BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

domingo, 24 de outubro de 2010

À francesa

Françoise Hardy
Nenhuma outra década colocou tantas beldades francesas no mundo pop, como a década de sessenta. No cinema, era o auge de Jeanne Moreau e Brigitte Bardot. Vi recentemente a comédia “Viva Maria!” — 1965. As duas atrizes estão lindas, interpretando papéis cômicos e sensuais, é claro. Moreau com 37  e Bardot com 31 anos. Balzaquianas, com as suas siluetas bem definidas, faziam duas “Marias” que viviam enfiadas em seus corpetes, arrancando suspiros dos homens em shows de strep tease, que atuavam seguindo um grupo mambembe de atores circenses. Imperdível.

Na música, a década de sessenta também trouxe a cantora Françoise Hardy. Minha memória foi despertava quando lia o livro “A Era dos festivais” e vi citado o nome de Françoise Hardy. Imediatamente veio à lembrança uma canção que fez sucesso no Brasil no início da década de setenta. Em 1968 — com 24 anos — ela veio ao Brasil participar do FIC — Festival Internacional da Canção — defendendo uma das suas belíssimas obras: “À quoi ça sert”. Sua identificação com a música brasileira foi tão contagiante, que logo depois gravou em francês a música que ganhou aquele festival, “Sabiá” de Tom Jobim e Chico Buarque. Na sua versão, a música ganhou o nome de “La ménsage”. Em 1971, ela faz novamente sucesso no Brasil depois de ter gravado o disco “La Question”, agora ao som do violão da brasileira Tuca.

O que encantava em Françoise Hardy não era somente a sua bela voz, mas a sua beleza vestida de eloquência. Sempre linda, elegante, magra e tímida; dava-se a impressão que ela não sabia que era tão bonita assim. Disfarçava sua beleza cantando. Naqueles anos, ela foi capa de muitas revistas famosas e foi, com certeza, um dos rostos mais fotografados naqueles anos.

Para o Blog, escollhi a canção “La Question”, que foi o que me fez lembrar-se de Hardy e trouxe muitas outras boas lembranças. Lá em casa havia um compacto simples “som livre”, um dos lados do disco era ela. Esta música era tema de uma novela de 1971. No site oficial de Françoise Hardy, está registrado que a letra é dela (Hardy) e a música é da violonista e compositora brasileira Tuca.




La Question
A questão
(Françoise Hardy)

Je ne sais pas qui tu peux être
Eu não sei o que você pode ser

Je ne sais pas qui tu espères
Eu não sei o que você espera

Je cherche toujours à te connaître
Procuro sempre te conhecer

Et ton silence trouble mon silence
E seu silêncio perturba meu silêncio

Je ne sais pas d'où vient le mensonge
Eu não sei da onde vem a mentira

Est-ce de ta voix qui se tait
É de tua voz que se cala

Les mondes où malgré moi je plonge
Os mundos onde, contudo eu mergulho

Sont comme un tunnel qui m'effraie
São como um túnel que me assusta

De ta distance à la mienne
De sua distância em relação à mim

On se perd bien trop souvent
Se perde sempre

Et chercher à te comprendre
E procurar te entender

C'est courir après le vent
É como correr depois do vento

Je ne sais pas pourquoi je reste
Eu não sei por que eu fico

Dans une mer où je me noie
Em um mar onde eu me afogo

Je ne sais pas pourquoi je reste
Eu não sei por que eu fico

Dans un air qui m'étouffera
em um ar que me sufoca

Tu es le sang de ma blessure
Você é o sangue da minha ferida

Tu es le feu de ma brûlure
Você é o fogo da minha queimadura

Tu es ma question sans réponse
Você é minha pergunta sem resposta

Mon cri muet et mon silence.
Meu grito mudo e meu silêncio.

Postado por Antônio - Outubro de 2010

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