BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Quem deu a facada?

Quem deu a facada em Bolsonaro foram os mesmos que levaram o país a essa miséria intelectual que nos aprisiona hoje. Ou você só acredita em miséria baseada na fome do Nordeste?

Adélio foi só um instrumento e o portador do objeto perfurante; aquele que consumou o ato. Pare e pense: Por que matar uma só pessoa e não um outro ou todos? Por que Bolsonaro? Simples de explicar. Porque ele representa o perigo para a desarticulação do sistema perverso, corrupto e canalha que nos envolve por décadas. Quem deu a facada foram eles.

Há tempos o país não se reconhece mais. E isso não é obra do acaso, como alguns idiotas ainda acham. Isso tem fórmula, alquimia e foi calculado para acontecer nesse tempo. Um povo atingido por todos os níveis de miséria humana não tem reação nenhuma ao poder, irá se vergar a ele e lamber suas botas. Um povo entorpecido por esse sistema é capaz, inclusive, de tirar da cadeia um condenado por corrupção e lavagem de dinheiro de dentro e transformá-lo em presidente. Ao mesmo tempo, achar intolerante, homofóbico, racista, misógino um com a ficha limpa. Um dos problemas do país, dessa miséria intelectual, é se compadecer com o que dizem e não enxergar o óbvio que acontece, de fato, a um palmo do nariz.

Eis o país que deu a faca ao criminoso; um país padecido na miséria humana e intelectual. Ele não se reconhece mais. Não vê gravidade no seu e no futuro de seus filhos e netos.

Isso precisa ter um dia do “basta”.

O país precisa parar de entregar a faca aos criminosos que irão, mais cedo ou mais tarde, golpeá-lo pelas costas.

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / setembro de 2018