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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Deus e as enchentes

Quando assumiu o gabinete presidencial, uma das primeiras providências da Presidente eleita Dilma Rousseff, foi pedir para retirar um crucifixo da parede e a Bíblia sobre a mesa, conforme noticiou o jornal Folha de São Paulo em 09 de Janeiro. Logo depois, o Palácio do Planalto tratou de remendar, dizendo que, os objetos foram retirados porque pertenciam ao mandatário anterior. Olhando por este lado, não vejo nada de anormal e acho justo; imaginando que, sendo ela uma cristã católica, iria providenciar imediatamente o seu próprio crucifixo e sua Bíblia. Nada! Até agora não li uma linha que tenha tido tal ato que demonstre sua fé. De verdade, ela não quer saber mesmo de religião em seu governo. Deus não entra ali.

Quando vem à tona esta polêmica entre Estado e religião, os entrincheirados esquerdopatas já estão armados: o Estado é laico; por isso deve manter-se longe da religião e governar com isenção às crenças religiões... Já me manifestei algumas vezes sobre isso, minhas visões vão além do Estado independente e soberano; as Leis Divinas também estão incutidas na sociedade, na família e penso que elas se fundem nas próprias leis humanas, onde os governos atuam. Não há mal em Deus.

Durante seus dois mandatos, Fernando Henrique nunca se incomodou com tais objetos em seu gabinete e não me lembro de ter pedido para retirar quaisquer símbolos religiosos da sua frente - governou com eles. Por respeito? Sei lá. E dizem que ele é o verdadeiro ateu.

Nos EUA, já muitas eleições - desde George Washington (1789) -, quase todos os presidentes, na cerimônia de posse, fazem o juramento ao governo sobre a Bíblia. Aconteceu com o presidente Barack Obama – antes mesmo, uma discussão polêmica cercou os noticiários que ele iria quebrar tal protocolo -, contrariando, ele fez o juramento repetindo o mesmo gesto sobre a Bíblia de Abraham Lincoln (1861). A utilização da Bíblia não é prevista na Constituição norte americana, mas é uma tradição seguida por quase todos os presidentes desde George Washington. Não sei qual a religião dele (Obama), mas o louvo por não fugir à tradição. Não lhe custou nada, seguir um velho costume americano, nada mesmo. Respeitou as crenças do seu povo.

Não tenho nada contra o ateísmo, embora não me lembro de conviver muito perto com pessoas dessa “crença”. Talvez, porque sejam mais comedidas e menos fervorosas quando pregam; e por isso, não as veja por aí “evangelizando” ninguém. Entendo somente, ser muito pobre em acreditar no nada, ou, como ouvi uma vez de um colega de profissão numa reunião de trabalho, “só acredito naquilo que meus olhos vêem...”. Natural, mas viver sem crenças, além dos olhos humanos, é um vazio enorme, a negação da própria alma – pensei - sem me manifestar.

Esquerdopatas remanescentes do comunismo vivem nesse mundo polarizadoentre Deus e o “nada”, e para isso se carregam da tese conduzida por um de seus mestres: “religião é opio do povo”. A fim de se justificar que não devemos misturar alhos com bugalhos; aí, eu devolvo ao condutor da frase: “suas ideias são os verdadeiros ópio do povo”. Suas teorias naufragaram. As religiões ajudam a formar boas famílias; e elas a sociedade.

Diante das enchentes que vêm devastando o país, exclusivamente a Região Serrana do RJ, a pergunta que faço, não tem a ver com as ocupações irregulares da população – que já são discutidas sistematicamente por toda a imprensa. Pergunto: O que Deus tem a ver com isso, com as tragédias? Creio que seja tudo! Especialistas disseram que a quantidade de chuva veio numa proporção igual ao mesmo período em outros anos. E pelo que sei, chove desde que o mundo é mundo.

