BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O decote salvará o homem

Começo esse colóquio, lembrando de um episódio que me ocorreu, me acendendo um farol: que tempos são esses que nos trazem? Não! Não estou falando da política, da corrupção, mas do ser humano sobre todos os aspectos da vida social e de relacionamentos.

No inverno, as trupes não vão para praia, mas para a fazenda, para o campo, respirar ar puro e sentir o friozinho deleitoso. Foi numa desses encontros com amigos, num sitio, que fui passar um feriado. Aquela disposição geográfica, onde todo mundo dorme amontoado nos quartos, em camas beliche, homens e mulheres misturados.

Assim, eu e mais uma meia dúzia dormimos no mesmo quarto. Ao acordar pela manhã, como faço na minha casa, a primeira coisa foi estender os lençóis e dobrar os cobertores. Quando notei, na cama frontal, uma das minhas parceiras de quarto (já estava no café) deixou a cama desarrumada. (Talvez porque a fome fosse maior.) Fiz a gentileza — hoje se diz "mimo" —, então, de poupá-la do trabalho e arrumei a sua também. Quando ela entrou no quarto, eu estava prestes a receber um elogio, mas  ela disparou: "NOSSA! QUE ESTRESSE!" Engoli a seco e entalei.

Será que essa praga chamada politicamente correto está mudando mesmo as pessoas? As mulheres não estão percebendo mais o cavalheirismo, inerente e secular do homem? Será ofensa, um dia, um homem se oferecer para trocar o pneu do seu carro? Estão matando no homem a sua vontade de se sentir protetor, puro e simplesmente. A mulher precisa entender que, por mais capacidade que ela tenha de trocar a resistência do seu chuveiro, ele vai se sentir mal se ela fizer primeiro. Estou falando do homem, macho alfa. (Não tem homem? Um vizinho, um "marido de aluguel" dá conta.)

Vasculhei na memória e lembrei-me de um Fantástico que vi há uns anos atrás. (Não vejo mais nenhum.) Na ocasião, aquilo me passou meio despercebido, mas o tema não saiu da minha cabeça: "o sexo masculino vai acabar". Era verdade o que diziam, não estavam falando de um filme de ficção. Não consigo lembrar os reais motivos, mas hoje tenho percepção do que queriam com aquilo: jogar o homem provedor, viril, hétero na vala comum, no limbo. Em nome do quê? E para quê? Ainda não tenho certeza.

Preste atenção ao mundo que nos cerca. Não estão deixando nascer mais homens. O sujeito tem sido combatido desde a maternidade. O azar será se você nascer homem. (Falo aos que ainda não vieram ao mundo.) Ao pôr a cara para fora da calçada, seu machismo já está sendo combatido. E pelos próprios pais. A criança já não pode ter birras, valentias como homem e ser muito ladino — palavra exumada —, que já querem lhe dar uma boneca para brincar. Nem entro no mérito dessa pregação ordinária, que ninguém nasce homem ou mulher (pelo órgão sexual), mas tudo é uma construção social. Essa conversa cansa até gente deitada.

Numa entrevista à Tv Canção Nova, o excelente (e politicamente incorreto) Padre Paulo Ricardo, a quem me põe a rezar todos os dias, disse que estão acabando com os meninos. Por que menino não pode mais brincar de espada, de pistola, com armas? Brincadeira de menino era brincadeira de guerra, de luta. Disse: "ele é um guerreiro do bem. Ele tem que lutar do lado do bem... Você tira isso dos meninos, você educa mocinhas covardes." Exatamente o que está ocorrendo. E os pais estão indo por aí, sem pensar. Esse serzinho será, na vida, aquele que deverá ser protegido e não o protetor; nunca aquele que se atira para salvar a mulher.

Na série Downton Abbey, um personagem bastante marcante é o lacaio Thomas. Embora não pareça, à primeira vista, mas Thomas é gay. Isso fica muito sutil nos primeiros episódios. (Ele tenta até o autoflagelo para se "curar".) Mas a questão de Thomas era subir na hierarquia dos serviçais da família Crowley . Ele queria ser o mordomo. Com o estouro da primeira grande guerra, ele é recrutado para o front. Naquela época, de heroísmo, o homem sentia-se honrado em lutar pela pátria. E a guerra era uma forma de exalar bravura. Menos para Thomas. Ele estava na guerra, mas a guerra não estava nele. Ele pensava em Downton. Numa maneira de voltar para casa, ele, entrincheirado, acende um cigarro, levanta a mão e fica à vista do inimigo. É atingido por um disparo e tem a mão perfurada. Imediatamente é desligado do batalhão e volta para casa. Uma atitude covarde, no meio de tantos homens de guerra.

