BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A geração ponto com

De tanto ouvir falar, e para não ser atropelado por essa ou qualquer outra geração futura, fui procurar saber o que é “Geração Y”. Entender esses novos seres que habitam o planeta; as causas e consequências nesse choque frontal de gerações, de A a Z. Ou seja, estar em sintonia com meu tempo, para não ser pego desprevenido. Tenho me assustado com alguns comportamentos ultimamente – isolados ainda -, que chegam a me arrepiar, me fazendo pensar se ainda vivo nesse planeta. Será que não estou mais nele? No mundo, onde nosso lado ocidental não está em guerra com ninguém, diretamente, a qualquer disparo, chego a pensar em trincheiras. Tenho receio das revoluções silenciosas.

Esta ordem parece ilógica, pois a geração X é do início dos anos 60, e pela sequência, veio a geração Z e agora a Y. E depois dessa? Acabou o alfabeto... Sei de outras classificações, como aquela que chamavam geração Coca-Cola – anos 80; essa que dizem ser a década perdida, pois nada aconteceu. Será? Ficou marcada pela música homônima da Legião Urbana “Somos os filhos da revolução / Somos burgueses sem religião / Somos o futuro da nação / Geração Coca-Cola”. Antes, ouvi dizer da geração Woodstock – final dos 60 e início dos anos 70, definida pelos movimentos de contracultura, da liberdade de expressão, dos protestos estudantis pelo mundo e do rock´n roll na veia.

Não sei dizer qual delas eu me encaixo, acho que um pouco de cada. As gerações marcam um período, ou vêm retratar o comportamento das pessoas diante do mundo do qual elas representam; um mundo do qual elas receberam e agora modelam com suas mãos. E depois vão tentando se livrar, porque a vida se torna monótona, ultrapassada e escravizada. Partem para outra.

Esta geração, que chamam de Y (nascidos após 1980), é marcada pelos avanços e usos dos recursos tecnológicos; os meios tecnológicos de última geração - ultimate. Na contramão, ainda há, por exemplo, os que em plena era do som digital, preferem o bom e velho disco vinil - como num filme que vi. Mas, a geração Y não está nem aí com quem quer ficar para trás. Eles vão adiante. São tão avançados que, temos impressão de uma criança, antes de aprender a falar, já manuseia esses instrumentos com desenvoltura; o que, para muitos adultos, é um transtorno, algo inatingível. Desconfio que elas nasçam sabendo. Por outro lado, interagem pouco, são seres robotizados; o que torna a vida, que recebem para ser vivida e partilhada, um tanto impessoal, individual e mais competitiva.

Uma amiga me contou que, sua filha de 13 anos, fica horas em frente ao computador. Ao mesmo tempo, consegue manusear várias ferramentas, numa cadeia de informações de aparente exaustão  - não para ela. Para nós, que viemos de um mundo mais lento, fadigamos. Fica difícil acompanhar e optamos por resumir os usos por até duas ferramentas, que entendemos achar profícua. O celular, por exemplo, considero de grande utilidade. Ou, a melhor de todas atuais.

Quando eles se juntam em rodas de bate-papo, são barulhentos, conversando vários assuntos ao mesmo tempo; assim, como fazem nas conversas virtuais, pelo Messenger. Dia desses, fui ao cinema de um shopping local. Era uma sexta-feira. A sessão era daquelas de final de tarde, que você escolhe para relaxar antes de ir para casa jantar. Na entrada do cinema, avistei alguns jovens – na faixa entre 13 e 17 anos – se aglomerando no mall em frente à bilheteria. Imaginei que havia algum filme interessante, ou se estavam ali marcando ponto de encontro na saída do colégio. Quando saí da sessão, fiquei pasmo com a quantidade deles, era quatro vezes mais do que havia. Falavam alto, em várias rodas de conversa. Suas aparências eram de alienígenas. Sem definição de expressão. Todos – meninas e meninos – tinham a mesma aparência, trajes, mesmo estereótipo, e mesmo rosto. Sem sexo definido. Fiquei horrorizado, quando passava em meio a eles, e pensei: quem são? Em qual planeta habitam?

Deixo algumas perguntas a esta geração. Estão interessados pelos caminhos do mundo? Qual a tolerância à corrupção e os desmandos políticos? Ficarão revoltados contra qualquer governo - saindo da zona de conforto (em frente ao computador) -, para mudar uma situação? O que pensam sobre família e Deus?

Outro dia, um garoto de 10 anos – sem nenhum motivo aparente – em poder de uma arma de fogo, que roubou do pai, atirou contra a professora em sala de aula, em seguida seguiu por um corredor até uma escada e atirou contra sua própria vida. Ele só tinha 10 anos, e era da geração Y. Fora isso, nada a temer com eles.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / setembro de 2011

Um comentário:

Rossana Masiero disse...

Totalmente desatualizada, confesso que a primeira vez que ouvi esse termo foi nesse domingo, assistindo o resumo da semana do Programa do Jô.
Ele entrevistou uma escritora que lançou um livro sobre os "filhos da geração Y", que é onde se encaixa esse menino que você citou.
Mais um assunto para se refletir.
Abços

Rossana