As ocupações irregulares e o mau uso do solo urbano estavam no caminho da tragédia, dos deslizamentos – tudo às vistas do poder público que nada fez para desocupar essas áreas, o que chega a ser óbvio também neste país. Por outro lado, é fato que, os deslizamentos de terra ocorreriam, com ou sem gente morando lá; choveu e as águas arrastaram o que havia pelo caminho. Deus também entra nesse território - quando também não está - na forma de ajuda, compaixão, solidariedade e comoção das pessoas.

Enquanto escrevo estas linhas, são 809 mortos e 469 desaparecidos, estes que, ficarão ali nos escombros enterrados. Na sexta-feira, pós-tragédia, o jornalista Ricardo Boechat, disse, num tom de indignação que, o exército brasileiro levou mais de 48 horas para chegar à região, por questões burocráticas. Não fosse ajuda de voluntários e outras corporações militares locais, muitas pessoas outras, teriam morrido.

O país, que se prepara para tantas festas como Copa do Mundo e Olimpíadas - anunciadas com abraços, champanhe e politicagem -, não está preparado para remediar e socorrer pessoas em tragédias dessa natureza. A leniência, a omissão e o descaso têm sido a tônica nesses últimos anos de governo. Há muita dureza nos olhos, desrespeito, falta amor, compaixão e falta de Deus. Em outra ponta, no apagar das luzes do seu governo, o ex-presidente abastece com abundância seus familiares com passaportes diplomáticos ao arrepio das leis e torna um de seus filhos, um empresário bem sucedido e milionário. Tanta desfaçatez.

Aconselho nossa Presidente, como católica que diz ser, a voltar com o crucifixo e a Bíblia ao seu gabinete; e rezar mais. Contra as forças da natureza (de autoria Divina) não podemos nada, ou quase nada. Nem mesmo o Estado brasileiro pode. Ela tem feito as suas rezinhas - como já disse - quando o avião balança; tem acreditado em nossa senhora de “uma forma geral” (uma nova santa desconhecida do povo); precisa agora acreditar de fato que, só através da verdade e do amor – está em Deus - irá conduzir melhor esta nação. Ou - o que me parece mais provável -, assumir a verdade que também só acredita no que seus olhos vêem.

Não tenho dúvida, Deus vive se comunicando conosco, inclusive nas tragédias. Por esses mesmos sinais, Noé resolveu um dia entrar na sua Arca... A enchente é só Deus descontente, nada mais. Não consigo imaginar uma nação soberana, desenvolvida e sem crença, como querem. “Feliz a Nação que tem o Senhor por seu Deus, e o povo que escolheu para sua herança” – Salmo 32.12. Está lá no livro, que estava sobre a mesa.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / janeiro de 2011.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pão com manteiga


Um dos atores, hollywoodiano e contemporâneo, dos mais talentosos é Tom Hanks. Nos filmes em que atua, não me perco em ler a crítica antes; sento para ver, já sabendo que vai me prender do começo ao fim.

Faz um tempo, li uma entrevista que concedeu às páginas amarelas da semanária Veja. Ao ler o que pensa sobre a carreira, a fama, a vida e seu modo de escolher os filmes em que atua, extrapolei minha admiração, agora também é pela pessoa. Ele é um sujeito modesto, familiar, que até acha um despropósito os cachês que recebe pelos filmes; considera que há outras profissões que mereçam muito mais. Hoje, se dá ao luxo de escolher seus papéis só porque fará um bom personagem, sem se preocupar com o destino do filme; fugindo dos roteiros comerciais e dos mocinhos caricatos, enfadonhos, e assim justifica: “... nunca tive um tipo físico que me permitisse encarnar o Super-Homem”. No final da entrevista, ainda tece rasgados elogios ao diretor brasileiro Fernando Meireles pelo filme “Cidade de Deus”, e confessa: “vi o filme com atraso, há poucas semanas, e estou até agora atônito”.