Se assim continuarmos (criar maricas e não homens), iremos ter escassez de homens no futuro. E as mulheres, como alertou o Fantástico, irão perder o  interesse por eles. Irão se enrolar e fornicar com outras da sua espécie — já está ocorrendo. Por que a mulher seria atraída, sexualmente, por  um ser igual a ela? Não que os opostos se atraem, digo daquilo que a mulher mais busca num homem: a virilidade, o apoio, os braços fortes, a proteção. Desde o paleolítico.

A revista SuperInteressante, a qual chamo de "Desinteressante", é marcada por reportagens polêmicas e sempre aquelas que contradizem a história, ou os tabus sociais. O costumeiro das suas capas é apologia à maconha, questionar as doutrinas cristãs e enaltecer outras religiões, como, por exemplo, o islamismo. Numa dessas reportagens fraudulentas e, diga-se, bem covardes, eles afirmaram que crianças (meninos) que se vestem de super-heróis vão se tornar crianças violentas. Claro que isso é uma piada. Fosse verossímil, eu estaria, hoje, chutando cachorro por aí. Tive a minha infância sobre meus cavalos imaginários, revolveres de madeira, correndo para lá e para cá, matando meus bandidos, também imaginários. Essa gente quer acabar com o guerreiro, o homem milenar. Só pode.

Calma. Ainda chegaremos ao clímax dessa doutrinação politicamente correta; que os heróis dos gibis, e hoje nas telas do cinema, serão proibidos, em nome do combate à violência que eles afirmam estimular. Será o fim do Batman, Superman, Homem Aranha, Homem de Ferro, etc.  Não teremos mais heróis. E, em terra sem heróis, triunfarão os vilões, ou, quiçá, ressuscitarão o velho Capitão Gay, do Jô Soares. Numa forma de ser doce com o mundo e não ferir o outro com sua espada de plástico.

O machismo, amaldiçoado pela #WomenMarch (um dia depois da posse de Donald Trump), é o inverso do que se prega pela grande mídia — homem que bate em mulher é um covarde e não machista. Todas as conquistas da mulher, no trabalho e civil, só se obteve no mundo ocidental. E essas má amadas estão brigando exatamente com esse mundo, dos homens. O mundo que as projetou. Ninguém dessas defende a mulher das leis muçulmanas, do Sharia. Hipocrisia é pouco.

Machismo é o estado natural do homem em proteger e preservar a mulher de quem quer deformá-la e transformá-la em outro homem: o feminismo. Uma mulher que cai nas garras do feminismo é como aquele que vai à cracolândia para experimentar droga. Quase sempre não tem volta. Quando volta, torna-se um macho mal acabado, usando um termo rodriguiano. Não estou aqui, como conservador, para salvar o mundo, mas proteger o mundo dos seus salvadores. E eles são loucos e sedentos.

E o bofetão? Ninguém mais dá e nem leva. Coisa de melodrama? O mundo politicamente correto não aceita o revide, o tapa na cara como resposta. Quando as palavras se esgotam, o bofetão era o remédio, aquilo que faz um ter pena do outro, se acariciar e se perdoar. Não se dá bofetão, só porque se odeia, mas, muitas vezes, porque se ama demais. No amor também nos ofendemos ("Atrás da Porta", de Francis Hime e Chico Buarque, deve ser lida, relida). Dali, e pós a mão cheia, tudo se acalma. Eles percebem (homem e mulher) que era a dor que precisavam sentir para exaurir. Era como nas novelas clássicas: bateu-levou. Depois, no final, se casavam. 

En passant, vi um documentário da Tv Animal, sobre a vida dos cães selvagens na África. Muito interessante como as coisas se comportam no reino animal (ou não somos parte dele?). A hierarquia da matilha é uma regra, respeitada pela força. Você tem o macho alfa e a fêmea alfa. Eles são os guardiões do grupo. A fêmea escava a toca onde seus filhotes nascerão, enquanto os outros vigiam o ambiente. Quando os filhotes nascem, a função dos demais, além de protegê-los, é buscar comida. E quem vai caçar? Os mais fortes, vigorosos, os mais preparados. Enquanto, no esconderijo, os filhotes, e aqueles que estão velhos e feridos, esperam pelo o alimento. Quando os caçadores chegam, o alimento é distribuído para todos, sem distinção.

