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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Futebol, religião, mulher...

Há coisas que não se discutem, dizem alguns apartadores de brigas, da turma do “deixa disso”. Futebol, religião e mulher. Será?

Futebol
O futebol, por chiste, se discute e muito. Que graça tem em ter um time e não falar dele, nem quando está mal no campeonato? Que graça tem chegar ao trabalho, depois do seu time ter vencido, e não tirar um sarro de alguém? Que graça teria os programas esportivos, se não houvesse as discussões, as polêmicas? A bola entrou ou não? Nenhuma graça. O futebol subsiste em razão também das discussões.

Quando saio à rua com a camisa do meu time, sempre alguém irá dizer algo, ou me chamar somente de “o palmeirense”. Gosto disso. Aproxima, trás a conversa, cria-se intimidade, cria-se amizade... Não tenho essa paixão desvairada, e quando é para falar mal eu falo, até por qual eu torço. Teimo ainda, as famílias deveriam ser formadas por membros com torcidas opostas. A discussão no futebol deve existir num ambiente saudável, sem brigas de arquibancadas com fraturas expostas. Abomino as brigas e louvo o futebol com discussão de pontos de vista.

Religião
No campo da religião, não há o que discutir. Todas têm razão. Faça uma experiência, se você entrar em algum templo - que nunca foi -, sairá de lá convencido que aquela é a melhor doutrina a seguir, o melhor lugar para frequentar. Nos novos templos, não te deixarão sair sem esse convencimento. Eles irão recebê-lo com sorriso na porta, como se você estivesse entrando numa agência bancária. É uma disputa por fiéis, e porque não, também por poder. Deus é a maior moeda que reina no mundo. Todo mundo quer vendê-lo à sua maneira, até porque não é visto por aí dando explicação de Sua existência, embora todo mundo busque para suportar sua própria cruz. Em troca dessas graças, provará sua fé, em muitos casos, com seu dinheiro.

Tenho amigos de outras religiões, ou que seguem algumas doutrinas. Resumidamente, cristãos e espíritas. Algo contra? Nenhum. Há gente boa em qualquer religião; há gente boa sem religião nenhuma também. A religião não é o termômetro que mede a bondade ou a maldade humana. Há gente fazendo coisas absurdas em nome de Deus; como o traficante que lia a Bíblia e empunhava um fuzil em outra mão, quando dava entrevista à jornalista. E dizia: eu sou cristão, leio a Bíblia.

Na linha do extremismo, temos o islamismo muçulmano, pouco conhecido por nós ocidentais, mas já vimos fazer barbaridades por sua causa, sua fé. O que dizer deles? Estão fundamentados em culturas que não chegam até nós. Respeito sem tocar.

Eu tenho a minha – Católica Apostólica Romana – e não fico tentando convencer ninguém ter aulas de vida com padres é melhor do que pastores ou rabinos. Para mim é uma questão, antes de tudo, de respeito à minha formação, à memória de meus pais, às tradições dos cultos que aprendi com eles e seus antepassados. Em ter que confrontar com certas regras dentro da igreja, procuro extrair o que é bom. Gosto de ir à missa, preferencialmente aos domingos pela manhã. Sinto-me bem, vendo a igreja naquela comoção de oração e cânticos sem fim. Deus está ali, não tenho dúvida.

Houve o tempo que as missas eram chatas, com padres velhos que falam coisas que não entendíamos. Os ponteiros do relógio demoravam a rodar. Hoje as missas melhoraram no aspecto de tratamento aos fiéis, com acolhida. Mais conforto, padres modernos e que estão nas redes sociais, sorridentes. Missas, cultos, reuniões e Deus; com humor, graça, devoção e fé.

