BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Outras palavras

Meu psicanalista de cabeceira — Flávio Gikovate — sempre afirmou que, sexo não tem nada a ver com amor. Embora, romanticamente, falamos que fazemos amor quando, na verdade, fazemos só sexo. Porém, nada impede que façamos sexo com quem amamos — o que seria o ideal.

Vira-e-mexe, as palavras vão tomando lugar uma da outra, e esta perdendo o sentido, quando queremos expressar o que sentimos ou que desejamos. Tudo se confunde. Isto não ocorre com os extremos, com as antagônicas. Mas muitas palavras, pelas suas aproximações, vão tendo outras conotações que se perdem com o tempo. Até mudar inteiramente de sentido. Nem sempre elas tem a etimologia direta para explicar suas origens. As gírias, por exemplo, nascem no meio das conversas reservadas de grupos sociais, e quando cai no gosto popular, se espalham por aí como rastilho de pólvora.  Outro dia, perguntei se alguém sabia de onde vem a palavra "ataia", muito usada em Minas. Uma pessoa me disse: é uma derivação de atalho, atalhar. Quer dizer atalhe a conversa, encurte, seja breve. "Ataia Zé!" No popular mineiro virou "ataia".

No início da década de 1970, usávamos a palavra "transar" para dizer "curtir"; no dicionário, diz ser uma gíria em substituição das palavras ajustar, combinar, tramar, cuidar de, dedicar-se a. Era como se usava naquela época. Lembro de Elis Regina usando muito o termo "transei" isso ou aquilo nas suas entrevistas. Hoje "transar" ainda continua no sentido da gíria inventada a época, mas de maneira pejorativa só para  ajustar com alguém no sexo, combinar com alguém no sexo, dedicar-se a alguém no sexo. Ou seja, fazer sexo.

Até o início da década de 1980, ainda era assim usada, numa novela que se chamava Transas e Caretas. Vai botar o nome de qualquer coisa hoje de Transa, lá vem sexo na mente.




Postado por Antônio - Fevereiro 2011

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