Voltemos ao paleolítico, e veremos que o homem não punha a mulher para caçar. Ela, sem força física, seria uma presa fácil aos animais selvagens. Mulheres já brotaram dóceis e delicadas. Elas têm, exato, o instinto do cuidado, do zelo. E por isso, trazem os historiadores, ficavam protegidas em cavernas, cuidando da cria, à espera do alimento, do seu homem. Assim era, porque assim são ainda os cães selvagens africanos. A diferença é, o homem evoluiu em muitos aspectos, e os cães, não. Ainda continuam no modo antigo de sobrevivência.

"Estamos cegos, surdos e mudos para o óbvio", dizia Nelson Rodrigues. E a vida, ipsis litteris, é, 24 horas calcada pelo óbvio do habitat, do meio ambiente. Os cretinos, interventores do mundo, querem mudar regras milenares, porque entojaram do cotidiano, da mesmice. Nelson também disse:
"A mulher pode ter qualquer idade. Não o homem. O homem não pode ter dezoito, ou quinze. Aos dezoito anos, não sabemos nem como diz 'bom dia' a uma mulher e não podemos fazê-la feliz, em hipótese nenhuma. Para o homem, o amor não é gênio, não é talento, e sim tempo, métier, sabedoria adquirida. Fiz as considerações acima para concluir: — o homem devia nascer com trinta anos feitos." 
Digo ao homem (depois dos 30 anos): não se perca em ter que ser politicamente correto com mundo que o persegue. Seja incorreto, seja um homem natural, com suas características biológicas, físicas e de instinto; abuse da sua condição. Debruce os olhares sobre as pernas, os decotes, se inspire e respire esse ar bom que vem da fêmea que lhe rodeia num mall de shopping; e que ela lhe traga seus desejos por inteiro.

Numa festa de mulheres lindas, o homem solteiro deverá ser apresentado aos decotes, antes de qualquer palavra. É sobre eles que ele depositará a sua fidelidade perpétua. O que atrai um homem é aquilo que é segredo, obscuro, transparente, invisível. Aquela ponta de auréola que desponta e ele tenta perceber com olhares lânguidos. Lá, depois dos seus 30 anos de vida conjugal, ela ainda irá lhe atiçar com suas luzes, como um luminoso que pisca sobre seu cólon.

Não sei que nome eu daria para a essa crônica. Pode ser "O decote", "Os peitos", "O cólon", ou qualquer coisa que me seduz e faz meus olhos hipnotizados, imantados por uma mulher. Então, põe aí: "O decote salvará o homem". Eu creio.

Se você, homem, conseguiu chegar ao final desta crônica, e pretende salvar a sua espécie, nunca deixe de cobiçar um bom decote, quando deparar com uma pecadora e linda mulher (cuidado com o silicone e outros disfarces). Sem receio de ser advertido por um bofetão; e sem pena nenhuma, nem dó da sua vítima.

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Janeiro de 2017

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Como um trailer sem carro


Uma mulher sem um homem é como um trailer sem carro. Não vai a lugar algum”. Com razão, trailer não tem motor e a maioria dos modelos por aí, só tem duas rodas. Sozinho não sai do lugar. É preciso de um veículo motorizado com muitos cavalos para rebocá-lo. Bela analogia.

Nos dias de hoje, esta frase soaria um tanto machista, preconceituosa, pecaminosa, out-of-date, e totalmente reprovada por essa gente bronzeada que mostra seu valor, diariamente no Facebook. Campanhas seriam disseminadas reduzindo a reles o seu autor. Verme machista! — diriam.

Verdade mesmo, a frase foi dita por uma personagem feminina num filme de 1964, antes mesmo que alguma mulher queimasse seu sutiã em praça pública, pedindo emancipação, liberdade e igualdade. Mas posso garantir, o roteirista não errou no script; e o público acolheu com sutileza suas palavras. Ele estava em consoante com seu tempo.

Naquele início dos anos de 1960, as mulheres casadas ainda eram donas de casa, cuidando do marido e da prole. As que não alcançavam esse status invejavam as que tinham seu homem, sua casa, sua família. (Isso é o que nos mostra as películas hollywoodianas.) Com a proclamação da chamada revolução feminina (Women's Liberation Front) tudo tomou outro rumo, se perdeu e a feminilidade também. Um cordão umbilical familiar se rompeu daquele modelo familiar. Mulheres deixaram suas casas e afazeres; mulheres saíram do vestido para usar tailleur e substituir os homens nos negócios. Hoje, sindicatos feministas odiariam e poriam toda sua rede social em batalha, a odiar também a mulher que dissesse que precisa de um homem.

