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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A cidade dos sonhos


Quantos afoitos e assanhados da mobilidade urbana (assunto da moda política) vivem ruminando seus sons em debates sem fim; com o olhar de esguelha sobre um prisma da cidade que lhes interessa. Então, vai pimenta no debate.

Foi justamente num sonho que ele me falou (um anjo)... Às vezes é preciso olhar além das fronteiras do óbvio e do objeto: a escala humana da cidade. A coisa é maior que o simples transporte que se toma para visitar um tio do outro lado da cidade. Mas num canal de ideias, confrontando e abrindo layers sobrepostos nos vários outros seguimentos que envolvem a vida nas cidades: Morar, transportar-se, encontrar-se, se sentir seguro, se sentir justiçado, se sentir protegido, ter amigos, ter família saudável, ter escola, ter lazer, ter saúde pública de qualidade e ser feliz na urbe.

Não adianta discorrer sobre mobilidade, querendo que todos andem de bike (só pra dar um exemplo), e depois ficar tecendo no imaginário uma outra bucólica cidade de paz; dentro de uma ordem pública estabelecida, de policia sem armas, de gente feliz, com drogas legalizadas, cadeias vazias, bibliotecas bem visitadas, museus, iPhones pra todos e mulheres vendendo seus corpos em vitrines, como em Amsterdam.

Sem o alcance do desenvolvimento educacional, cultural, social e político não se sustenta o restante. A comparação é torpe e longínqua. Alcançar meios de transportes sem igualar a cultura cidadã é uma coisa bem amadora. A carroça ainda está presente na alma brasileira e o temor da cidade também. Como enfrentar e equalizar tudo?

O Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro não têm forças (moral e política) pra enfrentar black blocs nas ruas. Eles estão aí soltos quebrando e incendiando as cidades. Este é um ponto. A PM virou alvo de todos e inimiga pública número um. A insegurança se espalhou como rastilho de pólvora, com artistas e juízes (?!) apoiando os incendiários da cidade; e todo mundo  querendo transporte de primeiro mundo... É como fazer cirurgia na precisão de um bisturi de um lado e na cegueira do gume de um facão do outro, e tudo no mesmo corpo doente.

Como falar em mobilidade urbana (padrão FIFA) tendo um povo e governos miseráveis e numa enfermidade mental sem cura; e num momento como esse, quando as cidades estão em ruínas. E a vida cada vez mais cara para viver, com governos corruptos, impostos altos e sem retornos em projetos que sustente uma simples vida. Como ser feliz na cidade só andando de bike?

Quem dera fosse só organizar os espaços, distribuir seus modais por canaletas e ciclo-rotas; com o ir-e-vir livre e barato; como aquele garoto de Liverpool que atravessou a cidade num bus, só por saber que um ser qualquer, do outro lado da cidade, sabia fazer um "B7" no violão, e ele queria aprender. 

Os moleques (mlks) de hoje, da periferia, não querem tomar o "buzão"; eles querem andar de carrão possante, com o som nas alturas, tocando seu pancadão. Porque é assim que se pega mais mina. E as "mina pira" no cara de carango com pancadão. Eles sabem disso e vão atrás. As mina não "pira" naqueles que andam de bus, falam dois idiomas, frequentam biblioteca, veem filmes cults e ouvem Mozart no fone de ouvido. Esta é a cultura que precisa reverter e alcançar. Esse moleque, como todo mundo, só quer ostentar e demonstrar seu poder.

Uns dirão "eu só faço a minha parte... O resto não é comigo".  Não adianta. Para a cidade dos sonhos há que todos façam sua parte ao mesmo tempo; que sonhem e realizem juntos. E isso tem um principio nos poderes constituídos. Com ética, moralidade em alta, transparência, planejamento e uma população que lhe presta confiança.

Já finalizando, lembro das palavras do dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues: "O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade".

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Outubro de 2013.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Tudo junto e misturado e uma sociedade na UTI


ATENÇÃO! Nossa sociedade está doente... O pior, em médio prazo não tem vacina e muito menos cura. Estamos passando por um momento letárgico e de sonolência; de pessoas do bem e comuns vendo suas vidas sendo solapadas, destruídas e ao mesmo tempo fingindo não sentir, dando as costas e tergiversando das questões.

Venho falando disso há tempos e as pessoas preferem curtir seus pets e unhas da semana; vivendo no seu mundo “lindo-e-maravilhosoooo”, de baladas e curtição; porque o importante é ter um dinheirinho pra cerveja e ficar “so glad” em saber que vai dar praia no fim de semana. Gente tola. Vão ler e se interessar, porque quando acordar seu mundo poderá estar estranho e você com cara de tacho perguntar: Por quê?

O filme “De volta para o futuro II” mostra como uma simples atitude no passado, ou o poder na mão de um mau-caráter, pode transformar todo futuro de uma sociedade. Aquele presente de 1985, todo modificado, irritou Marty quando ele voltou. O problema veio do passado com seu inimigo Beef. Vejam esse filme com este olhar.

