Imagina aquela mulher, entre 30 e 40 anos, que
citei na crônica A taça de vinho (quase) vazia (clique aqui); que está na pegação por aí, como se diz; portando-se
como antes só cabiam aos homens: desinteressada de relações e interessada
somente em seu "eu" (umbigo) e desejos. Sim, ela existe e começa a ser maioria entre elas. Isso eu já disse. E agora, imagina outra, na mesma faixa etária,
que mesmo estando nos ambientes de moda (baladas, bares e festas), ainda
conserva, por tradição, um desejo de um modelo antigo de relação: namoro, casamento,
filhos e família. É sobre ela que escrevo agora.
A escassez de homem do
mercado, para essa mulher que está aí na faixa dos 30 a 40 anos, tem várias
vertentes. Primeiro, tem muito veado ou genérico na praça. Segundo, os homens,
hoje em dia, na faixa dos 40 anos (bom para ela), ainda moram com os pais. O
cara já está na segunda pós e seus ganhos não condizem, muitas vezes, com seus
gastos (a sociedade de mercado nunca ofereceu tantos produtos para se gastar
com o mísero salário que se ganha). Melhor morar com a mamãe, que serve janta
quentinha todos os dias e ainda o mima como se tivesse 15; muito melhor do que
dividir um apê com um amigo bagunceiro, que só sabe fazer omelete e comer no Burger
King. No final do mês, tem o salário limpinho e pode fazer prestações de um
iPhone novo.
Depois, aquele que
ganha mais e quer se emancipar (são raros), tem projetos individuais, como: estar
sempre de carro novo; ter um apê próprio para levar não só essas de 30, mas as
de 20; tem futebol society quase todos os dias; melhor tomar cervejas com
amigos, do que ter que pagar a sua conta; filho nunca foi objetivo na vida
(são muito caros); viagem para Europa é mais barata para um e tranquila, quando
não tem uma mulher para encher seu saco querendo ir a lugares de compra, quando ele
quer tomar cerveja australiana num pub. Enfim, ele está fugindo de
compromissos longos, cobrados; passando bem longe da casa da sogra e dos
almoços de domingo. Aí fica parecendo que você, mulher, vai às baladas em vão.
É verdade. Vai, sim. Não tem homem!
Aí eu pergunto: Como
penetrar nesse universo (quase misógino) e sair dali com seu homem zerinho, em
suaves prestações? Difícil responder. Vivemos numa época muito controversa,
confusa de relacionamentos. Com tantas facilidades em construir e desfazer tudo como num passe de mágica. Anti-sentimental e pró-imagem. Muito status e pouca vida. Muita tecnologia e poucas relações. Muito WhatsApp
e poucos telefonemas. Eu diria até que vivemos um hiato, um vazio, um abismo ou
uma transição de eras. O sentimento, o amor deixam de ter suas importâncias e o que vale é o sucesso, o corpo, a saúde, a imagem, o parecer, a felicidade, a longevidade, a grana, o prazer e o desfrute.
Mudar isso é como virar um tabuleiro inteiro, no meio do jogo. Essa mulher precisa aprender: homens amadurecem mais tarde. Não é como na década de 70, quando
eles, com 30 anos, eram casados, já com três filhos. Homens com 40 anos, hoje,
andam com boné de aba para trás, bermuda, regata e jogam vídeo game com seu sobrinho de 15. Só vão criar juízo e visão do mundo depois dos 50. E olha
lá...
Por outro lado, essa mulher
(sem terapia), por achar que a escassez é um problema que está com ela (não
imagina que ele não quer compromisso), começa a se sentir rejeitada (se for
bonita, mais ainda); vai querer ficar mais bela (do que já é), só para atrair
esse cara. Gastos excessivos com cabeleireiros, manicures semanais, academia e
plásticas (bumbum, seios, nariz, etc.). Está tudo misturado no seu subconsciente. (Ela
pode até dizer que turbinou os peitos por ela mesma, mas não há explicação
quando é algo do corpo que se quer consertar. É para ser visto de fora e não no
espelho.) Mesmo assim, ele só a quer para uma noite, porque beleza cansa e só
serve até ele gozar. Mesmo se você for bonita, não pense que tem o poder de
escolha. Mulheres bonitas são péssimas para escolher homens. Sempre acabam nos
braços de caras mais ricos, bonitos, adúlteros e cafajestes.