Dentre os filmes, de sua brilhante carreira, cito o exuberante “Forrest Gump — o contador de histórias” — 1994. Nessa trilha, Hanks é Forrest, uma criatura ingênua, pura, ausente de picardia, cinismo, e com um QI abaixo da média das pessoas ditas normais. Toda sua inspiração e os conselhos que leva para vida são os da própria mãe, a quem sempre citava por suas frases: “A vida é como uma caixa de bombom, você nunca sabe o que vai encontrar”. Forrest narra as suas próprias histórias, ou, se coloca como centro das histórias de “coadjuvantes” ilustres como: Elvis Presley, John Lennon, John Kennedy e Richard Nixon. Sentado num ponto de ônibus, esperando uma condução que parece nunca chegar, Forrest fala e fala...

Da sua infância, vem o primeiro amor, digo, o único amor por Jenny. Uma menina que parece ser a única, além de sua mãe, que o vê como uma pessoa normal; e o aceita com seu jeito desengonçado, tentando andar dentro de um par de botas ortopédicas. Ao falar sobre Jenny e de como a conheceu dentro do ônibus escolar, Forrest enaltece: “Nós éramos como pão com manteiga...” — uma versão em português para peas and carrots. Na sua forma mais simplista e pueril, queria dizer: éramos inseparáveis, um não vivia sem o outro, unha e carne, corpo e alma... A versão dada em português foi o que deu grandeza na descrição do que era sua relação com Jenny.

Pão francês com manteiga é uma delícia; e a manteiga é sempre na medida: nem mais, nem menos. E fica mais gostoso passar nas duas abas do pão, depois dobramos e comemos uma aba por vez, com café e leite. A manteiga sem o pão é detestável, quase nenhuma utilidade, às vezes serve para untar forma de bolo; o pão sem a manteiga é sem gosto, incompleto. Não há valor, um sem o outro. São complementos. Assim, como dizer, arroz com feijão, na nossa culinária. Tudo é mais gostoso e saboroso quando estão juntos: manteiga no pão. O café colonial é farto, nos enche os olhos, mas nos perdemos em tantas variedades; já o pão com manteiga não comemos com os olhos, é o que temos para comer naquela hora, no dia-a-dia e nos saciamos também.

Assim, era na entrega, como Forrest vivia seu amor, que durou a vida toda — ou pelo menos até o final da trama —, sem cobrar de Jenny a reciprocidade. Era incondicional da sua parte. “Posso não ser inteligente, mas sei o que é amar...”, disse ele quando a pediu em casamento. Ele sabia o que estava dizendo, sobre as duas coisas. Após anos sem vê-la, ele a encontra numa vida mambembe, em más companhias e enfiada nas drogas. Mesmo assim, ela o reconhece e respeita, ao enxergar pela única fresta que restou da sua vida, o amor — o único que teve. O tempo poderia passar; o vento esvoaçar as cortinas da sala, bater as portas, mas o amor estava lá, guardadinho, prontinho para viver. Forrest amava como uma criança e agora ela sabia e desejava este amor.

O espírito de Forrest, nesta parca analogia, nos trás à reflexão: onde estão nossos verdadeiros valores? Na fartura ou na simplicidade de viver o dia-a-dia? E como ansiamos, muitas vezes, combinações mais caras, ou com maior valia — pela abundância. Quando, um simples pão com manteiga, também mata a fome — a fome de amor. Talvez, estejamos errando aí, quando buscamos a perfeição nas relações, ambicionando riquezas que as traças comerão um dia. Na gíria futebolística chama-se “jogar o arroz com feijão”; onde se ganha o jogo da vida, sem muitas ambições e jogadas de mestre. Um não é melhor que o outro e o placar a favor é sempre com score baixo. Quando os dois jogam juntos, o amor sempre vencerá. Relacionamentos sem ciúmes, sem intrigas e cobranças, caminhando num mesmo sentido, são fadados a ser por toda a vida. O universo conspira.