O mais surpreendente nas recentes manifestações e depredações das ruas é o modo como a imprensa (a grande) vem tratando o assunto. Com raríssimas exceções, todos pisam em ovos ao dar notícias sobre Black Blocs destruindo cidades. Esses viraram a verdadeira forma de fazer justiça, no braço e na covardia.

Veja, por exemplo, como o JN dá tal notícia. Eles foram um pouquinho mais adiante, mas não chamam Black Blocs pelo seu nome de “Black Blocs”. Antes eram “manifestantes”; depois passaram a chamar de “vândalos” ou “baderneiros”. Agora os chamam de “mascarados”.

Por que quando um veículo de uma emissora de TV é virado e incendiado numa rua, nenhum telejornal faz um editorial incriminando os bandidos, pedindo justiça com veemência? Por que repórteres vão às ruas registrando tudo num celular e todo mundo com o “cu-na-mão”? Por que se pisa tanto em ovos? Por que esse medo todo?

Há várias respostas, mas vou ficar com uma. O medo de atingir um grande cliente (o maior deles) e ser perseguido por uma ditadura silenciosa que já está por aí. Ou você nunca foi corrigido sobre sua fala disso ou aquilo? A democracia às favas.

A imprensa está acuada como um animal preso por sua presa. Tem uma pauta controladíssima e censurada. É o fim.

Outro dia deparei vendo uma manifestação na Av. Paulista, uma faixa dizia “juventude e professores juntos porque a rua é a melhor escola”. Por essas e outras que a educação no país está péssima. A USP, a maior universidade do país, não figura mais na lista das melhores universidades do mundo; enquanto isso o analfabetismo anda a galope e “concerteza” continuará a crescer. Vergonha!

Nas manifestações dos professores cariocas, vemos o sindicatos anunciando, com orgulho, o apoio dos Black Blocs (Black Bostas). Fiquei estupefato. Onde fomos parar? Professores (nossos mestres) se unindo a bandidos. Que país é este?

O que me impressiona nisso tudo é a covardia. Eles não mostram o rosto, se escondem por trás de máscaras, atacam em bandos, como aqueles que bateram cruelmente num Coronel da polícia. 

Lendo os comentários das notícias de jornais você percebe o grau de ignorância misturado com raiva que se derrama no teclado do computador. Entre os bandidos Black Blocs e a polícia, eles preferem os juízes das ruas, marginais de porrete na mão.

A polícia virou uma espécie de inimigo público. Tem gente que ainda acha que ela não deve bater em bandido. Tem gente - já li por aí – que quer a extinção da policia. Quero ver quem ela vai chamar quando sua filha for estuprada ou assaltada. A polícia, bem ou mal, ainda são as leis fazendo-se cumprir nas ruas. E uma delas é o direito de ir e vir.

Os defensores da causa animal – não sou contra – querem tornar sua causa uma doutrina, uma ordem social. Daqui a pouco vão obrigar a cada cidadão a recolher e cuidar de animais soltos nas ruas. Eu prefiro ficar no meu comportamento. Só piso em baratas, mas não chuto cachorro ou gato de qualquer porte.

Nessa onda que tomou conta, já li coisas absurdas. Dentre elas, pessoas (na sua doença) colocando o animal numa importância maior que o ser humano. Onde você diz que o ser humano não presta, deveria se colocar também. Ou será a única exceção? Ridículo.

Depois, na manifestação contra o Instituto Royal, quem os manifestantes chamaram pra apoio? Exatamente, os “justiceiros” Black Blocs. Quem se alia a bandido, come do mesmo prato. O mundo (e o Brasil) virou este supermercado de causas. Cada um cuida do seu grupo, do seu nicho e acha isso a coisa mais importante do mundo, e seu ingresso na vida social é de grande relevância. Como um mantra que se diz todos os dias até pegar. 

Os fascistas estão soltos, esta é a verdade. E não tem ninguém que os impeça de seus intentos. O Brasil se tornou uma faixa de gaza. Uma mudança, com a entrada do maligno nos nossos caminhos, está em curso. E todo restante do mundo dormindo e preocupado com o fim de semana.

A coisa pode mudar? Sim! Segundo a Folha de São Paulo em pesquisa recente, 95% da população paulistana repudia os BBs. Já é um começo. Recentemente o ex-reitor da USP, cuja reitoria se encontra invadida por beócios esquerdopatas, disse “o espaço que os intolerantes ocupam é proporcionado pelos tolerantes”. Cabe lembrar, neste caso da USP, os tolerantes são a esmagadora maioria. Mas sem coragem de enfrentar ou só nasceram diferentes. Pensam em só estudar e poder ter um bom emprego.

O mantra mais dito até hoje sobre nós é que “Deus é brasileiro”. Todo mundo vive esse milagre, essa oração como se no final uma ação divinamente instantânea descerá para fazer justiça, como se o miojo ficasse pronto. E você, o que tem feito? Pura ilusão.

