BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Quando chama o coração... peraí


ATENÇÃO! ALERTA DE SPOILER 
Enquanto escrevo essas linhas, a crônica Quando chama o coração (ler aqui) já ultrapassou 10 mil views (ou leituras), aqui no Blog. O sucesso, com um número crescente nas últimas semanas, se deve ao fato da Netflix ter disponibilizado a quinta temporada de When Calls The Heart, no início deste mês. A procura por marcadores acaba encontrando este Blog, sem querer. Obrigado!

Na Netflix, a série já está na lista de "em alta", porque os fãs querem saber como continua a história de amor entre Elizabeth e Jack.

Não precisa dizer que, quando escrevi a crônica, em março de 2018, estava muito empolgado com a repercussão das imagens que chegavam dos EUA, dessa mesma quinta temporada. Ali, pelo sétimo episódio, acontece o casamento da década, como anunciou a Hallmark Channel. Finalmente Elizabeth e Jack se casam e pareciam que iam viver uma vida eterna, formando família e que tudo terminaria bem. Mas não foi bem isso... (Confesso que esse término da quinta temporada destemperou o romantismo que dei à minha crônica. Foi uma ducha de água fria.)

Aconteceu, porém, o inesperado. Capítulos depois, o personagem do mocinho Jack some, morre numa missão (?). A morte de Jack pegou todos de surpresa, não só os personagens, mas também o público fã da série. Os comentários nas redes sociais aqui no Brasil e nos EUA eram diversos e divergiam sobre a motivação da morte do personagem.

As mudanças de roteiro não agradou ninguém, claro. Tanto o público como o elenco ficaram perdidos: e agora? A atriz Erin Krakow fez uma live no Instagram na mesma semana. Não dava para esconder os olhos inchados de um choro que não sabemos ao certo se era dela ou de Elizabeth. Depois, a produtora da série, Hallmark Channel, fez uma outra live no Facebook com os dois atores (Erin e Daniel) sentados num sofá com a atriz Lori Loughlin no meio, como se estivesse apaziguando uma briga. Dessa vez Erin não escondeu e deixou escapar algumas lágrimas. O seu choro era de alguém que queria se recuperar de uma dor que ainda sentia. (Tenho comigo — não contem nada a ninguém — que ela estava apaixonada por Daniel.)

Dias depois, as duas atrizes vieram novamente às redes sociais anunciar que a série teria uma sexta temporada. E como todos já imaginavam, um bebê estava a caminho, dando linha a um roteiro reescrito. Mas muitos fãs afirmavam que não assistiriam a continuidade; não haveria mais graça seguir a série dali em diante. Aquele romance, que colocava tempero na história, agora era uma lembrança de Elizabeth. Seu herói estava morto. Era o fim de uma eternidade.

Depois, acompanhando os bastidores, descobri que o ator que interpreta o mountie Jack Thornton, Daniel Lissing, pediu para sair da série com a desculpa que tinha convites para outros papéis. Fiz alguns comentários que não agradaram muitas fãs do ator. Fazer o quê. Eu achei, e continuo achando, sua atitude uma falta de profissionalismo. Ele deveria ter respeitado o contrato e ido até o fim da quinta temporada, ao menos. Aliás, eu acho que não deveria nem haver a sexta. (Está para entrar no ar nos próximos dias nos EUA).

Encerrando, e sendo menos romântico que a crônica anterior, When Calls The Heart continua um refúgio para quem já se cansou deste século XXI tão cheio de valores invertidos (eu cansei). A série é pura emoção, ternura, romantismo, compaixão e tudo que agrada os olhos e os demais sentidos. Se fosse um cheiro, seria como o aroma de café da manhã, numa janela aberta ao passado.

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / fevereiro de 2019