Já me manifestei em outra crônica - Nesta manhã de primavera... - minha predileção pelas estações com climas mais amenos. O verão e o inverno são estações rudes, extremistas e irritantes para o corpo: muito quente ou muito frio; interferindo também em nossas decisões. Ouso dizer: o clima influencia mais em nossas vidas que a astrologia – para aqueles que acreditam. As mudanças climáticas apaziguam ou incomodam, na medida que sentimos; mexe com nosso corpo, altera o sono, mexe com o apetite, com o humor; e estes respondem com decisões sobre a vida.
Isto também está nesta estação que se inicia – o outono. Nestes dias, com este friozinho, mangas longas e banhos mornos, nos remetem ao aconchego, ao casulo, à cabana; faz-nos mais carentes de colo e de cafuné na cabeça – como é bom... O calor já se foi e já não dá mais praia, o carnaval já passou, as folhas caem e o ano, de fato, já começou. Tenho esta teoria já faz tempo, de acreditar que o outono é a estação onde mais nos apaixonamos. O pavor com a chegada do inverno e de não ter ninguém no calcanhar, para aquecer nossos pés, torna-nos mais fragilizados e vulneráveis às paixões. Permitimos e nos apaixonamos mais. Em 2005, escrevi um poema sintetizando tudo isso (poema não se explica, já disse Ferreira Gullar). “Paixões de outono” é um convite ao recolhimento, à paixão que bate no peito querendo entrar. Permita-se, então, se vem para ficar - muito além do outono.
Paixões de outono
Outono, outono...
Nunca me dei conta
Como instável era a paixão
Marolas de mar
Balanços das ondas
Suspiros no fim do verão
Passeios à tarde
Taças de vinho ao luar
Rubros no céu de abril
Amores sem dono
Extraídos de um conto
De outono
Outono...
Nunca me dei conta
Dos dias que passei
Em frente aos olhos
Que vi naquele olhar
São coisas de outono:
As noivas de maio
Fogos de junho
Festas de encontros
Rodas de carruagem
Levam histórias, viagens...
Levantam folhas caídas
De igual abandono
De outono...
E nem me dei conta
Do amanhecer de orvalho
Quantas constelações
Estrelas milhares
No jardim daqueles olhos
Vinham em navios
Invadiam noites afora
Saqueavam meu sono
Num encanto
De quase outono
Ah, quando me dei conta
Já hospedava no peito
Mais nova paixão
Navios, estrelas, folhas...
Depois deste outono
Ninguém mais ouse dizer
Que seus olhos
Agora, já não tem mais dono
Antonio - 19/05/2005
2 comentários:
E tudo que eu queria é que seu desejo estivesse em mim,
Seus olhos procurassem pelos meus,
Seus anseios fossem satisfeitos com minha presença,
Sua busca acabasse no toque da minha mão .....
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