Mulher
Uma amiga polarizou uma discussão comigo (pra que discutir com madame?). Quem é mais bonita, Jennifer Aniston ou Angelina Jolie? Coincidência ou não, uma esteve e outra está nos braços do mesmo homem. Ele poderia dizer melhor do que nós. Bem, ela teimou em Angelina e disse que Brad fez a melhor escolha. Pode ser verdade, mas até onde posso extrair (com os olhos), parece-me que Angelina tem uma beleza estática, retilínea, opaca; uma pintura de quadro, de uma Monalisa do século XXI. Apesar de ser linda, acho um tanto aplacada. Já em Jennifer, eu vejo aquela coisa da beleza em movimento, graciosa e cheia de charme. Se for mal-humorada ou não, não posso dizer. Só a vejo em suas comédias; e ela só afaga meus olhares.

A beleza e seu padrão são universais, como podemos ver no concurso de Miss Universo. Não existe beleza diferente, em países diferentes, hemisfério diferentes, regiões diferentes, continentes diferentes... O padrão de beleza é mesmo universal. E a beleza está na mulher e com a mulher. O concurso de Mister Universo não tem o mesmo peso do Miss Universo. Por quê? Tanto os homens quanto as mulheres preferem o padrão de beleza feminino. Ou, alguém já viu um bando de mulheres se reunindo em casa, com cerveja e petiscos, para ver Mister Universo? Acho que as TVs nem transmitem. Homem não discute sobre homens belos. Por que ele vai ater-se, se ele pode apreciar obras mais bonitas, as mulheres?

Agora, não há "beleza interior", porque beleza está no olhar. Segundo o dicionário Larousse: Be-le-za, sf (belo+eza)1 Qualidade do que é belo, conforme um ideal estético. 2 Harmonia, perfeição de formas. 3 Mulher bela, sedutora. Aquilo que adoça os olhos. Não vemos (com os olhos) o coração; sentimos com o coração, o coração. Portanto, não existe beleza interior. Beleza é aquilo que se vê; não o que se sente.

Outro exemplo, quando olhamos uma flor linda no jardim; iremos admirá-la por sua beleza e não pelo que tem em sua seiva. A beleza é a primeira coisa que nos chama atenção. Se há num jardim, uma rosa linda e uma touceira de alcachofra, ninguém prestará atenção na "beleza interior" da alcachofra (que faz bem à saúde); iremos olhar primeiro a flor que está ao seu lado... Não existe beleza interior nas pessoas; existe a bondade, o que também não deixa de ser uma atração. Beleza não é sinônimo de bondade, embora alguns dicionários ainda tratem tudo na mesma etimologia.

Acrescento à beleza, charme e bom-humor (já escrevi em outro texto). Uma mulher bonita deve ter o andar bonito, com charme e elegância; seus olhos (azuis, negros, castanhos, verdes esmeralda...) devem olhar com sedução e resplandecer; ao se expressar, deve falar e sorrir com a mesma boca, como se ouvisse a piada mais engraçada do mundo. Quando fazia ensaios de cenas para seu último filme - não terminou - "Something's Got to Give", Marilyn Monroe andava pelo set e ria com gargalhadas para a câmera; sem motivo aparente, apenas porque era focada e nada do que expressava serviria ao filme. Era só um teste de câmera. Era seu momento de luz e esplendor.

No conjunto da beleza, formará um grande ser humano, se além de tudo isso, tiver a bondade em seu coração, a "beleza interior". Tem algo mais para discutir?

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Discussões sem fim

“Vamos acabar com o samba
Madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que o samba é vexame
Pra que discutir com Madame”

Por duas semanas seguidas, o Professor e filósofo Luiz Felipe Pondé repetiu o tema em sua crônica semanal no Jornal Folha de São Paulo. Qual era o tema? A beleza. Alguém, a quem chamou de “corretinhos”, o pautou na semana anterior, não anuindo sobre o que disse. Pondé tem uma escrita que aprecio. Ele escreve com o dicionário da lógica ao lado. Coincidência ou não, escrevi sobre a beleza também e volto escrever de novo.