(Quando eu falo em escassez, é no sentido da raridade de um tipo de homem. Aquele que está pronto, homem feito, mas precisa de um empurrão ou algo que o impulsione para assumir um compromisso sério.)
(Quando eu falo em escassez, é no sentido da raridade de um tipo de homem. Aquele que está pronto, homem feito, mas precisa de um empurrão ou algo que o impulsione para assumir um compromisso sério.)
Essas mulheres deveriam
se mirar naquela da sua espécie, que está numa faixa mais acima (45 e 50
anos). Se estiver sozinha, é porque já foi casada, ou porque entrou nessa
safra de escassez também, tudo com blasé. Menos ansiosa, mais
paciente, sem aquele elã dos trinta; até por que, para ela, sobraram os filhos para cuidar, enquanto o
ex-marido veleja em Ilhabela. Essa, que já passou pela crise dos 30 (de difícil
namorado/parceiro), aprendeu, com os tropeços, que o homem não a quer da maneira que ela sempre
achou que fosse.
Repare bem e se pergunte:
Por que tem mulher feia, gorda, desajeitada e malvestida casada? A resposta é
simples. É porque ela não tem muita frescura na escolha de homem. São tímidas e
até passam despercebidas numa festa. Ela não olha a conta bancária do cara,
seus olhos azuis, seu nariz italiano, seu Corolla, etc., mas enxerga muito além. Enxerga futuro, filhos, etc. E, principalmente, se ele tem disposição
para uma vida a dois. Pronto! Depois, ela tem algo a mais que oferecer que
sexo. Já dizia o velho Gikovate: as relações, hoje, são feitas de parcerias e não
de amor-romântico (século XIX). Ela oferece parceria.
Homem feito não gosta de
mulher burra. Bonita/burra só para se divertir na balada. No dia seguinte, ele
vai jogar futebol com amigos e nem se lembra dela. Se ela não sabe discutir
política (assunto do momento), oriente médio, livros, séries da Netflix, etc.,
esquece. Você tem que se parecer (e ser) interessante para ele. Sua beleza e
atração é sua fala, seus argumentos, seus conhecimentos e tudo que possa se
somar à vida dele. (Conhecer futebol não serve). Atributos como: cozinhar,
servir, arrumar, decorar, educar devem ser instintivos. Não são acessórios. Fazem
parte do conjunto daquele universo atrativo.
Tem um um ditado popular que diz que você tem que casar com quem você gosta de conversar, porque, na velhice, o que sobra é só a amizade. Eu acredito nisso.
Tem um um ditado popular que diz que você tem que casar com quem você gosta de conversar, porque, na velhice, o que sobra é só a amizade. Eu acredito nisso.
Por fim, se você mulher
trintona tradicional, ainda tem alguma esperança de um bom relacionamento, é melhor olhar
mais para o lado. Quem sabe aquele carinha feio e magro do teu trabalho. Pode
ser ele. Frequente mais supermercado do que baladas. Gaste mais tempo com
livros e filmes do que com supinos, legpress e crossfit. Mais tempo em
conhecimento do que com futilidades, shopping, sapatos, raves e música sertaneja.
Olhando para esse nosso
tempo (cheio de mutações e imprevisibilidade), talvez com 40 (ou mais)
você, com paciência e sorte, encontre esse homem para o resto da sua vida. No
silêncio da alma, na respiração serena de uma manhã. Depois, aprenda acender a churrasqueira e a manter sua cerveja
na temperatura certa. E já vou avisando, ele tem barriga.
(Outra dica: "Os homens mentiriam
menos se as mulheres fizessem menos perguntas" – Nelson Rodrigues)
© Antônio de Oliveira /
arquiteto, urbanista e cronista / agosto de 2017
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