BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)
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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Futebol, religião, mulher...

Há coisas que não se discutem, dizem alguns apartadores de brigas, da turma do “deixa disso”. Futebol, religião e mulher. Será?

Futebol
O futebol, por chiste, se discute e muito. Que graça tem em ter um time e não falar dele, nem quando está mal no campeonato? Que graça tem chegar ao trabalho, depois do seu time ter vencido, e não tirar um sarro de alguém? Que graça teria os programas esportivos, se não houvesse as discussões, as polêmicas? A bola entrou ou não? Nenhuma graça. O futebol subsiste em razão também das discussões.

Quando saio à rua com a camisa do meu time, sempre alguém irá dizer algo, ou me chamar somente de “o palmeirense”. Gosto disso. Aproxima, trás a conversa, cria-se intimidade, cria-se amizade... Não tenho essa paixão desvairada, e quando é para falar mal eu falo, até por qual eu torço. Teimo ainda, as famílias deveriam ser formadas por membros com torcidas opostas. A discussão no futebol deve existir num ambiente saudável, sem brigas de arquibancadas com fraturas expostas. Abomino as brigas e louvo o futebol com discussão de pontos de vista.

Religião
No campo da religião, não há o que discutir. Todas têm razão. Faça uma experiência, se você entrar em algum templo - que nunca foi -, sairá de lá convencido que aquela é a melhor doutrina a seguir, o melhor lugar para frequentar. Nos novos templos, não te deixarão sair sem esse convencimento. Eles irão recebê-lo com sorriso na porta, como se você estivesse entrando numa agência bancária. É uma disputa por fiéis, e porque não, também por poder. Deus é a maior moeda que reina no mundo. Todo mundo quer vendê-lo à sua maneira, até porque não é visto por aí dando explicação de Sua existência, embora todo mundo busque para suportar sua própria cruz. Em troca dessas graças, provará sua fé, em muitos casos, com seu dinheiro.

Tenho amigos de outras religiões, ou que seguem algumas doutrinas. Resumidamente, cristãos e espíritas. Algo contra? Nenhum. Há gente boa em qualquer religião; há gente boa sem religião nenhuma também. A religião não é o termômetro que mede a bondade ou a maldade humana. Há gente fazendo coisas absurdas em nome de Deus; como o traficante que lia a Bíblia e empunhava um fuzil em outra mão, quando dava entrevista à jornalista. E dizia: eu sou cristão, leio a Bíblia.

Na linha do extremismo, temos o islamismo muçulmano, pouco conhecido por nós ocidentais, mas já vimos fazer barbaridades por sua causa, sua fé. O que dizer deles? Estão fundamentados em culturas que não chegam até nós. Respeito sem tocar.

Eu tenho a minha – Católica Apostólica Romana – e não fico tentando convencer ninguém ter aulas de vida com padres é melhor do que pastores ou rabinos. Para mim é uma questão, antes de tudo, de respeito à minha formação, à memória de meus pais, às tradições dos cultos que aprendi com eles e seus antepassados. Em ter que confrontar com certas regras dentro da igreja, procuro extrair o que é bom. Gosto de ir à missa, preferencialmente aos domingos pela manhã. Sinto-me bem, vendo a igreja naquela comoção de oração e cânticos sem fim. Deus está ali, não tenho dúvida.

Houve o tempo que as missas eram chatas, com padres velhos que falam coisas que não entendíamos. Os ponteiros do relógio demoravam a rodar. Hoje as missas melhoraram no aspecto de tratamento aos fiéis, com acolhida. Mais conforto, padres modernos e que estão nas redes sociais, sorridentes. Missas, cultos, reuniões e Deus; com humor, graça, devoção e fé.

Mulher
Uma amiga polarizou uma discussão comigo (pra que discutir com madame?). Quem é mais bonita, Jennifer Aniston ou Angelina Jolie? Coincidência ou não, uma esteve e outra está nos braços do mesmo homem. Ele poderia dizer melhor do que nós. Bem, ela teimou em Angelina e disse que Brad fez a melhor escolha. Pode ser verdade, mas até onde posso extrair (com os olhos), parece-me que Angelina tem uma beleza estática, retilínea, opaca; uma pintura de quadro, de uma Monalisa do século XXI. Apesar de ser linda, acho um tanto aplacada. Já em Jennifer, eu vejo aquela coisa da beleza em movimento, graciosa e cheia de charme. Se for mal-humorada ou não, não posso dizer. Só a vejo em suas comédias; e ela só afaga meus olhares.