Há discussões que são homéricas e podem parecer que não levam a lugar algum. Mas não deixa de ser prazeroso discutir certos tabus. Há pontos de vistas diversos. É só ler os comentários, sobre qualquer assunto, das pessoas nas redes sociais e noticiários na internet e verá os diversos pontos de vista. Poderá até mudar sua opinião em frações de segundo.

O Facebook criou uma ferramenta interessante que é o “curtir”. Se você gostou do que o amigo escreveu ou postou, você clica “curtir”- com o polegar para cima. Já o “não curtir” não existe. Claro que não deve existir. Se você não gostou, não precisa dizer, é só desprezar, ainda mais porque irá entrar em quintal alheio.

Meu próximo texto que deixarei aqui no Blog (com área para comentários) vai tratar de três assuntos polêmicos: futebol, religião e mulher. Claro, sob a visão deste escriba e de nenhum outro. Uns poderão dizer “curti”, outros poderão me mostrar o polegar para baixo. Fazer o quê? Ainda não consigo ser unanimidade. Sexta-feira neste Blog: Futebol, religião, mulher...

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.

domingo, 16 de outubro de 2011

Com quem será?


Não existe lugar melhor para levantar assuntos polêmicos do que uma mesa de bar. Ali se deixam opinar; não existe censura ou repressão, e muitas vezes há choros — com revelações surpreendentes. Um verdadeiro divã para psicanalista; e nem precisa de uns goles a mais, as palavras brotam por si só.

Outro dia, numas dessas conversas de botequim, quando falávamos sobre educação e criação de filhos (havia pessoas conhecedoras do assunto), veio a mim uma questão que expus. Por que virou costume em festas de aniversários, além do “parabéns a você”, cantarem o constrangido hino “com quem será”? Digo que é constrangedor, porque os puxadores se esquecem de que estamos ali para homenagear, celebrar e não constranger alguém. Se for mulher ou homem, casado ou solteiro, adulto ou criança; não importa, será escarnecido. Ou, pagará o mico. Para muitos, não passa de uma brincadeira, mas nem sempre é assim. No caso da criança, é uma forma de bullying (intimidação). Por que não?

Quando era criança, nas festas infantis, havia tão somente o “parabéns a você” seguido de um grito uníssono do “pra fulana nada? Tudo! Então como é que é. É pique, é pique, é pique é pique. É hora, é hora... Rachi bum, fulana, fulana!” Pronto, o aniversariante era homenageado, saudado, ovacionado; e não constrangido no dia do seu aniversário.

Quando chegou a era do “com quem será” — não me pergunte quem criou essa tolice —, presenciei algumas festas infantis. A criança, roxa de raiva ao ouvir aquilo, escondeu-se embaixo da mesa; houve casos onde ela saiu correndo, procurando um buraco para se enfiar; em muitos, ela fazia sinal negativo com o dedo; com gargalhadas dos convidados, inclusive dos pais. Isto é penoso demais, é coação. Não só isso, mas a incitação à precocidade, de aos 10 anos de idade, ter que cumprir aquilo que ainda não está no seu script: corresponder-se sentimentalmente e sexualmente com a garotinha que está na ponta da mesa. É pior que o despejo de ovos na cabeça no portão do colégio.

Até os meus 12 anos, ainda tinha hábitos infantis, como empinar pipas, futebol de rua, carrinhos, esconde-esconde, pega-pega; brincadeiras verdadeiramente infantis. Não era cobrado por ser adulto. Mesmo quando entrei definitivamente na adolescência – com um pequeno trauma de deixar a infância, como muitos – fui respeitoso com esse processo. Somente nos meus 15 anos, eu comecei a interessar por alguma menina. Disse interessar, isso não quer dizer que a abordei ou a encostei na parede tentando arrebatar-lhe um beijo. Além do que era tímido.