Por fim, deixo uma dúvida no ar. Nós temos na sua maioria uma sociedade ignorante, hipócrita ou mau-caráter? Você pode escolher, porque qualquer uma serve ou todas juntas e misturadas.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Outubro de 2013.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Noutras palavras sou muito romântico

Nota: Assuntos recentes e nos noticiários me chamam atenção. Eu escrevo quando algo me incomoda. A dor me incomoda; o amor também me incomoda. Era pra ir pra página do meu Facebook, mas veio pra cá primeiro. Com linguagem de rede social. Sorry



Já havia escrito por aí, mas voltei ao assunto. Há uma santíssima trindade "imexível", irretocável e imaculada no Brasil: Caetano-Chico-Gil (CCG). E com muito espaço ainda pra Roberto, o rei; Pelé, o rei; Xuxa, a rainha; Senna, o mito. O que não falta à nossa gente bronzeada são reinados, coroas, majestades, eunucos e santos pra adorar. Bobos da corte também têm...

Você, meu ouvinte e minha ouvinta, já leu alguma biografia desses "monstros" da nossa e de outras épocas? Claro que não, talvez isso explique a idolatria de tanta gente por esses seres inimagináveis e de almas bondosas. Até o cocô que fazem deve ser linnnnndo!
Pelé, por exemplo, é 42,3% craque; 7,3% está na cabeça dos românticos da bola; e 50,4% puro Marketing. Seu filho não deu certo no futebol. Pelé odiou sua escolha, porque o filho (goleiro ruim e foi pego com drogas) quase tingiu seu marketing de herói dos gramados. Espertamente, também não quis jogar a Copa de 74, porque já temia o fracasso. Aposentou-se no auge e vive das glórias e vil metais do seu passado. Por essas e outras que nenhum brasileiro, por não conhecer melhor Edson, nunca admitirá Maradona, por exemplo.
Geraldo Vandré escolheu viver no ostracismo, desde meados dos anos de 1970. Toda vez que lhe pergunta sobre torturas durante o regime militar, ele nega que tenha sofrido. Os mais sábios da sua vida do que ele (patrulheiros) dizem que ele não diz coisa com coisa... Simplesmente porque ele nega o que todos gostariam que fosse verdade. Hummm. Quem poderá dizer melhor que ele sobre sua vida? Talvez um biógrafo. Não aqueles que teimam afirmar que “fizeram uma lavagem cerebral”, ficando com essa verdade. E eu tenho que ouvir isso.
João Gilberto (82), cantor, mora num apartamento alugado no Leblon. Segundo o porteiro do seu prédio, ele quase nunca desce pra nada (vive lendo, tocando e a única TV que tem é ainda PeB). Quando aparece, ele não usa o hall social do prédio, circulando sempre pela garagem. Ele endoidou? Não! Só quer privacidade e, assim como Vandré, cansou de ser reconhecido na rua.
De Roberto Carlos já li muita coisa, mas tem outras tantas que seu público quer saber. Mas ele quer controlar tudo a sua volta, até as cores das roupas dos outros.
Casamentos conturbados, mulheres, porres, festas em iates, envolvimentos com governos e a máfia... Pelo rastro biográfico de Marilyn Monroe encontrará também o de Sinatra. De como seus amigos mafiosos abusaram sexualmente, fizeram festinha com a bêbada e doente Marilyn Monroe em Cal-Neva, uma semana antes da sua morte. E como o procurador geral da República, Bob Kennedy, fugiu de Los Angeles num helicóptero, na madrugada antes da polícia chegar à casa de Marilyn Monroe. Sinatra estava nesse meio. A vida pessoal manchou a vida artística do "the voice" Frank Sinatra? Não! Ele continua tocando na vitrola de muita gente, inclusive na minha. Para o seu público, o tornou mais humano, talvez. Sua biografia é fácil de encontrar.
No limiar dos anos de 1970, o maior cantor do Brasil era Simonal. Ele sofreu muito com patrulhamento ideológico e boatos que acabaram com sua carreira artística. Toda tristeza que o levou ao alcoolismo e morte prematura. Quem quis provar que ele era inocente e não um dedo-duro? Fizeram um filme recente pra tentar contar esse lado. A tal "comissão de verdade" nunca irá se interessar pelo seu caso. Morreu sem provar que era apenas um negão marrento e de muito sucesso. Os vídeos estão aí no Youtube.
Certa vez, num almoço, ouvi de um velho padre, ser ele a favor da pregação de um Cristo mais humano e menos santo. Eu concordei, mas os cristãos, os fiéis gostam da historia romantizada, idolatrada, santificada, milagreira. Sem negar, é claro, que seja o filho de Deus. Mas como ver só o santo num homem que endoidou no templo?
Mas voltando às biografias censuradas, o único a chamar a coisa pelo nome de "censura" é Alceu "Anunciação" Valença. Deu um pito e esporrou todo mundo. Está no seu mural do Facebook.
Viva a democracia e as biografias; e abaixo os Black Blocs (contrapondo o que prega Caetano). E tudo só porque eu também acredito que é "proibido proibir". Lembra-se disso, velho baiano?
Another words, I'm so much romantic.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / Outubro de 2013.