber e ter noção de liberdade, vamos nos
deixando aprisionar em outras prisões dentro das prisões. A prisão não é a cela
(imaginária) mais, mas o canto de suas paredes.
Regimes
autoritários e ditaduras são os maiores inimigos da liberdade humana. O mundo
já viveu (e vive) regimes ditatoriais, onde a primeira excreção é a liberdade
da vida cotidiana. Eles pregam a liberdade, mas o que oferecem são prisões. Não
é de hoje que a esquerda festiva idolatra e proclama ídolos odiosos de
liberdade. O mundo, hoje regido por esses psicopatas (Jabor), tem mostras
claras que a liberdade e a democracia estão em descompasso; não cabem nas suas
praticas de poder. É preciso prender, matar, quem não se alinha, em nome de uma
causa, em nome de um “mundo melhor”. Como se Deus não tivesse nos feito um
paraíso longe desse mundo — não forço ninguém a acreditar — e tudo que
quisermos ter, eles (os donos do mundo) nos dão aqui, na terra prometida. A
fórmula opressora é essa: menos liberdade e um mundo de igualdade e melhor.
Como pode isso? Não há correspondência e lógica.
Ao
contrário, os regimes democráticos são os maiores propulsores da liberdade
humana. Vi a entrevista que o jornalista esquerdista (como se fosse novidade)
Juca Kfouri fez com o também jornalista, escritor, compositor Nelson Motta. A
verdade é que, Juca, canalha, quis desmoralizá-lo ao perguntar se Nelsinho tinha
virado um "direitista", por suas últimas posições políticas. Motta
deu uma resposta à altura e calou o repugnante Kfouri:
"Quando fui para os EUA, o Paulo Francis, que tem uma trajetória semelhante também [a minha]: foi trotskista, foi um ícone da esquerda brasileira, foi caindo na real, talvez... O Francis falou para mim assim: ''que ótimo que vai morar aqui, agora você vai perder suas últimas ilusões...'. E verdade, eu perdi minhas ilusões. Ali morando no ventre da besta, no coração do capitalismo, como funciona aquilo... Eu via a lógica implacável que tem ali. Que não depende de vontade política; que não depende de mobilização popular; que não depende de conscientização das massas; não depende de justiça social. Abstrações, praticamente. É uma máquina colossal de emprego, de bem-estar, de renda, de liberdade, de garantias constitucionais, de justiça rápida (o cara processa, em seis meses está resolvido tudo). Os EUA tem aspectos admiráveis do capitalismo, a competitividade, a melhoria dos produtos, o respeito ao cidadão, o poder do voto. Tudo isso nos EUA é uma grande democracia".Juca fez cara de paisagem...
Povos
de civilização avançadas (primeiro mundo) descobriram o óbvio: não se vive tudo
(e melhor) na vida, sem um naco de liberdade e democracia; as melhores
evoluções humanas originaram dentro de um cenário democrático e livre. A prisão
enlouquece, torna demente, corrói mentes. Basta ver como um condenado a anos de
prisão sai para a vida social. Ele vira bicho; como passarinho quando você abre
a gaiola. Ele não percebe que está livre para voos infinitos. Ele tende voltar
para sua gaiola.
Assim como a palavra amor, a palavra liberdade também hoje é usurpada e muito desmoralizada. A confusão já começa quando se entende como liberdade não obedecer leis e regras; depois ridicularizar e achincalhar as escolhas do outro, só porque é “livre” para dizer o que pensa, como aquelas feministas que querem provar que a igreja (cristã) está errada e atrasada, e quando querem se manifestar contra, não vão à praça pública, mas querem entrar nos templos. Para ser livre há que se ter ética, moral e perceber os limites.
O
desrespeito às leis e à ordem não é do estado de ser livre, porque há limites
para o abismo do corpo e da alma. Lembrei-me de uma conversa que tive uma vez
com uma garota de programa (disfarçada de quem trabalha durante o dia e
descansa à noite), quando me afrontou dizendo que não gostava de obedecer a
regras (seu mundo não tem regras, pois o gozo do parceiro virá sempre, sem
regras e com pagamento). Ela me disse isso com deboche. Encerrei o assunto, pois
não discutiria com alguém com pouco mais de 20 anos, mas perguntei para lhe
calar: “Se você não gosta de obedecer a regras e leis, experimente, de agora em
diante, avançar todos os sinais vermelhos que vir pela frente…” Ela se calou e
continuou a tomar sua vitamina diária para emagrecer.
Se a
razão de estarmos aqui neste mundo é "ser feliz e amar", como ditam por aí nas
redes sociais, então que comecemos amar ao maior bem que Deus nos deu:
LIBERDADE. Ame a liberdade e será feliz, pelo menos até quando ela existir,
fora e dentro de você.
“O
excesso de liberdade se corrige com mais liberdade” (Alexis de Tocqueville)
©
Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Dezembro de 2014.