Psicanalistas irão dizer que a sexualidade já está no ser humano nos primeiros dias de vida. A sexualidade e não o sexo, diga-se de passagem. Como a necessidade de se alimentar ao levar os dedos à boca; são descobertas. Mas estimular o sexo, pulando etapas, poderá gerar um choque na formação do indivíduo. Não sou estudioso, mas é o que penso. Abomino essa precocidade.

Faz um ano li nos noticiários, que o governo brasileiro, não sei precisar qual ministério, queria disponibilizar nas instituições públicas de ensino, máquinas para distribuição gratuita de preservativos. Recentemente, vi que a ideia absurda, ainda está em pauta. Como já disse a amigos, mais uma vez o governo quer entrar em nossas casas para dizer como devemos educar nossos filhos, na vida sexual também.

Poderão alegar o crescente número de adolescentes grávidas. Mas isso não é a melhor maneira de diminuir o risco; sim, pode ter o efeito contrário, estimular o sexo numa idade onde não existe o preparo. Volto ao que já venho afirmando, a família deve sim orientar e educar nesse tema; pais (casados ou divorciados) devem educar seus filhos nas questões e tabus sobre sexo.

Imagina uma máquina dessas na frente de um pré-adolescente, ali nos seus 12 anos de idade. Ele ficará constrangido em ter que apertar o botão da máquina na frente da plateia de amigos. Se apertar, ficará constrangido por ficar com o envelope guardado na mochila por muito tempo; irá querer usar, ou será intimidado por outros a ter que usar. O mesmo ocorrerá com as meninas. No fim, as escolas virarão um atalho obscuro ao sexo precoce e sem limite. Com permissão.

Depois dessa infeliz atitude, não ficarei surpreso, se obrigarem as escolas a terem salas para tratarem necessidades sexuais dos alunos; com luz ambiente e música para relaxar. Isso é pior que “com quem será” nas festas infantis. E haverá pais que ainda acharão graça, como fazem vendo seus filhos sendo constrangidos em frente ao bolo de aniversário.

O sexo, assim como o amor, deverá ser aflorado naturalmente em qualquer indivíduo, como um sol que raia o dia em meio à escuridão. Sem o intrometimento e a imposição das vozes de um “com quem será”. É preciso respeitar as crianças e a infância.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Misoginia


Foi instantâneo. Ontem, quando entramos num restaurante, ao deparar com a mesa ao lado, com pelo menos uns oito homens (só eles), lembrei-me de um texto, publicado no jornal Folha de São Paulo em 2005, da escritora Danuza Leão. Eu não sabia o que significava Misoginia (sf (miso1+gino+ia1) Med Antipatia, aversão mórbida às mulheres. Antôn: filoginia.). Quando vi a cena, comentei com uma amiga. Depois fui encontrar o texto, segue abaixo:

