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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Assim na terra como no céu


Eu disse que estava escrevendo um texto sobre essa antítese que rege nossas vidas: o bem e o mal. O que chamo de guerra das guerras, porque seu fim nunca chega, é milenar, apocalíptico. Sempre houve e sempre haverá a medida de forças, como um cabo de guerra, que se puxa na polaridade da Terra. São essas as forças antagônicas de equilíbrio da existência da raça humana e toda natureza que a cerca. Porque essa é a nossa condição. Não há garantia um dia vamos dar certo nessa vida, e só uma delas sairá vitoriosa. Isso talvez seja o grande desafio de viver: a corda bamba no desfiladeiro do fim do mundo.

A guerra das guerras não se trava visível à luz do dia, nas trincheiras, por trás de barricadas, nos bombardeios aéreos. É uma guerra longa, silenciosa, lenta, no obscurantismo, nas trevas. A guerra que nunca termina é a batalha entre o bem contra o mal. Todos os dias, nos calabouços da mente humana ela se alimenta, e com a vida seguindo seu curso, numa sensação de “paz e amor”. O mundo nunca terá paz por completo. Esqueçam essa história de "mundo melhor".

Se olharmos para a Terra do espaço, veremos um sinal de fumaça aqui e ali, de explosões e ataques aéreos aos grupos terroristas islâmicos — o novo inimigo do Ocidente. Nada que possa alarmar a humanidade (?); nada que se compara às grandes guerras mundiais. O mundo, aparentemente, anda numa certa passividade, de gente boba nas redes sociais. Mas não é bem assim. Os longos anos da guerra fria nos ensinou que há outros tipos de batalhas. As piores são as silenciosas.

Não é muito difícil imaginar que muitas coisas que mantém a existência humana funcionam aos pares, como um universo paralelo onde tudo se equilibra: masculino e feminino, esquerda e direita, corpo e alma, amor e ódio, vida e morte. Como também a paradoxal covardia e coragem, céu e terra, côncavo e convexo. Nossos membros superiores e inferiores vieram aos pares; depois as narinas, os ouvidos, os olhos.  

O formato arredondado da Terra, e muito do que a ciência tem descoberto, mostra que o universo é um colosso simétrico, ou parece ser. O que equilibra tudo isso? Penso sobre essas forças antagônicas, que se complementam, e traçam uma linha imaginária que separa tudo em partes iguais, como uma laranja. 

Alguns pares nos foram negados. A cabeça, o órgão sexual, o coração, por exemplo. Talvez, se tivéssemos em pares (e opostos) não saberíamos como reagir em muitas situações. Assim, uma só boca para termos uma palavra só, fica bem claro. Com uma só perna, não caminharíamos tão longas distâncias e o equilíbrio seria mais difícil. Sem uma das mãos, não faríamos muitos serviços, como fazemos tento as duas; sem um dos ouvidos não alcançaríamos muitas notas musicais. 

Assim, como o chão que atrai nossos corpos e tudo que está sobre a terra. Newton entendeu essa lógica: se não saímos do chão como os pássaros é porque algo nos prende a ele: uma força gravitacional. Há uma força que nos faz estar em contato com o chão, e por isso não temos esse dom dos pássaros. (Se não tivessem asas, não seriam pássaros.) É uma lei de atração, de abstração, de sucção. Ação e reação.

A filosofia chinesa, o taoismo, definiu o conceito Yin-Yang como forças opostos e que se convergem para formar a vida e todo seu complemento. Yin representa o feminino e Yang o oposto, masculino. Assim, reconhecem que é a vida em todos os seus princípios.

Quando penso no bem e no mal, imagino que o mal nasceu antes. Ambos vieram do coração, da ira e da compaixão. Reconhecemos, lá na pré-história alguém teve sua fúria, por sobrevivência, exposta; o bem nasceu da compaixão, por um resposta a tudo. Nunca mais se separaram.

Não ser teimoso e achar que todos os seres vivos estão dispostos a praticar só o bem, e, portanto, só reconhecem o mal depois que a "sociedade" o condenou. Assim, seguindo essa cartilha esquerdista, ele atira para o lado do bandido, como forma de proteger. Nada disso me convence. O mal e o bem já vem como um combo, um kit de sobrevivência. Uma hora utilizamos um ou outro.

Estou lendo o livro "A Corporação", de Nicholas Hagger. E o que diz esse livro? Descreve um poder paralelo, além de nações e governos, que domina e controla o mundo sob os vários meios: políticos, Então, aquela história de donos do mundo, que dizem ser uma conspiração, é séria. Eles agem no obscurantismo, organizando sociedades secretas que envolvem uma parcela significativa da sociedade, como a imprensa mundial, por exemplo. Anônimos, eles comandam nossas vidas há mais de 100 anos. O fim disso? Difícil imaginar, pois se quisessem o bem da humanidade, estariam financiando a paz e não guerras.

Você pode achar que o mundo anda num estado de normalidade, e por isso não devemos criar alarmes e acender luzes de perigo. Nós vivemos, de fato, uma era de desprezo pela vida — a nossa e a alheia. Nunca o homem fez tanto pouco caso da vida, não estando em guerras de tanques – elas justificam o mal. As guerras travadas são internas. Pela autoestima, o narcisismo, se sentir feliz a todo tempo. Isso explica o porquê de muitos sentirem seu coração partido ao ver um cachorro na chuva e nada sentem quando um mendigo dorme ao relento. O desprezo é pelo humano.

Desprezamos a vida, porque tudo que nos cerca nos dá a falsa sensação que temos controle sobre ela e de tudo que pode vir no futuro. Não há controle de nada, só incapacidade cada vez maior de reagir ao mundo e de se sentir mais afetuoso. O bem e o mal se travam, embora tudo faz nos confundir, para que não saibamos definir mais, nem um nem outro. O que salvar primeiro no fim dos tempos, o corpo ou a alma? Tem gente que ainda tem essa dúvida.

O mundo é isso mesmo: um lugar de encontro de seres iguais que se estranham, de vez em quando. E que agora padece nesse gap que se tornou este século. De pessoas ressentidas, mal-amadas, fingidas, distantes e de afetos duvidosos. É preciso entender como as pontas se juntam lá no fim, como é aquilo que une tudo na vida. Como o bem e o mal, Deus e o demônio. E assim na terra como no céu.

(Desculpa se não consegui ser tão claro)

© Antônio de Oliveira / arquiteto, urbanista e cronista / Dezembro de 2016