A beleza e seu padrão são universais, como podemos ver no concurso de Miss Universo. Não existe beleza diferente, em países diferentes, hemisfério diferentes, regiões diferentes, continentes diferentes... O padrão de beleza é mesmo universal. E a beleza está na mulher e com a mulher. O concurso de Mister Universo não tem o mesmo peso do Miss Universo. Por quê? Tanto os homens quanto as mulheres preferem o padrão de beleza feminino. Ou, alguém já viu um bando de mulheres se reunindo em casa, com cerveja e petiscos, para ver Mister Universo? Acho que as TVs nem transmitem. Homem não discute sobre homens belos. Por que ele vai ater-se, se ele pode apreciar obras mais bonitas, as mulheres?

Agora, não há "beleza interior", porque beleza está no olhar. Segundo o dicionário Larousse: Be-le-za, sf (belo+eza)1 Qualidade do que é belo, conforme um ideal estético. 2 Harmonia, perfeição de formas. 3 Mulher bela, sedutora. Aquilo que adoça os olhos. Não vemos (com os olhos) o coração; sentimos com o coração, o coração. Portanto, não existe beleza interior. Beleza é aquilo que se vê; não o que se sente.

Outro exemplo, quando olhamos uma flor linda no jardim; iremos admirá-la por sua beleza e não pelo que tem em sua seiva. A beleza é a primeira coisa que nos chama atenção. Se há num jardim, uma rosa linda e uma touceira de alcachofra, ninguém prestará atenção na "beleza interior" da alcachofra (que faz bem à saúde); iremos olhar primeiro a flor que está ao seu lado... Não existe beleza interior nas pessoas; existe a bondade, o que também não deixa de ser uma atração. Beleza não é sinônimo de bondade, embora alguns dicionários ainda tratem tudo na mesma etimologia.

Acrescento à beleza, charme e bom-humor (já escrevi em outro texto). Uma mulher bonita deve ter o andar bonito, com charme e elegância; seus olhos (azuis, negros, castanhos, verdes esmeralda...) devem olhar com sedução e resplandecer; ao se expressar, deve falar e sorrir com a mesma boca, como se ouvisse a piada mais engraçada do mundo. Quando fazia ensaios de cenas para seu último filme - não terminou - "Something's Got to Give", Marilyn Monroe andava pelo set e ria com gargalhadas para a câmera; sem motivo aparente, apenas porque era focada e nada do que expressava serviria ao filme. Era só um teste de câmera. Era seu momento de luz e esplendor.

No conjunto da beleza, formará um grande ser humano, se além de tudo isso, tiver a bondade em seu coração, a "beleza interior". Tem algo mais para discutir?

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Deus e as enchentes

Quando assumiu o gabinete presidencial, uma das primeiras providências da Presidente eleita Dilma Rousseff, foi pedir para retirar um crucifixo da parede e a Bíblia sobre a mesa, conforme noticiou o jornal Folha de São Paulo em 09 de Janeiro. Logo depois, o Palácio do Planalto tratou de remendar, dizendo que, os objetos foram retirados porque pertenciam ao mandatário anterior. Olhando por este lado, não vejo nada de anormal e acho justo; imaginando que, sendo ela uma cristã católica, iria providenciar imediatamente o seu próprio crucifixo e sua Bíblia. Nada! Até agora não li uma linha que tenha tido tal ato que demonstre sua fé. De verdade, ela não quer saber mesmo de religião em seu governo. Deus não entra ali.

Quando vem à tona esta polêmica entre Estado e religião, os entrincheirados esquerdopatas já estão armados: o Estado é laico; por isso deve manter-se longe da religião e governar com isenção às crenças religiões... Já me manifestei algumas vezes sobre isso, minhas visões vão além do Estado independente e soberano; as Leis Divinas também estão incutidas na sociedade, na família e penso que elas se fundem nas próprias leis humanas, onde os governos atuam. Não há mal em Deus.

Durante seus dois mandatos, Fernando Henrique nunca se incomodou com tais objetos em seu gabinete e não me lembro de ter pedido para retirar quaisquer símbolos religiosos da sua frente - governou com eles. Por respeito? Sei lá. E dizem que ele é o verdadeiro ateu.

Nos EUA, já muitas eleições - desde George Washington (1789) -, quase todos os presidentes, na cerimônia de posse, fazem o juramento ao governo sobre a Bíblia. Aconteceu com o presidente Barack Obama – antes mesmo, uma discussão polêmica cercou os noticiários que ele iria quebrar tal protocolo -, contrariando, ele fez o juramento repetindo o mesmo gesto sobre a Bíblia de Abraham Lincoln (1861). A utilização da Bíblia não é prevista na Constituição norte americana, mas é uma tradição seguida por quase todos os presidentes desde George Washington. Não sei qual a religião dele (Obama), mas o louvo por não fugir à tradição. Não lhe custou nada, seguir um velho costume americano, nada mesmo. Respeitou as crenças do seu povo.