Na semana passada fui jantar com um amigo num restaurante elegante do Rio, e tivemos que esperar no bar até que vagasse uma mesa. Fiquei, então, prestando atenção: havia três mesas redondas, cada uma delas com seis homens. Seis; todos bonitos, elegantes, alguns famosos e cobiçados , nenhum gay.
Um jantar de seis, num lugar em que é preciso reservar mesa, não se combina meia hora antes, tipo "está fazendo o quê? Vamos comer alguma coisa por aí?".
Não. Um jantar de seis é organizado com alguma antecedência, vários telefonemas são dados para saber se todos estão livres, se estão de acordo quanto ao local, marcam a hora, um deles telefona para fazer a reserva -é uma produção, praticamente.
Eu e meu amigo tomamos dois drinques no bar, com toda a calma; quando vagou uma mesa, nos sentamos, houve o momento -longo- de escolher o vinho, pedimos uma entrada, o prato principal, sobremesa, depois veio o café, a conta, e fomos embora. As mesas continuavam animadíssimas, os rapazes conversando e bebendo. Voltei para casa pensando no assunto e fui ao dicionário buscar a palavra na qual estava pensando, para ver se ela estava certa: estava. Existe um tipo de homem que prefere a companhia de amigos a estar com uma mulher; são os chamados misóginos.
Segundo o dicionário, misógino é aquele que tem aversão a mulher. Talvez aversão seja um exagero, mas que eles -nem todos, nem todos- estão preferindo sair entre eles, viajar entre eles, conversar entre eles, sem uma só mulher por perto, é um fato incontestável. Como tenho muitos amigos homens, comecei a fazer uma pesquisa básica para saber o que está acontecendo e obtive vários tipos de resposta; algumas bastante francas, outras nem tanto assim.
Um deles se assustou e disse que não é seu caso; que tem várias amigas e adora sair com elas. Amigas, tipo amigonas. Com elas podem falar do que querem, não são censurados se fizerem um comentário sobre a gata da mesa ao lado, se disserem que não têm paciência para namorar.
Outros foram mais claros: quando saem para jantar, tipo três casais, as mulheres implicam entre si, uma diz que a outra estava dando bola, que aquele decote é coisa de piranha; na ida para casa vão falando mal das duas outras, que o casal tal não está tão bem assim, e a ladainha vai até a hora de dormir. Fora, é claro, a complicação na hora de escolher o que comer: isso engorda, sobremesa nem pensar, beber nem por hipótese, pois têm ginástica na manhã seguinte. Por tudo isso, preferem sair com os amigos. Alguns disseram que viajar com mulher nem pensar, que elas só pensam em comprar e que não têm assunto. Já quando estão entre eles, a conversa rola solta, e às vezes falam até de mulher -mas do jeito que eles gostam.
Enquanto isso, elas estão em casa, sem ter o que fazer, repetindo o mesmo refrão "não tem homem na praça". Ter tem, só que eles preferem sair sem elas. Durma-se com um barulho desses.
Lembro de um tempo em que os homens faziam qualquer coisa para sair com uma mulher e diziam galanteios nas mesas de bar, no mínimo para chegar onde queriam: na cama. Se não conseguissem, continuavam tentando, com a mesma ou com outra, e achavam um prazer estar com uma mulher; um prazer acima de todos os outros.
Pobres das mulheres de hoje em dia. As mais modernas, quando estão sozinhas, saem em grupo, mas só têm um assunto: homem. E ficam olhando para as mesas em volta para ver se pinta um olhar, uma paquera, uma possibilidade qualquer. Mas há séculos um homem não manda um torpedo para a mulher da outra mesa; e se algum mandar -e colar- que tudo aconteça rápido, de preferência sem muita conversa.
Por isso, minha amiga, antes de se apaixonar de novo, repare bem se seu objeto de desejo curte estar com uma mulher ou se passa a vida em turmas de homens.
Porque se ele for um misógino, você pode até se casar, o casamento pode até durar, mas estará condenada a passar a vida com uma aliança no dedo mas, a maior parte do tempo, só.

Danuza Leão , publicado na Folha de São Paulo em 30/10/2005.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As feias e as belas

Uma das constatações mais verdadeiras é a falsa amizade entre duas mulheres... Pronto! Lá vem um exército de feministas me apontar: você é um machista! Nada disso, sempre acreditei e continuo. Claro que falo daquelas grudentas, siamesas. Já disse isso, várias vezes, a elas mesmas, e nenhuma me contestou ou colocou um “ops!” sobre esta observação. Algumas até reforçaram a tese; outras se calaram e olharam de esguelha, a lembrar-se (com ódio) de alguma falsa amizade que vivenciaram.

Na época da faculdade, eu e um amigo, fazíamos apostas para ver quanto tempo duraria uma amizade entre duas inseparáveis criaturas do sexo feminino. Toda vez que uma declarava amor eterno à outra, nossos olhares se procuravam por trás das cabeças, para um risinho disfarçado e incontido. Na maioria das vezes, aquela paixão de super amiga pra cá, queridinha pra lá, durava até uma delas se interessar por alguém - por um homem - que a outra também se declinava. Ou simplesmente, quando uma não concordava com o ponto de vista da outra; ou por inveja da beleza, dos sapatos, do vestido, dos brincos, das outras amizades. Ia se arrefecendo, sem ressentimento; e tudo se transformava num simples “oi”, quando se cruzavam pelo corredor.

