Enquanto
era velado o corpo de meu primo, que morrera de câncer em múltiplos órgãos, eu
conversava na outra calçada com seu irmão, meu primo mais velho. Gosto da sua
conversa, mesmo num momento de muita dor, ele sempre é um bom papo, familiar,
que nos remete a lembrar de coisas boas da vida.
O tom de sua conversa naquela tarde não era como
das outras vezes, quando contava causos de um passado feliz, com uma memória de
elefante (quem tem memória de elefante lembra até dos tons das cores do
uniforme escolar). Naquela tarde, ele estava triste e desenxabido, como se tudo
se juntasse ali, na sua perda recente.
O que se queixava era da vida de hoje. Mas não da
falta de dinheiro ou de prestações em atraso; o que lamentava era a falta de
amor, caráter, ética, moral, educação, gentileza, cidadania, respeito, princípios, esperança, fé; e tudo mais
que ficou no seu passado de memórias. Da família que fomos e agora não somos
mais. Dessa regressão humana aos tempos pré-civilização (homem fisiológico); do
elo perdido da família tradicional (como se houvesse outro modelo); e aqui faço
um parêntese para citar aquela professora marxista: “A família tradicional
acabou” — justificando que em sua escola não se comemora mais o dia do pai e
da mãe. Ela é professora discípulo de um mal que se impregnou. Falarei mais
adiante.
E tudo que vivemos dessa degradação social e
familiar, não é mero fruto do acaso. Isso foi calculado, medido, planejado para
que fosse assim: o rebaixamento das instituições. Uma ordem mundial, uma
liderança, uma superioridade, uma entidade, uma doutrinação organizada — algo
sem rosto, sem presença — tratou de aliciar militantes a esse reino, e esses como
fios condutores desse futuro que cá confrontamos.
Há mais de cinco décadas isso vem sendo
disseminado (nas escolas, nas ruas, campos, construções). Os temas polêmicos e
distorcidos das novelas que vemos hoje, foram encaminhados há mais de 50 anos: segregação e luta de classes. Você não sabe, mas a todo tempo estamos sendo
manipulados e conduzidos. A revolução mental, que não pega em armas, mas
dilacera mentes, como assim disse Luiz Felipe Pondé:
"Engana-se quem acha que propriedade privada seja apenas 'sua casa'. Não, a primeira propriedade privada que existe é invisível: sua alma, seu espírito, suas ideias. É sobre elas que a oligarquia de esquerda avança a passos largos. Em nome da "justiça social" ela silenciará todos."
Meu primo sofre com a família que formou. Um
filho temporão com problemas de comportamento, desobediência, rebeldia e um
sobrinho delinquente preso por assalto com arma de fogo. Tudo que nunca
imaginávamos que pudesse ser nossa família, nosso futuro, quando ainda
jogávamos bolinha de gude nas ruas de terra da nossa infância.
Ao lembrar-se de seu pai, veio um olhar marejado.
Disse que, seu pai, assim como os meus, não tinha escolaridade, mas tinha uma
coisa que falta muito ao mundo de hoje: SABEDORIA. E por isso, reconhece o
merecimento, sem trauma nenhum, dos bofetões que levou dele, um alemão alto de
mãos enormes e pesadas. No dia seguinte do bofetão — recorda —, seu pai ia
trabalhar, sem nenhum remorso, mas nele ainda estavam as marcas dos dedos como
sinal do aprendizado.
Aprendizado do quê? Aprendizado que não devemos
subtrair o que não nos pertence; aprendizado que devemos respeitar pai e mãe;
aprendizado que não há vida sem labuta, sacrifício e suor; aprendizado de
respeito ao próximo, às regras, leis e instituições; aprendizado que há sinais
de perigo na vida e, portanto, não devemos atravessar tais fronteiras;
aprendizado de fé e amor a Deus.
A palavra é doutrinação. Durante décadas fomos
doutrinados a muitos comportamentos, ordens, conceitos, catequeses e crenças
sem percebermos. Conduzidos como gados. Ajustando a sociedade para uma conversão, no sentido mais
inglório, pragmático, ideológico possível.