Depois que surgiu a denominação “feminista”, para aquela categoria de mulheres que resolveram dirigir suas próprias vidas, independentes de qualquer relação estável e necessidade, o mundo não foi mais o mesmo. O contrário do que se constata, se você disser que o oposto de feminista é machista, o termo cai num conceito pejorativo e como um mal a se combater. A sociedade não-machista irá sempre pensar em homem que bate em mulher e tão somente.

Chique é ser chamada de feminista e viver de suas mazelas sentimentais, porque homem nenhum suportaria conviver, por muito tempo, com uma assim: mulher que briga, que disputa, que discursa com os seios de fora, mas não sabe fritar um bife e nem ao menos andar sobre um salto. Como disse Luíz Felipe Pondé: “o puritanismo feminista, que não entende nada de mulher, faz da mulher uma ‘camarada’ vestida de homem em meio a um mundo brocha de tanta exigência de igualdade entre os sexos”.

Na verdade, a vida das relações conjugais e amorosas, tornou-se tediosa demais e por isso há tantas separações, descontroles e desarranjos familiares. E para complicar ainda mais, um novo modelo de casal resolveu entrar na disputa pela construção familiar. Exatamente assim: “deixem que nós cuidemos do seu filho”. É o que se vê pelas pregações nas redes sociais. Um cartaz, a princípio provocador, diz que “toda criança adotada por um casal gay, foi gerada e abandonada por um casal hétero”. Mesmo que a frase tenha duplo sentido, ela faz propaganda, oportunista, apontando para outros caminhos e saídas. Quando se imagina aquilo que chamam de família tradicional (abomino esse termo); porque todos nós viemos de uma relação hetero (até os homos); de um ato sexual hetero, mesmo que abandonados depois. A família ainda continua a existir a partir deste modelo. Por outro lado, nada contra as outras relações de uniões de pessoas do mesmo sexo. Mas não chamar de família, por favor.

O mundo piorou com essa conjunção atual e a feminilidade foi-se junto, dando espaço às mulheres de “luta” em busca do nada agora. Os direitos civis, uma de suas brigas, já estão conquistados; está na hora de voltar para casa e fazer um jantar para o marido.

Outro dia, conversando sobre este assunto com uma amiga (vivendo a sua fase trailer sem carro), ela me disse algo que poderia sintetizar tudo que se passou nesses anos, a partir dessa pseudo emancipação: “eu acho que para algumas mulheres faltou coragem para ser mãe; para outras faltou coragem para ser puta”. Bingo!

Ao homem não houve mudança de papel. Ele continuou sendo o provedor, o macho dominante e ciumento. Diante do que acontecia permaneceu estático assistindo a tudo, sem entender nada. E quando deparou com essa nova mulher, se assustou e recuou. Na verdade, ele só queria uma que fosse como sua mãe, caseira e cuidadora. Agora quem está perdido e procurando seu trailer para atracar é ele.

A frase do filme “Kiss me, stupid” (1964) do diretor Billy Wilder foi dita pela personagem de Kim Novak (Polly). Polly é uma garota de programa que mora e “trabalha” (atende à clientela) num trailer. Ao ser inquirida por Zelda, a mulher do homem que passara a noite, ela a reprime e diz à Zelda que seu marido é ótimo (no sentido do caráter), tentando convencê-la a voltar para casa. Convicta, ela assegura que a vida de Zelda é invejada por outras mulheres (inclusive as GP´s como ela): "acredite em mim, tem um marido ótimo"; um marido, uma casa e uma família. Tudo perfeito para o mundo de 1960, pós-revolução industrial, familiar e ainda muito romantizado. Uma mulher sem um homem para conduzi-la, não chegaria ao outro lado da rua, talvez à prostituição.

O mundo de hoje acha que não. Acha que podemos ir, sim, a muitos lugares separados; o mundo de hoje acha que podemos educar filhos estando ausentes; o mundo de hoje acha que podemos dividir tarefas dentro e fora de casa; o mundo de hoje acha que podemos viver muitas relações sem se perder; o mundo de hoje não prepara as relações para durarem, mas para serem efêmeras; o mundo de hoje não percebe também, como estamos perdidos por termos abandonados certos velhos costumes.

Por fim, um homem sem uma mulher e uma mulher sem um homem, continuarão a se cambalear por aí e ir a lugar algum. Assim, como um trailer sem carro.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Abril de 2013.