Iremos nos defrontar, com alguns casos de amigas que, surrupiaram parceiros de outra suposta amiga. Acontecem ainda. O mesmo não ocorre, na mesma frequência, com os homens. O código da ética masculino não deixa chegar nesse ponto. Homens são mais corporativos; eles preservam-se mais nas amizades, deixando a coisa não entrar em total intimidade. Baseiam o rito da amizade, em conversas sobre futebol, corridas, trabalho, jogos de sinuca... Um homem não vai dar em cima de outra mulher, que esteja no vácuo de um amigo próximo (isto não é uma regra, e tem suas exceções). Homens também não vão conversar, em mesas de bar, sobre suas intimidades com uma mulher, que já virou parceira, companheira. Eles irão contar, muito pouco, se for uma “ficante”, ou sobre um sexo eventual com algum objeto de desejo. Eles não se interessam por ficar falando sobre intimidades.

O mesmo não ocorre com as mulheres. Ela irá contar como foi a última noite com o marido, ou namorado. E conta em detalhes para suas amigas. Depois de vender o seu parceiro às amigas, não quer que elas passem a olhar o rapaz, sem pensar nas suas performances, que ela mesma descreveu. Está a um passo para um desfecho com brigas de puxar cabelos e unhadas acima da cintura. Quase sempre, quando isso ocorre, perderá a amiga e o parceiro.

A amizade grudenta entre duas mulheres não é tão duradoura, porque elas vivem em concorrência; disputa em ser a mais bem aceita nos ambientes que frequentam e por holofotes, quem brilha mais. Não me julguem por querer chutar a canela de alguém, há diferenças antagônicas entre os sexos. Homens e mulheres vieram de galáxias distintas, já disseram alguns escritores da área comportamental. Mulheres com defeitos e homens também. Homens travam lutas e disputas iguais, principalmente em ambientes de trabalho.

Já ouvimos dizer por aí que, mulheres não se vestem para agradar o parceiro e sim para ser observada (invejada) por outra mulher. Algumas concordaram nesta tese também. Um homem – nem todos – não irá reparar no cabelo, nas unhas, nos sapatos, no vestido... Ele resumirá o conjunto todo em: você está linda! Pronto, acabou. Já a outra, esta irá medi-la de cima embaixo, dividindo-a em partes; e mesma a mais bonita, irá observar o que a outra não tem de si que a torne tão atraente.

- Sou mais bela! - Dirá ao espelho do banheiro feminino.

Em seu poema “Receita de mulher”, Vinícius de Moraes causou furor, quando afirmou logo na primeira frase:
“As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental”.
Segue depois, em sua receita, numa repetição exaustiva de “É preciso”; como um desejo ansioso, incólume da mulher ideal, com predicados de santa no altar. Destaco outro:
“Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras / É como um rio sem pontes. Indispensável”
Talvez, uma mulher nunca saiba que, um homem irá observar se tem ou não saboneteiras. Parece tosco para elas, mas esse olhar é o masculino e não da amiga invejosa; como ter pés e mãos delicadas. Alvos, impecáveis e banhados em sândalo; sem marcas, calosidades; perfumados com ervas aromáticas (Pés e mãos devem conter elementos góticos. Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos). Isto não quer dizer que tenham, necessariamente, esmalte e cutículas em dia; mas têm que ter a delicadeza alva. Já vi pés lindos sem ornamentos, somente a tez alva, quase transparente.

Nessa receita do poetinha, com tantos ingredientes, faltou dizer com que tempero. Ou seja, o melhor da receita ficou fora; o tempero final é o que dá sabor em tudo. Entenda tempero, como humor e simpatia.

