Pronto, acabou mais uma Copa para nós. Recolham as bandeiras, guardem as camisas no armário, calem as vuvuzelas e voltem à rotina e só daqui a 04 anos. Como em de 2006, saímos nas quartas de final. Desta vez o nosso judas e culpado foi Felipe Melo; ele é o Roberto Carlos de 2010, embora não tenha “ajeitado o meião” na hora do gol, mas foi incompetente em “ajeitar” uma bola para dentro das nossas redes, ou como se diz em Portugal: fez um auto-gol. Para completar entrou covardemente com as travas da chuteira na coxa do holandês Robben e foi expulso. Depois na entrevista, com os olhos secos, disse que não foi maldoso – havia mais de 30 câmeras para registrarem a cena. Durante o jogo, se salvou quando teve um lampejo de Gerson ao dar o passe para Robinho marcar o único gol do Brasil, mas no minuto seguinte voltou a ser o que é: Felipe Melo.
Sempre assim, depois dos fracassos procuramos os culpados. Depois de tantos elogios durante a Copa de 1982 e com o gol que marcou contra os Argentinos, Junior foi o culpado por não marcar Rossi no último gol da Itália; antes Cerezo havia sido culpado por cruzar uma bola na nossa defesa na presença do próprio. Mesmo quando jogamos como verdadeiros artistas, como em 1982, também deixamos cair um pouco de tinta no quadro e manchamos a tela, estragamos tudo. Futebol é feito dos seus detalhes e um erro pode custar anos de preparação.
Foi lembrado por um cronista que, futebol de Copa é atípico, jogamos uma competição onde temos que provar que somos os melhores naquele mês, talvez no mês seguinte não consigamos praticar o mesmo futebol e não alcançamos o mesmo êxito. Não há como dizer que houve progressão de um time ou outro e muitas vezes nem sempre os melhores ganham; muito diferente de um campeonato brasileiro, por exemplo. Os alemães sabem muito bem disso. Salvo esta Copa, sempre tiveram um futebol sem brilho, mas com eficiência para jogar sete jogos.
As lições dessa Copa ficaram patentes e lembraremos no futuro como o fim da Era Felipe Melo, creio. Não querendo crucificá-lo pela derrota, mas seu nome será lembrado, pois o mais desinformado torcedor sabia do mal que ele poderia nos causar pelo seu futebol de pouco talento e seu destempero emocional. Somente seu treinador não via isso. Dessas lições tiro algumas.
Não adianta aquartelar jogadores e colocarem debaixo das Leis Dunguianas. Isso não resolveu e nunca irá fazer ganharmos títulos, pelo contrário, preservando e restringindo demais o ambiente deixa o jogador inseguro e depois não tem reação nos momentos de adversidades, com o placar adverso. Faltou passar aos jogadores na concentração o filme “Desafiando gigantes” - 2006, uma bela obra e com bons exemplos de como ganhar uma competição.
A segunda lição importante a lembrar para 2014 é que a Copa sendo uma competição curta de sete jogos, há que se convocarem quem está melhor no momento e não que é nosso amigo, digo, amigo do treinador, fiel a ele. Balela. A Alemanha levou os seus “meninos da vila”: Özil e Müller, ambos com 20 anos de idade e nunca jogaram uma Copa. Müller foi convocado na partida do time para a África do Sul, ele veio para substituir o maestro do time Ballack. Tem sido um dos melhores da Copa. Portanto, para 2014 rasguem esta regra.
Outra lição é que ao se trabalhar um time para uma competição deve-se também entender como está o estado psicológico de cada jogador e tentar colocar todos num mesmo padrão de autocontrole. Na partida contra a Holanda houve um momento em que Robinho é flagrado aos berros com um jogador holandês. O quê fez o holandês ao receber os gritos de Robinho? Manteve-se na sua posição, calmo, não entrou no clima do brasileiro. Assim ajudou o seu time a virar o placar. Após o segundo gol era nítida a frustração dos jogadores, pareciam sem reação.
Por ultimo, nós precisamos deixar de pensar que somos ainda os melhores do mundo, e que não devemos nos preocupar com quem enverga a camisa adversária. Do outro lado também há bons jogadores e por isso devem ser respeitados e marcados, assim como eles marcam os nossos jogadores principais. No jogo contra a Holanda era premissa ter que marcar o Robben (11) e o Sneijder (10). A tática dunguiana ignorou os dois jogadores e eles decidiram.
Em 1968, quando o Maracanãzinho em pé gritava “é marmelada, é marmelada”, por não aceitar que a música de Vandré não estava na final daquele festival, ele foi ao microfone e disse: “A vida não se resume em festivais”. É isso aí, eu também digo: “A vida não se resume em Copa do mundo”. Que a Era Felipe Melo seja sepultada e com ela este futebol pragmático; de quebra que vão também essas malditas vuvuzelas, passem logo esses anos e até 2014. Bola para frente.
© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / julho de 2010.
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