Não tenho nada contra o ateísmo, embora não me lembro de conviver muito perto com pessoas dessa “crença”. Talvez, porque sejam mais comedidas e menos fervorosas quando pregam; e por isso, não as veja por aí “evangelizando” ninguém. Entendo somente, ser muito pobre em acreditar no nada, ou, como ouvi uma vez de um colega de profissão numa reunião de trabalho, “só acredito naquilo que meus olhos vêem...”. Natural, mas viver sem crenças, além dos olhos humanos, é um vazio enorme, a negação da própria alma – pensei - sem me manifestar.

Esquerdopatas remanescentes do comunismo vivem nesse mundo polarizadoentre Deus e o “nada”, e para isso se carregam da tese conduzida por um de seus mestres: “religião é opio do povo”. A fim de se justificar que não devemos misturar alhos com bugalhos; aí, eu devolvo ao condutor da frase: “suas ideias são os verdadeiros ópio do povo”. Suas teorias naufragaram. As religiões ajudam a formar boas famílias; e elas a sociedade.

Diante das enchentes que vêm devastando o país, exclusivamente a Região Serrana do RJ, a pergunta que faço, não tem a ver com as ocupações irregulares da população – que já são discutidas sistematicamente por toda a imprensa. Pergunto: O que Deus tem a ver com isso, com as tragédias? Creio que seja tudo! Especialistas disseram que a quantidade de chuva veio numa proporção igual ao mesmo período em outros anos. E pelo que sei, chove desde que o mundo é mundo.

As ocupações irregulares e o mau uso do solo urbano estavam no caminho da tragédia, dos deslizamentos – tudo às vistas do poder público que nada fez para desocupar essas áreas, o que chega a ser óbvio também neste país. Por outro lado, é fato que, os deslizamentos de terra ocorreriam, com ou sem gente morando lá; choveu e as águas arrastaram o que havia pelo caminho. Deus também entra nesse território - quando também não está - na forma de ajuda, compaixão, solidariedade e comoção das pessoas.

Enquanto escrevo estas linhas, são 809 mortos e 469 desaparecidos, estes que, ficarão ali nos escombros enterrados. Na sexta-feira, pós-tragédia, o jornalista Ricardo Boechat, disse, num tom de indignação que, o exército brasileiro levou mais de 48 horas para chegar à região, por questões burocráticas. Não fosse ajuda de voluntários e outras corporações militares locais, muitas pessoas outras, teriam morrido.

O país, que se prepara para tantas festas como Copa do Mundo e Olimpíadas - anunciadas com abraços, champanhe e politicagem -, não está preparado para remediar e socorrer pessoas em tragédias dessa natureza. A leniência, a omissão e o descaso têm sido a tônica nesses últimos anos de governo. Há muita dureza nos olhos, desrespeito, falta amor, compaixão e falta de Deus. Em outra ponta, no apagar das luzes do seu governo, o ex-presidente abastece com abundância seus familiares com passaportes diplomáticos ao arrepio das leis e torna um de seus filhos, um empresário bem sucedido e milionário. Tanta desfaçatez.

Aconselho nossa Presidente, como católica que diz ser, a voltar com o crucifixo e a Bíblia ao seu gabinete; e rezar mais. Contra as forças da natureza (de autoria Divina) não podemos nada, ou quase nada. Nem mesmo o Estado brasileiro pode. Ela tem feito as suas rezinhas - como já disse - quando o avião balança; tem acreditado em nossa senhora de “uma forma geral” (uma nova santa desconhecida do povo); precisa agora acreditar de fato que, só através da verdade e do amor – está em Deus - irá conduzir melhor esta nação. Ou - o que me parece mais provável -, assumir a verdade que também só acredita no que seus olhos vêem.

Não tenho dúvida, Deus vive se comunicando conosco, inclusive nas tragédias. Por esses mesmos sinais, Noé resolveu um dia entrar na sua Arca... A enchente é só Deus descontente, nada mais. Não consigo imaginar uma nação soberana, desenvolvida e sem crença, como querem. “Feliz a Nação que tem o Senhor por seu Deus, e o povo que escolheu para sua herança” – Salmo 32.12. Está lá no livro, que estava sobre a mesa.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / janeiro de 2011.