Sob essa ótica da beleza feminina, uma notícia repercutiu por esses dias. A ministra Iriny Lopes, titular da pasta da Secretaria de Políticas para as Mulheres, entrou com pedido junto ao Conar — órgão que regula a publicidade nos veículos de comunicação —, solicitando a retirada do ar de uma série de comerciais sobre lingerie, protagonizados por Gisele Bündchen. Num dos filmes que vi, Gisele usa uma lingerie preta e termina com a frase “Você é brasileira, use seu charme. Hope, bonita por natureza”. O que há de apelativo no filme? O que há de ofensa à mulher? Nada! O que incomodou a ministra foi a beleza de Gisele, só pode ser! Talvez, a ministra — que já não cabe na receita de Vinícius — sentiu-se ofendida por alguém ganhar dinheiro trabalhando, por causa da sua beleza; já Gisele é uma receita farta, com ingrediente que sobeja até Vinícius. Em porções exageradas, como um extravagante banquete de mulher. E não lhe faltam saboneteiras.

Nada de errado com os não-belos. Os belos tiram proveito, como os feios também podem tirar de sua aparência. Podemos enumerar personagens de filmes e séries, onde os que chamam atenção são os feios. Os personagens Shrek e Fiona, são ogros e feios demais para atrair tanto público aos cinemas, e atraem. O que há com eles? Apesar de tudo, são engraçados e simpáticos. A beleza pode estar incutida nas pessoas. Há luzes que emanam delas; a forma assimétrica de um rosto será ofuscada pelo brilho dos olhos. É claro, há aqueles que são completos: belos e charmosos.

A senhora ministra deve ter sido daquelas que, durante a faculdade, desfez suas amizades grudentas, por disputas e discórdias; por ter alguma amiga que atraia mais atenção para si. Despeito? Sei lá. Volto ao poeta, me perdoe, senhora ministra, porque beleza continua sendo fundamental.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / outubro de 2011.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Praquí, pracá, pralá...cadeira, cadeira, cadeira...

O Blog anda preguiçoso, eu sei. Os temas são muitos, infinitos. Saio nas caminhadas e vem sempre algo novo para trazer aqui; às vezes, alguém vem me dizer: olha este tema, sai uma crônica... Sai sim, claro que sai. O próximo texto que escrevo “As feias e as belas”, é um tanto polêmico. Algumas mulheres vão me chamar de machista (odiar), eu sei. Saibam que não é meu objetivo, mas para chegar ao assunto, ser belo ou não, vou ter que por o dedo na ferida, com algumas teses que tenho. Podem ser bobagens, mas elas existem em nossas vidas. Homens e mulheres são de galáxias diferentes, com suas diferenças na forma de encarar a vida. Nenhuma novidade.

Fiquei indignado – como muitos brasileiros - quando a ministra Iriny Lopes, titular da pasta da Secretaria de Políticas para as Mulheres, pediu para retirar uma propaganda do ar por suposta ofensa às mulheres. A estrela do filme é nada mais nada menos que o ícone da beleza brasileira, a modelo Gisele Bündchen.

Em seu Blog, o jornalista Reinaldo Azevedo, comparou a cena com Gisele – de lingerie – com a cena protagonizada pela cantora colombiana Shakira no Rock in Rio; estariam na mesma situação: uma mulher linda e insinuante. Nada mais.

Da apresentação de Shakira, a cena que mais me chamou atenção foi a que tenta ensinar algumas brasileiras, que escolheu da platéia, a dançar descadeirando, ou como ela chamou “Praquí, pracá, pralá...cadeira, cadeira, cadeira...e vai, e vai, e vai, e vai...”. Hum, foi a melhor cena do Rock in Rio. A ministra, poderia achar aquilo também um afronta à mulher; insinuante, incitante, provocante aos homens. Mas não disse nada. As pobres coitadas, Gisele e Shakira, sofrem do mesmo mal: beleza e talento. Isso incomoda.
© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / abril de 2011.