Sou sobrevivente de um mundo que não
usava cinto de segurança;
De um mundo que tinha medo de misturar
manga com leite (e Deus com o pecado);
De um mundo que tomava café com açúcar e
leite com nata;
De um mundo que bebia água da moringa e
da mangueira do jardim;
Sou sobrevivente de um mundo de pés descalços em ruas
descalças;
De uma infância de carrinho de rolimã e joelhos
ralados com merthiolate;
Ah... quantos aniversários sem bolo e
parabéns. De Natal sem presente. Sobrevivi;
Sou sobrevivente do futebol de rua e da “queimada” com bola
de meia pesada, na orelha;
Das linhas de cerol lambendo os fios da rede elétrica;
Sou sobrevivente da zoação no pátio da escola. Aquilo que hoje chamam de bullying;
Sou sobrevivente da porrada no portão da escola, das cusparadas na
cara;
Sou sobrevivente de um mundo onde ninguém se importava com
a fumaça do cigarro;
De um mundo onde, nas quermesses de igreja se soltavam
rojões e os cães latiam, porque os cães latem, porra!;
Sou sobrevivente de uma adolescência sem Playstation e
Smartphone;
De muitos verões debaixo do sol escaldante, sem filtro solar e com muito "rayito
de sol";
De um mundo onde se criava muitos filhos,
sem esperar nada do governo;
Sou sobrevivente de um tipo de educação acompanhada de muitas surras de pai e mãe;
De um modelo de disciplina, de aguentar
reguadas na cabeça e puxões de orelha da professora;
Sou sobrevivente desse mundo austero, improvisado,
sem muitos cuidados e perigoso;
Sobrevivi, sim, a uma noite de bebedeira
ao volante, por uma paixão impossível, que o tempo depois curou;
Sobrevivi a todos os riscos que o mundo de hoje não suporta correr, porque acreditam que não há anjos da guarda;
Sobrevivi (por Deus e esses anjos),
porque os sobreviventes contarão as histórias da vida de outrora e suas batalhas como lições;
Sobrevivi esses anos e a tudo isso para
dizer a esse mundo babaca de agora, de uma gente vitimizada, infantilizada,
mimizenta, ranhenta;
Para dizer a essa geração de covardes
insanos, à essa geração “sete a um”, nutella, snowflake:
VOCÊS SÃO CHATOS PRA CARALHO!
© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Janeiro de
2016
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