Talvez, se forçarmos a memória, encontraremos casais que vivem o “pão com manteiga” — dá para contar nos dedos —, caminhando juntos e construindo tijolo com tijolo, um lar, uma família... Nos seus horizontes projetados, a grande ambição é sempre manter acesa a chama do amor; regando o jardim da vida que os uniu, onde cada um segura em uma das alças do regador, enquanto espargem água sobre as sementes. Tudo num “pão com manteiga”, simples; e como Forrest e Jenny, inseparáveis.

Tom Hanks escolheu fazer Forrest, pelos mesmos critérios que sempre adotou: um personagem marcante; um personagem que deixou plantado em nossas mentes, de QI elevado, a confirmação que para amar só precisamos ter um amor e pureza dentro de si. O filme, ganhou naquele ano 06 Oscar dos 13 concorridos; inclusive o de melhor filme e melhor ator, para Tom Hanks.

© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / janeiro de 2011.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A escada


Um dia, o homem, por uma inspiração Divina, inventou a escada. Era mais uma descoberta: estar mais perto Dele, para alçar na vida, para diminuir os espaços na ocupação da terra, para melhor conforto... Depois, veio o homem da segurança, inventou o corrimão e o guarda-corpo. Há muitos, que passam a vida toda e nem escada constroem; e outros piores, que param na escada - mal acabada - sem corrimão e guarda-corpo. Há que se ter segurança, sempre nas subidas na vida. Um dia podemos cair. Que importância você dá e como tem construído sua escada?

Postado por Antônio - Janeiro 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Do outro lado da rua

Um poema perdido. Encontrei-o nos arquivos de um amigo. Não me pergunte como e porquê o escrevi. Foi um período de busca e auto-conhecimento.

Do outro lado da rua
Há um bem a esperar
Vi um lugar
Era  uma casa de sonhos
De quintal de estrelas
Vi vitrines de sapatos
Espiando o meu olhar
Vozes ecoam nos arredores
Do porão da casa
Balançam cristais
Em armários trancados
Quisera eu despertar
Antes do dia raiar
Não vai tempo para viver
Um dia trás outro
E outro...
E a aurora da vida
Rompe em meu peito
Tal qual um jardineiro
Irrigando suas flores
Na festa da colheita
Um amor, que não passará...
Deslizará sobre o rio
Onde lancei meu coração
Onde me fiz renascer
De amanhecer
Quando atravessei aquela rua.

© Antônio / 2005.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fim de férias

Estou no final das minhas férias — sem dizer que é merecida —, mas todos nós temos direito e não merecimento. Fiquei de férias um pouco do Blog também.
Como já falei, vivo das inspirações para tocar isso aqui para frente. Quando ela não vem — tira férias também —, os textos vão ficando minguado e os temas vão sendo recolhidos à memória, para não dissipar. Já juntei alguns.
Chove muito em janeiro, as praias lotadas, a cidade parada e muitas pessoas queridas ausentes (os amigos também tiram férias de nós), aí falta conteúdo para escrever. Confesso que, o máximo que li, neste período que se enseja daqui a uma semana, foi os habituais jornais e alguns poemas de Drummond, da sua antologia. Revi alguns filmes (nada de novo) e um pouco de futebol. Parece que o ano não começa se não houver futebol. Na Europa a coisa não parou para as festividades, pois dia 1º de janeiro rolou a bola nos gramados de lá.
À propósito dessa minha paixão, irei escrever um texto para elucidar e apresentar uma marchinha que compus com meu parceiro musical Eduardo Borges. Foi um hino em homenagem à torcida do São José Esporte Clube — meu segundo time.
Por enquanto, continuo a bajular os sobrinhos e reivindicar um passaporte diplomático também. Isto não é direito; é merecimento (risos). No resto é comer, rezar, amar.

Postado por Antonio - Janeiro 2011