Acreditamos por anos que, a igreja
católica é retrógrada, ultrapassada e rica; acreditamos por anos que, a
"polícia para quem precisa de polícia" e por isso é um óbice social;
acreditamos por anos que, Oscar Niemeyer é o maior de todos, sem conhecer os
outros; acreditamos por anos que, Che Guevara era o novo Cristo a se seguir; acreditamos por anos que, o capitalismo oprime, sem entender o que isso significa; acreditamos por anos que, pobres são vítimas da sociedade, sem reconhecer que são também
agentes dela; acreditamos que, se existe pobreza é porque alguém ficou rico a
sua custa; aprendemos por anos a enaltecer às esquerdas e ridicularizar tudo ao
contrário à elas; aprendemos por anos que. o regime militar foi um atraso ao
país; acreditamos por anos que, só inocentes e heróis foram torturados e mortos pelas mãos desse
regime de governo; acreditamos que, esses "heróis" queriam
democratizar o país. Factoides e mentiras que viraram verdades. A doutrinação é
a revolução silenciosa, proposta pelo italiano Antonio Gramsci e seguida ipsis
litteris.
Numa das conversas (hangout) com o cantor Lobão,
o professor e filósofo Olavo de Carvalho afirmou que, o erro do regime
militar, nos 20 anos de governo, foi ter combatido os comunistas e não o seu mal: o
comunismo. Esse foi o vacilo, a porta entreaberta descuidada, que se escancarou
para uma invasão de pragas ideológicas nos lares, escolas, igrejas e todo meio social que
pudesse embrenhar.
As universidades, as redações de jornais e
revistas, editoras, todos os meios culturais foram tomados e serviram de canais
disseminadores de uma doutrina marxista. De “pensadores” e vendedores de sonho
do mundo melhor; na visão mais arcaica, cínica de pregação de um paraíso comunista. Em
consequência, o rebaixamento das instituições ao pó, aos pés de um grande
irmão (The big brother).
Foi por aí, por esse caminho, que se pavimentou a
via para a chegada de Lula (o operário) ao poder. Ou você acha que seria fácil
aceitar um apedeuta como ele? Ele chegou como a semente de um sonho (bad dream),
o maná, a boa nova que levaria seu povo à terra prometida, onde jorra o leite e o
mel. Mentiram (e muito) para mim e para você.
Se formos buscar o fio desse emaranhado, que se
tornou a família, iremos chegar na política, claro. Falsos moralistas, os donos das leis
agora estão dentro de nossas casas, ditando regras para uma família
"melhor", como Olavo de Carvalho publicou na sua página do Facebook: "Moral
petista: não dê palmadas no seu filho. Mate-o no nascimento". Ele se
referia a duas leis absurdas: da palmada e a que está em curso, do aborto.
Não me lembro de meu pai (com 11 filhos sob sua
criação) reclamar do governo militar, se sentir perseguido e injustiçado por
ele. Não, ele só olhava para sua prole, trabalhava dobrado em turnos alternados
(desses que mexem com o metabolismo) na fábrica, para sustentar uma família e dar
o mínimo de educação. Ele se foi aos 59 anos, cansado da vida muito labutada e
tendo o cigarro como parceiro de solidão e morte. Meu pai não deixou em mim
nenhuma semente comunista.
Procuro não desviar o foco: a humildade, a
religião e fé em Deus foi seu maior trunfo em mim. Indiretamente, ele
enxergava a família: pilar mestre dessa fé (judaico/cristã). E as vezes que
arrisquei sair, lembrei-me e voltei. E assim eu sigo, cambaleante, mas
arraigado... Depois minha mãe, que também foi um exemplo de pessoa. Dona de
casa cuidadosa, zelosa, de caráter, brio, fé e responsabilidade.
Esses foram meus tesouros, minhas doutrinas, que essa geração de agora desconhece, porque ninguém lhe passou. Por isso, se perde demente com seu tempo, e sem projeto nenhum de futuro.
Esses foram meus tesouros, minhas doutrinas, que essa geração de agora desconhece, porque ninguém lhe passou. Por isso, se perde demente com seu tempo, e sem projeto nenhum de futuro.
Depois, e antes que eu fosse embora, meu primo
ainda me disse da sua esperança. Disse sobre uma revolução do bem. Exatamente
aquela que esperamos num futuro breve acontecer. (Há sinais no horizonte) O bem que vence
o mal. Sem liderança, e também silenciosa, ela virá resgatar nossos sonhos sufocados.
O fundo do poço é próximo, e quando chegarmos lá, só existirá um caminho: da
volta. Emergir, subir, subir... E de volta ao seio familiar como imaginamos:
célula social, mãe protetora e condutora da vida. E que nenhum Estado, governo
ou poder possa substituí-la. Jamais.
© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Setembro de 2014.
© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Setembro de 2014.
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